A ciência do autoconhecimento

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terça-feira, 29 de setembro de 2020

Luz, caminho e cura!

Escritas assim, palavras soltas em uma exclamação fora de contexto, resumindo um parágrafo inteiro, parecem pertencer a mais um texto amador com intuitos de autoajuda. Mas para um bom leitor, indispensável é a paciência atenta diante de textos que só revelam sua perspicácia no conjunto, no seu todo. Daí meu pedido clemente: leia até o fim sem pré-juízos, se lhe for possível. Caso não seja, não há problema, pois geralmente nossos pré-juízos são destruídos ao fim de cada processo de conhecimento. Proponho-lhe, então, abertura resoluta de mente e coração.

Sócrates, na antiga Grécia, lançou as bases para todo processo de autoconhecimento e qualquer espécie de ciência voltada para o ser humano quando repetia para os seus concidadãos o adágio “conhece-te a ti mesmo”. Ele mesmo definiu seu pensamento e estilo de vida nessa dinâmica a tal ponto que julgava nada saber para poder se debruçar diante do conhecimento de algo. Assim, com essa humildade e honestidade intelectual, ele conseguia colocar os seus interlocutores em dificuldade diante do que pensavam conhecer.

Quando julgamos saber algo devemos questionar nosso saber para que ele cresça sempre mais. Pois o conhecimento que adquirimos será sempre limitado e, por isso mesmo, deve ser questionado a fim de poder crescer. O saber, sendo ilimitado, possui a capacidade de reciclar nossa disposição e abertura para novas aprendizagens. O conhecimento é infinito e infinita também deve ser nossa capacidade de rever o que pensamos saber. Ainda mais quando se trata de nós mesmos, daquilo que se passa dentro do coração: o saber sobre nosso temperamento, nossos gostos, nossos defeitos predominantes e nossas qualidades. Tal saber ganhou grande ajuda através das ciências psicológicas e psiquiátricas.

Falo do autoconhecimento. Por isso, o que vou dizer desejo que seja edificante no seu processo de autoconhecimento e descoberta da experiência maravilhosa de uma vida que, quando consegue mergulhar em sua interioridade, sempre vem à tona com novidades e não se fecha ao conhecimento e a novas formas de ver o mundo e a si mesmo.

Não é critério único, mas também é importante o que os outros pensam sobre você. Sim! Há luz, caminho e cura nessa descoberta. Todavia, o que sempre ouço é diferente e soa um tanto quanto altivo: “não importa o que pensam sobre você, seja autêntico e livre de opiniões alheias”. Até parece que somos uma ilha solitária num imenso oceano. Nós somos feitos de “nós mesmos e nossos compostos e estruturas”. Ou seja, esse é o modo de funcionarmos no mundo complexo de tudo o que nos compõe. E, portanto, não podemos negar: precisamos de um mundo onde pessoas importantes para nós pensem algo a nosso respeito.  

A humanidade parece concordar em uma opinião comum a respeito da tristeza: ela surge de um coração solitário, onde ninguém e nada habitam. “Falem mal, mas falem de mim” parece ser não só um ditado corrente, porém uma necessidade estrutural que faz a pessoa sentir que não está na solidão de suas atitudes, que alguém pensou nela e até se equivocou na interpretação de uma boa ação sua. Conhecendo-nos um pouco mais, descobriremos que em certa medida devemos ser livres de opiniões alheias, concordando com o ditado acima criticado, mas que, geralmente, a maioria das opiniões alheias são verdades criadas em nossos pensamentos e em nenhum outro lugar. Daí concluir que devemos nos libertar mais de nossos pensamentos viciados do que do pensamento dos outros.

Peço-lhe, mais uma vez, caro leitor, a pachorra de procurar entender. Em nossa criação, o que os pais e outras pessoas relevantes pensavam sobre nós sempre foi determinante para uma elevada autoestima. Tal estrutura se fixa tanto na interioridade do viver como na exterioridade do agir. Por um lado, o que as pessoas pensam sobre você ajuda você a ser quem você é. Contudo, é o que você formula no seu pensamento sobre a opinião dos outros a seu respeito que geralmente se transforma em um monstro, alimentado rapidamente por terríveis hipóteses que crescem na medida em que você dá a elas alimentos, os quais existem somente em seus pensamentos e não nos fatos.

Concluindo, se o que os outros pensam a nosso respeito nos faz bem por um lado (e a quem não faz bem ser reconhecido?), por outro, não devem e não podem determinar totalmente quem somos e o que pensamos sobre nós.

Padre Celso Henrique Macedo Diniz é vigário paroquial da Catedral Diocesana São João Batista. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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