As parlamentares pioneiras no Brasil: das que vieram e das que virão

Para o atual mandato, apenas três mulheres foram eleitas para Câmara de Nova Friburgo
sexta-feira, 30 de setembro de 2022
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
(Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)
A primeira mulher escolhida pelo voto popular para chefiar um estado, o Maranhão, foi Roseana Sarney, em 1994; a primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff, tomou posse em 2011; enquanto no Congresso foram eleitas as primeiras vice-presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.

As mulheres somam mais da metade dos eleitores no Brasil (52%), no entanto, menos de 10% das cadeiras na Câmara dos Deputados são ocupadas por parlamentares do sexo feminino
As mulheres somam mais da metade dos eleitores no Brasil (52%), no entanto, segundo dados do TSE, de 2018, menos de 10% das cadeiras no Congresso Nacional são ocupadas por parlamentares do sexo feminino. Apenas 45 deputadas têm a tarefa de representar o universo feminino. Se quisermos ter pautas relacionadas aos direitos das mulheres apresentadas e apreciadas nas casas legislativas de todo o país, é preciso ocupar muito mais cadeiras.

Nas décadas de 1960/70, Laura Milheiro de Freitas, primeira vereadora do Estado do Rio, em Nova Friburgo, participou ativamente da política-partidária do município: presidiu a Câmara Municipal e assumiu ainda a função de prefeita durante 40 dias.

Na década de 1980, foram eleitas vereadoras Ledir Porto, Angela Fernandes e Irany Medeiros. Em 1992, Saudade Braga assumiu uma cadeira na Câmara e no início da década de 2000, foi eleita e reeleita prefeita, governando a cidade até 2008. 

Mesmo com o incentivo da legislação eleitoral, a presença feminina na política ainda é mínima. Em Nova Friburgo, das atuais 21 vagas na Câmara Municipal, apenas três são ocupadas por mulheres: Maiara Felício (PT), a vereadora mais votada nas eleições de 2020, em primeiro mandato; Vanderléia Abrace Essa Ideia (PP), terceiro mandato, e Priscilla Pitta (Cidadania), primeiro mandato. 

A jornada de Laura Milheiro de Freitas

Nascida no Rio de Janeiro, em 1913, filha de uma família de imigrantes portugueses, dona Laura veio para Nova Friburgo em 1942, aos 29 anos de idade, com o marido Augusto Souza Freitas, oficial da Marinha, transferido para o Sanatório Naval.

Sua trajetória política começou pelas mãos do médico da Marinha, dr. Silva Araújo, amigo da família que a ajudava no atendimento de pessoas carentes. Ao se candidatar para o cargo de vereador, Laura  retribuiu a solidariedade do médico, ajudando-o em sua campanha. Depois de cumprir seu mandato, Silva Araújo incentivou Laura a se candidatar, argumentando que, como vereadora, poderia fazer mais na área social. Assim ela entrou para a política, onde consolidou uma carreira respeitável e abriu diversas frentes de atendimento aos pobres.

(Laura Milheiro de Freitas / Foto: Arquivo)

Eleita, tomou posse em 1955 e cumpriu quatro mandatos. Foi secretária da Câmara durante alguns períodos e em 1967 foi eleita presidente do legislativo. Nessa condição, dona Laura assumiu o cargo de prefeita de Nova Friburgo por 39 dias, durante viagem do prefeito Amâncio Mário de Azevedo à Alemanha, em 1968. Permeando toda essa trajetória, presidiu o Diretório Municipal do PTB em Nova Friburgo, por 12 anos.

Dentre seus muitos feitos, fundou o Serviço de Assistência Social Evangélica (Sase), o núcleo da Legião da Boa Vontade (LBV) em Nova Friburgo, o Abrigo Betel para Idosos e Menores Desamparados, o Instituto de Assistência de Proteção aos Cegos e a Casa das Meninas do Abrigo Amor a Jesus. Participou, ainda, da vida religiosa da cidade, sendo baluarte da Igreja Metodista de Nova Friburgo.

Em entrevista ao jornal A Voz da Serra, publicada em 3 de maio de 1995, sobre a participação da mulher na política, respondeu: “Eu vejo de maneira muito importante, porque a mulher, como diz um ditado popular, tem sete sentidos. Ela vê as situações com muito mais propriedade e sensibilidade, não agindo só com a razão, mas também com o coração. Então a mulher na política tem muitas condições de ser útil e servir à comunidade e ao povo”.

Ampliando o pensamento de dona Laura, a respeito do trabalho que desenvolvia na comunidade, sua neta Ana Luiza conta que a avó via a função pública como uma atividade na qual não poderia nem deveria haver ganhos pessoais. “Ela recusou do então governador Roberto Silveira um cartório e deixou de se candidatar ao cargo de vereador quando a função passou a ser remunerada”. 

Quando a Câmara Municipal foi instituída em Friburgo, em 1820, os vereadores não recebiam salários. Davam a sua contribuição pessoal à administração da cidade, sem receber ordenados, sendo eleitos em razão da notória capacidade em suas atividades privadas.

Nos últimos anos de sua vida, duas imagens da militante política podiam parecer contraditórias, mas na verdade eram complementares: tanto era a terna “tia Laura” para as classes populares, como a “dama de ferro” para seus correligionários e adversários políticos.

Laura Milheiro de Freitas faleceu no dia 22 de setembro de 2007, aos 93 anos, após uma longa jornada de efetiva participação da mulher na vida friburguense.

A presença de Ada Bento de Mello

Na edição 23 e 24 setembro de 1972, A Voz da Serra destacou os comícios altamente valorizados pela presença da mulher de Ariosto Bento de Mello, dona Ada, na campanha do marido. 

“Os comícios e as visitas domiciliares realizadas pelo engenheiro Bento de Mello, têm tido uma particularidade interessante e altamente valorizada. A esposa do candidato acompanha-o nas jornadas, voltada inteiramente para a direção do caminho encetado pelo abnegado companheiro de tantas lutas e de tantas boas campanhas para o bem do povo. Tendo em vista que a dona Ada Bento de Mello jamais se interessou por política, sabendo-se que preferiria que o seu marido não participasse diretamente do pleito, mais ainda merecem citações o seu desempenho. Compreendendo que a participação do dr. Ariosto na eleição vindoura representou uma imposição das forças vivas da nossa comunidade que não podiam ser decepcionadas a nenhum preço, por pontos de vista isolados ou por injunções de quaisquer espécies. A grande verdade é que as carinhosas ovações que dona Ada vem recebendo, indubitavelmente, muitíssimo devem representar no contexto geral da vitoriosa caminhada de Ariosto.”   

(Ada Bento de Mello com o marido Ariosto Bento de Mello)

Já na coluna Pílulas, consta o seguinte registro: “Em todos os comícios, bem como em todas as atividades relacionadas com sua campanha eleitoral, o engenheiro Ariosto Bento de Mello tem contado com a participação efetiva, alegre e animada de sua esposa, dona Ada, que irradiando simpatia, modéstia e disposição, não só oferece extraordinário estímulo marido, como ainda proporciona aos grupos de trabalho, pró-vitória do mencionado engenheiro, exemplos da mais alta indagação.”

 

  • Priscilla Pitta (Foto: Arquivo AVS)

    Priscilla Pitta (Foto: Arquivo AVS)

  • Vanderléia Abrace Essa Ideia (Foto: Henrique Pinheiro)

    Vanderléia Abrace Essa Ideia (Foto: Henrique Pinheiro)

  • Maiara Felício (Foto: Igor Luquez)

    Maiara Felício (Foto: Igor Luquez)

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