Primeira onda de frio antecipa campanhas de solidariedade em Friburgo

Prefeitura reativa ponto de acolhimento em Mury e distribui sopão; voluntários observam aumento do número de sem-teto nas ruas
sexta-feira, 20 de maio de 2022
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
Moradores em situação de rua em nova Friburgo (Fotos: Henrique Pinheiro)
Moradores em situação de rua em nova Friburgo (Fotos: Henrique Pinheiro)

Por um grau Celsius, Nova Friburgo perdeu para a vizinha Teresópolis o posto de cidade mais fria, entre as três principais da Região Serrana, na madrugada desta quinta-feira, 19. De acordo com as medições do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), e conforme previsto por A VOZ DA SERRA, a mínima oficial registrada em Friburgo foi de 5 graus, contra 4 graus em Teresópolis e 7 em Petrópolis.

A sensação térmica, no entanto, fez o frio sentido na pele ser bem mais cortante. Termômetros de rua, como o do Paissandu, registraram apenas 1 grau. Em localidades como Campo do Coelho e Stucky, moradores que acordaram cedo precisaram remover gelo do teto e do capô dos carros. Várias cidades bateram recorde de frio neste ano.

Neste fim de semana as temperaturas continuam baixas, mas já não deverá fazer tanto frio. Os termômetros devem subir gradualmente no decorrer da próxima semana, voltando ao patamar entre 14 e 22 graus em Friburgo.

Preocupação com população de rua

Faltando um mês para o inverno, a primeira onda de frio em pleno outono, antecipada por conta da continuidade do La Niña, mudou os hábitos dos friburguenses e já acendeu o alerta de preocupação com aqueles que mais sofrem nesta época do ano: a população em situação de rua.

A Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos, Trabalho e Políticas Públicas Públicas para a Juventude iniciou na noite desta quarta-feira, 18, uma força-tarefa para amparar as pessoas em situação de rua. Para isso, a antiga Casa de Passagem, no distrito de Mury, foi limpa e estruturada para receber camas, colchonetes, cobertores e kits de higiene, além da disponibilização de local adequado para banho e higiene pessoal.

Uma equipe foi mobilizada para a distribuição de um sopão para os sem-teto, bem como o trabalho de abordagem (foto acima), orientação e convencimento para que aceitem o auxílio do ponto de apoio montado em Mury. O prefeito Johnny Maycon participou da ação, que contou também com o apoio da Secretaria de Saúde e da Guarda Municipal.

De 15 abordados, 12 acolhidos

“Na primeira noite de trabalho, conseguimos acolher 12 das 15 pessoas abordadas, no abrigo da prefeitura em Mury, equipado com colchões, cobertores, roupas e comida. A ação continuará durante o inverno e visa a acolher, de forma humanizada, todos aqueles que desejarem ser acolhidos”, postou o prefeito em rede social. Depois da ação, por volta das 2h da madrugada, Johnny Maycon posou com a esposa e primeira-dama, Lorrayne, junto ao termômetro do Paissandu, que marcava na hora 3 graus.

No inverno passado, as equipes de abordagem social da Secretaria de Assistência Social registravam exatamente 38 pessoas em situação de rua, em vários pontos da cidade. Todas já recebiam acompanhamento e um trabalho regular de abordagem técnica visando à conscientização para que deixem essa condição, segundo a prefeitura. O ponto de apoio em Duas Pedras criado em 2019 foi reativado para acolher essas pessoas e oferecer um local digno para elas passarem as noites, enquanto durasse o frio demasiado.

Voluntários não param

Grupos de voluntários, ligados a igrejas ou por iniciativa própria, também já começaram a se mobilizar, ou intensificaram a mobilização, para arrecadar e distribuir agasalhos, cobertores, água, kit de higiene e alimentos para os mais necessitados. Em julho do ano passado, no auge do inverno, A VOZ DA SERRA acompanhou o trabalho de um desses grupos. Com os termômetros oscilando entre 7 e 9 graus, na primeira onda de frio mais intensa de 2021, um grupo de cinco amigos, sem qualquer vínculo religioso, saiu pela primeira vez em busca de pessoas sem teto para distribuir sopa, água mineral e meias de lã. 

