Sendo um avô melhor…

À medida que os pais da atualidade se tornam vovôs, cuidar das crianças pode parecer satisfatório e familiar
sexta-feira, 11 de agosto de 2023
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)

Quando Ted Page se tornou avô, em 2014, ele queria ouvir as histórias de outros homens. “Experiências reais que, com sorte, guiariam os recém-chegados”, lembra.

“Estamos entrando em uma nova etapa das nossas vidas”, explica Page, de 63 anos, morador da cidade de Lexington, em Massachusetts.

Page, que é cofundador de uma empresa de consultoria de marketing, chegou a se perguntar se era certo mostrar fotos da família, incluindo dos netos, nas refeições com os clientes.

“Há um pouco de estigma. Isso pode ser visto como uma indicação de que se está pronto para se aposentar.”

Enquanto pesquisava na internet informações sobre o novo papel, ele encontrou dezenas de blogs nos quais as avós estavam conversando, buscando conselhos e trocando ideias. Mas, e blogs para avôs? Nenhum. Então, Page deu início ao seu próprio site, o Good Grandpa, onde reflete sobre coisas como a sabedoria de seu próprio avô e as marcações das alturas em uma parede da cozinha, que logo passará por reforma.

O gerente de projetos de TI e morador do subúrbio de Atlanta, Greg Payne, de 53 anos, se deparou com o mesmo vazio quando seu primeiro neto nasceu, há quatro anos. Depois da luta para encontrar livros sobre ser avô, ele tentou o cinema e a televisão. Porém, acabou de mãos vazias, além do desanimador filme “Bad Grandpa” (2013), ou “Vovô Sem Vergonha”, no Brasil, no qual o protagonista é um alcoólatra libertino que negligencia uma criança de 8 anos.

“Na cultura popular, os avôs normalmente são rejeitados”, afirma Payne, que começou o podcast “Cool Grandpa”, em 2020, porque, segundo ele: “há muito mais a dizer sobre essa relação”.

Os avôs são muitas vezes excluídos das narrativas sociais sobre as relações entre gerações, de alguma forma secundárias às avós. Isso é difícil de mensurar, porque há pesquisas recentes limitadas sobre avós sem custódia – embora a Associação Americana de Pessoas Aposentadas (em inglês, American Association of Retired Persons AARP) realize pesquisas regulares – e o avô aparenta não ser, particularmente, avaliado. 

As muitas formas de ser um avô legal

Fatores como status de aposentadoria, saúde e distância geográfica ajudam a determinar o envolvimento dos homens na vida de seus netos, embora as expectativas culturais de como os avôs devem se comportar sejam confusas.

“Você tem esses estereótipos de gênero”, explica Robin Mann, sociólogo da Bangor University, no País de Gales, que estuda a forma como os homens na Inglaterra assumem o papel de avô e como ele se relaciona com a masculinidade mais tarde na vida. “Os próprios avôs muitas vezes veem o papel como afeminado, como um papel da mulher.”

No subúrbio da Filadélfia, por exemplo, Alice Linder, de 78 anos, relatou a relutância do marido em se sentar no chão e brincar com o neto de 5 anos, que mora nas proximidades.

“Ele não suporta o barulho”, disse Linder, que passa várias tardes na semana cuidando do neto. Seu marido não foi um pai muito participativo, admite. “Seu modo de ser avô é ficando longe”, acrescenta.

Há, é claro, muitos avôs engajados e entusiasmados. Alguns homens, como George Schweitzer, um executivo de mídia aposentado em Nova York, veem o papel como uma segunda chance: quando suas três filhas eram mais novas, Schweitzer, agora com 71 anos, estava ascendendo na carreira corporativa.

“Eu deitava com minhas filhas para ler para elas e pegava no sono antes delas”, lembra, sobre a época em que fazia questão de voltar para casa antes das filhas irem dormir. Agora, para Schweitzer e sua esposa, que têm cinco netos, é diferente: “Estamos tão envolvidos quanto podemos estar sem ser desagradáveis.” 

Outros homens proporcionam cuidados regulares aos seus netos – o que os sociólogos chamam de "avós intensivos" – para auxiliar nas necessidades econômicas ou profissionais dos filhos. E alguns avós querem apenas participar significativamente da família em expansão.

