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Papa: luta contra a economia criminosa – Parte 2
A Voz da Diocese
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Continuamos hoje com as considerações do Papa Francisco no evento “Plantar uma barreira diante da desumanização”, ocorrido no último dia 20 de setembro, em Roma, em meio as celebrações do 10º aniversário do 1º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (EMMP).
O grito dos excluídos
Competir cegamente “para ter cada vez mais dinheiro não é uma força criativa, mas uma atitude pouco saudável, um caminho para a perdição”, diz o papa, que considera este comportamento “irresponsável, imoral e irracional”, porque “destrói a criação e divide as pessoas" e isso não deve se deixar de denunciar, pois "o grito dos excluídos pode também despertar as consciências adormecidas de muitos líderes políticos", a quem cabe "fazer valer os direitos econômicos, sociais e culturais", que são "reconhecidos por quase todos os países, pelas Nações Unidas, pela doutrina social de todas as religiões, mas que muitas vezes não se manifestam na realidade socioeconômica”.
Compaixão
A justiça social deve ser acompanhada pela compaixão, que “significa sofrer com o outro, partilhar os sentimentos dos outros” e “não consiste em dar esmolas” aos necessitados, “olhando para eles de cima para baixo, olhando para eles a partir das próprias seguranças e dos próprios privilégio", "compaixão significa aproximar-se uns dos outros", a compaixão é carnal, fraterna, profunda. Que compartilhemos o mesmo sofrimento ou sejamos movidos pelo sofrimento dos outros. A verdadeira compaixão constrói a unidade das pessoas e a beleza do mundo.
Ninguém deve ser desprezado
O Papa denuncia também “a ‘cultura do vencedor’ que é um aspecto da ‘cultura do descarte”, aquela prática, por parte de quem, forte por “certos sucessos mundanos” - muitas vezes “fruto da exploração das pessoas e da pilhagem da natureza" ou produtos "da especulação financeira ou da evasão fiscal", ou da "corrupção ou do crime organizado" - sente "o direito de desprezar arrogantemente os 'perdedores'".
Mas “esta atitude arrogante”, “o exultar da própria supremacia sobre os que estão em pior situação” - que “é o oposto da compaixão” - “não acontece apenas com os mais ricos, muitas pessoas caem nesta tentação”, alerta Francisco. Este “olhar de longe, de cima, com indiferença, com desprezo, com ódio”, gera violência, gera “silêncio indiferente”. E “o silêncio diante da injustiça abre caminho à divisão social, a divisão social abre caminho à violência verbal, a violência verbal abre caminho à violência física, a violência física à guerra de todos contra todos” sublinha Francisco, acrescentando que somente quando se tem que ajudar uma pessoa a se levantar, se pode olhar para ela de cima para baixo.
É necessário o amor
É preciso amor. É em síntese a reflexão de Francisco. Este amor é aquele visto pelo pontífice em Díli, na escola “Irmãs Alma” que acolhe crianças com deficiência ou com malformações. “Sem amor isto não se compreende”, confidencia o papa ter pensado ao visitar a estrutura. “Se o amor é eliminado como categoria teológica, ética, econômica e política, perde-se o rumo”, por isso “a justiça social, e também a ecologia integral, só podem ser compreendidas por meio do amor”, porque “sem amor não somos nada”, repete.
Darwinismo social
Na ganância matemática da conveniência e do individualismo, prepondera alguma forma de “darwinismo social”, a "lei do mais forte" que justifica primeiro a indiferença, depois a crueldade e, finalmente, o “extermínio”. Tudo isto “vem do Maligno”. Mais uma vez, o papa exorta a perder a memória histórica e recorda a imagem que lhe é cara do “poliedro”, da família humana e da casa comum, tornada resplandecente pelos valores universais desenvolvidos a partir das raízes de cada povo. “Lembremo-nos disso: global, mas não universal”, diz ele. Hoje, quando busca-se “padronizar e subjugar tudo”, é preciso ter cuidado. Cuidado com os “crocodilos” que se camuflam, “pulando como cangurus” e depois mordem.
O drama do crime organizado
Por fim, o papa centra-se em um tema que o preocupa muito: as muitas formas de criminalidade organizada que “crescem nas terras aradas pela pobreza e pela exclusão”: “Tráfico de drogas, prostituição infantil, tráfico de seres humanos, violência brutal”. Este drama deve ser enfrentado: "Sei que vocês não são polícias, sei que não podem enfrentar diretamente os grupos criminosos", diz aos Movimentos Populares, mas "continuem a combater a economia criminosa com a economia popular. Não desistam... Nenhuma pessoa, especialmente nenhuma criança, pode ser uma mercadoria nas mãos dos traficantes de morte, os mesmos que depois lavam o dinheiro sangrento e jantam como respeitáveis cavalheiros nos melhores restaurantes."
Apostas online e crimes virtuais
Neste contexto trágico, o papa não esquece o flagelo das apostas online: “É uma dependência... Significa colocar as mãos nos bolsos das pessoas, sobretudo dos trabalhadores e dos pobres. Isso destrói famílias inteiras." Na verdade, existem doenças mentais, desespero e suicídios causados por “ter um cassino em cada casa pelo celular”.
O pontífice faz um apelo aos empresários de informática e inteligência artificial: “Parem com a arrogância de acreditar que estão acima da lei. Previnam a disseminação do ódio, da violência, das fakenews, do racismo e impeçam que as redes sejam utilizadas para difundir pornografia infantil ou outros crimes."
Salário básico universal
Francisco relançou a proposta de um salário básico universal para que “ninguém fique excluído dos bens primários necessários à subsistência”. Depois, expressou um desejo pessoal: "Gostaria que as novas gerações encontrassem um mundo muito melhor do que aquele que recebemos!". Isto é, um mundo que não seja ensanguentado pelas guerras e pela violência, ferido pelas desigualdades, devastado pela pilhagem da natureza, pelos modos de comunicação desumanizados, com poucas utopias e enormes ameaças. A realidade diz o contrário, mas devemos sempre ter esperança. “A esperança – garante Francisco – é a virtude mais débil, mas não desilude”. Nunca!
Fonte: Vatican News
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