Desde então, mesmo na temporada de calor, esse  grupo nunca deixou de agir, uma vez por semana. Eles percorrem, de carro, vários bairros de Friburgo ao cair da noite. Encontram pessoas, em sua maioria idosos, deitadas em bancos, sob marquises e até pelas calçadas, ao relento. Esse grupo observou, na prática, um aumento do número de sem-teto e também uma migração dos lugares onde costumam ficar. De um ano para cá, as 25 porções de sopa distribuídas inicialmente agora são 35, entregues na última segunda-feira antes do carnaval, dia 9.

Migração para antigo Fórum e coreto 

“Já não encontramos ninguém no Sase de Olaria nem nas Flores do Bairro Ypu. Agora tem bastante gente no antigo Fórum e também no coreto do Paissandu (foto abaixo)”, disse um dos membros do grupo de voluntários, um empresário do ramo de confecções que preferiu não se identificar. Praticamente sozinho, um servidor da Justiça distribui ainda mais porções, em outros dias da semana.  Ele conhece cada sem-teto pelo nome e faz esse trabalho desde o inverno de 2017. Segundo ele, a falta de constância é a maior dificuldade enfrentada. “Com a chegada do frio, muita gente se mobiliza. Mas, depois de agosto, some todo mundo, como se as pessoas carentes não precisassem mais comer”, afirma.

A tempestade subtropical Yakecan que ajudou a intensificar a atual massa de ar frio está agora se deslocando para alto-mar, afastando-se cada vez mais da costa brasileira. O sistema perdeu força, mas ainda pode provocar rajadas de vento no litoral do Rio.

Frio precoce é efeito do La Niña, que continua 

O Climatempo  já tinha previsto - e o jornal A VOZ DASERRA, noticiado -  a primeira onda de frio intenso deste ano  para a segunda quinzena de maio. 

O frio precoce pode ser efeito do prolongamento do fenômeno La Niña (resfriamento das águas do Oceano Pacífico), que se estabeleceu na primavera de 2021,  atravessou todo o verão de 2022,  já afeta o outono, promete ficar durante o inverno e ameaça se estender  até o início de 2023.

Segundo o Climatempo, o fenômeno havia perdido força em fevereiro e março, mas voltou a se intensificar  em  abril, com o deslocamento de águas mais frias das camadas mais profundas do Pacífico em direção à superfície. Esse novo resfriamento indicou aos meteorologistas que o fenômeno poderá persistir por mais alguns meses.

Em março, como mostrou A VOZ DA SERRA, um relatório do Instituto de Pesquisas Internacionais para o Clima e Sociedade (IRI), ligado à Universidade de Columbia, nos EUA, já previa a continuidade do La Niña nos meses seguintes. 

Ainda  há divergências quanto à duração desse prolongamento. Enquanto alguns modelos meteorológicos indicam que o fenômeno deve atuar até o fim do  inverno, em setembro, outros cogitam a possibilidade de La Niña se estender até o  início de 2023. De certeza até agora, só há a alta probabilidade de La Niña continuar neste  inverno, oscilando de fraco a moderado.  

La Niña influencia o clima no mundo todo. No Brasil, define o regime de chuvas no verão, facilitando, o Sudeste,  a formação de corredores de umidade que descem da Amazônia. Daí o verão altamente chuvoso que tivemos. Por causa do fenômeno,  o verão friburguense só teve 24 dias quentes e ensolarados e dias com termômetros marcando apenas 12 graus em pleno fevereiro, como mostrou A VOZ DA SERRA.

Assim como abril, maio é um mês de transição, com grandes variações térmicas e, consequentemente, mudanças bruscas de temperatura. Por isso nesta época ficam  mais recorrentes os nevoeiros (foto acima, de Vera Barcellos), que costumam se dissipar nas primeiras horas da manhã.  Os dias ficam bem mais frios, mas nem tão secos:  ainda ocorrem chuvas, porém rápidas. 

Como um dos principais efeitos de La Niña é o frio precoce, em fevereiro o Climatempo já previa  que maio poderia ser um mês com bastante oscilação de temperaturas, variando de dias muito quentes para dias frios devido ao avanço de massas de ar de origem polar.

 

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