Barry Sage-El, de 69 anos, um designer de software aposentado em Montclair, Nova Jersey, se descreve como “o mestre do pijama – e do café da manhã”. Uma ou duas vezes por mês, suas três netas, com idades entre 3 e 5 anos, tomam conta do sofá-cama que fica no seu segundo quarto, um momento divertido, mas também um descanso para os pais.

Como sua esposa ainda trabalha, Sage-El é quem geralmente supervisiona as caminhadas até o parque e a sorveteria, os projetos de arte das crianças e as panquecas que fazem juntos na manhã seguinte.

“Nós apenas gostamos de vê-los crescer”, afirma o designer. “Eu não sou apenas amigo delas, mas uma influência que pode ajudar a moldá-las com coisas que vão se lembrar.”

Para Jonathan Wolf, de 64 anos, o pontapé para seu envolvimento foi simples: seu neto, Nathan, nasceu pouco mais de um mês antes do início da pandemia do coronavírus. Com o fim das suas licenças parentais, os pais do pequeno estavam apreensivos em mandá-lo para a creche para poderem voltar ao trabalho. Wolf, professor de física aposentado do ensino médio em Wanaque, Nova Jersey, chamou sua resposta de "instintiva e automática".

“Eu não estou trabalhando”, disse o professor. “Se eles precisarem de mim para ajudar, eu vou ajudar.”

Ele cuida do neto cinco dias por semana, muitas vezes de oito a dez horas por dia. Agora que Nathan tem 3 anos e frequenta a pré-escola à tarde, Wolf pode tirar uma soneca.

“Correr atrás de uma criança de 2 ou 3 anos é exaustivo”, reconhece, embora planeje continuar na função mesmo quando o pequeno for para a escola em tempo integral.

Mudanças

Os pesquisadores, no entanto, acreditam que há uma mudança no horizonte. As tendências culturais e demográficas, incluindo a melhora na saúde e o aumento da expectativa de vida, significam que os avós podem assumir papéis mais ativos. 

E há algumas evidências de que os pais americanos de hoje passam consideravelmente mais tempo cuidando de crianças do que os do passado: uma média de oito horas por semana em 2016, em comparação com apenas 2,5 horas em 1965, de acordo com o laboratório Pew Research Center. À medida que os pais da atualidade se tornam vovôs, cuidar das crianças pode parecer satisfatório e familiar.

“Estou vendo que tanto as avós quanto os avôs querem se envolver, embora eu não ache que os avôs estejam trocando tanto as fraldas”, brinca Kathy Hirsh-Pasek, psicóloga de desenvolvimento da Temple University e membro sênior da Brookings Institution.

Ainda assim, há muitas maneiras pelas quais os homens podem continuar a desenvolver laços mais estreitos com seus netos, observa a psicóloga. Algumas maneiras de começar:

Compartilhe interesses com seus netos

Hirsh-Pasek estimula os pais a compartilharem informações sobre as novas obsessões dos filhos, para que os avós possam se aprofundar em fatos sobre dinossauros e séries e possam conversar com seus netos sobre eles. Para chamadas on-line, a psicóloga dá dicas: “Procure livros que vocês possam ler e atividades que possam fazer juntos.”

Ela também sugere que os avós compartilhem seus próprios interesses. “Se você gosta de marcenaria ou de andar de barco, as crianças vão gostar de aprender sobre isso”, afirma. 

A psicóloga aconselha os avós em relacionamentos heterossexuais a passar algum tempo com seus netos por conta própria, além de seus cônjuges. Caso contrário, eles podem delegar a tarefa às esposas. “Especialmente se ela já criou os filhos, é mais experiente”, pontua.

Homens que abraçam o papel de avô dizem que a relação vem com imensas recompensas. Schweitzer e sua esposa veem três de seus netos que moram nas proximidades, várias vezes por semana; eles também viajam frequentemente para Los Angeles, a fim de visitar os outros dois. 

O resultado? “Pura alegria, orgulho, realização e propósito”, afirma Schweitzer. “É ótimo ver as crianças crescerem e poder fazer parte disso.” 

(Fonte: O Globo)

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