Arte de rua luta por espaço

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

As calçadas se transformam em ateliês. As superfícies de concreto viram uma tela. Os muros de contenção que nos trazem tristes lembranças de uma tragédia, agora nos prendem a atenção com arte. O preto e branco do nosso dia-a-dia dá lugar a cores aos espaços que passavam desapercebidos e se encheram de vida.

A arte urbana (arte de rua; street art,), para quem não conhece, representa um conjunto de movimentos culturais que acontece nas ruas das grandes cidades do mundo. Muitas vezes ocorre de forma discreta, mas cria uma fusão entre a arte, o discurso crítico do cotidiano social e a paisagem urbana caótica.

É quase que instatâneo que muitas pessoas assemelhem a arte de rua ao grafite, que são os grandes murais pintados em pontes, prédios e encostas de concreto. Contudo, o que muita gente desconhece é que diversas linguagens fazerm parte dessa cultura que a cada dia cresce por todo mundo.

Seja através das rodas de rima, os grupos de dança de hip hop, os cantores de rap, as estátuas humanas, os malabaristas, os cartunistas, a poesia nas praças ou através da produção de música, esse nicho artístico se diversifica e cada dia mais nos atinge sem que, muitas vezes, sequer percebamos.

Em sua origem, a produção da arte urbana está estritamente ligada às minorias, à luta pelo racismo e ao combate às desigualdades sociais através de projetos que foram criados pelas minorias numa tentativa de terem as suas vozes ouvidas. É o que explica Douglas Santos, diretor do grupo Laborative, empresa de dança da cidade:

”Hoje, o conceito se ressignifica e atinge a sociedade como um todo, mas sem perder a essência da sua origem de luta. Sempre costumo dizer que o grafite passa uma mensagem crítica sem ter algo escrito, o rap dá o seu recado através de rima e a dança é uma mistura dos dois. Mas essencialmente melhor do que todos separados, são todos juntos ocupando os mesmos espaços.”

Engana-se quem acredita que produzir arte urbana é facil. Além de muito talento envolvido, muitas das exposições de arte fora das galerias e dos museus ainda sofrem com as barreiras daqueles que a consideram ilegal, vandala ou marginal. Há quem equivocadamente à atribua ao consumo de drogas ilícitas. Para muitos, nem é encarada como profissão e sim como ”bico”.

 O diferente por vezes choca e gera resistência da sociedade. O samba, um dos maiores movimentos culturais do Brasil, começou nos entornos das cidades, perseguido e classificada por muitos como arte de ”malandro”. E hoje, sediamos o maior carnaval do mundo, com milhares de turistas e geração de empregos. Ironia, não?

Romper as barreiras do preconceito é sempre uma tarefa árdua. Na nossa cidade há um interessante projeto que leva explicações, oficinas, intervenções culturais à escolas e comunidades de nossa cidade, chamado Icau, é o que explica João Pedro Marotti, produtor cultural, que desabafa: ”O projeto foi criado pelo Victor Fischer para romper as barreiras do preconceito e é feito através de um coletivo de artístas, contando com oficinas de beat-box, dança, dj’s e até a produção de murais de grafite nas escolas. Realizamos esse projeto sem nenhum incentivo financeiro público ou privado, por entendermos a necessidade da arte urbana serem expostas e rompendo os preconceitos.”

Eduardo Kobra é outro artísta que trouxe sua linguagem para as novas esferas do planeta e ficou extremamente famoso por seus murais expostos em grandes centros mundiais. O seu mural na zona portuária do Rio de Janeiro, entrou para os livros do recordes como o maior mural do mundo e encanta à todos pela beleza e pela mudança visual no local.

Fato é que todos os anos perdemos dezenas de artistas talentosíssimos, rumando aos grandes centros, devido a falta de incentivo à projetos culturais, de valorização e manuntenção de núcleos de arte, como é o caso do Teatro Municipal. Estamos perdendo grandes potenciais artísticos e acima de tudo nos tornando uma mera exportadora de talentos.

A conquista do espaço público, a coragem para protestar, a poesia em meio ao caos e a democratização da arte fazem parte da luta da arte urbana. Todas essas características aliadas ao potencial em contruirmos nossa cidade mais reflexiva, feliz, colorida e bela são fundamentais para nos destacarmos ”Além das Montanhas”.

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Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

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