Os diferentes níveis de gagueira

“A gagueira é um assunto pouco comentado, cheio de mitos que tendem a fazer o paciente acreditar que aquilo é culpa sua”
sexta-feira, 21 de outubro de 2022
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Fonoaudióloga Isadora Morgado Pinheiro Neves (Foto: Acervo Pessoal)
Fonoaudióloga Isadora Morgado Pinheiro Neves (Foto: Acervo Pessoal)

Em 2017, o Conselho Federal de Fonoaudiologia - CRFa - oficializou a Fluência como uma especialidade, mas na prática os atendimentos já aconteciam antes disso. Hoje a fonoaudiologia conta com 14 especialidades reconhecidas pelo Conselho. Nesta entrevista, a fonoaudióloga friburguense Isadora Neves aborda a questão na qual é especialista. 

Como é lidar com um paciente com esse tipo de distúrbio?

 O atendimento a esse público tende a ser bem desafiador, porque os pacientes chegam carregados de muita vergonha e insegurança, diante de uma dificuldade que afeta a sua comunicação com os outros, tanto no âmbito social, quanto profissional. E nosso trabalho começa mostrando o quanto a gagueira é um assunto pouco comentado, cheio de mitos que tendem a fazer você acreditar que aquilo é culpa sua, que é algo muito simples de resolver, apenas ficando calmo, por exemplo. Ou até mesmo colocando a gagueira como uma espécie de tabu, onde não falam sobre ela, pois acreditam que fingir que nada está acontecendo vá deixar a pessoa mais tranquila e consequentemente com menos disfluências. 

A partir de que idade o problema pode ser diagnosticado com segurança, e neste caso, a cura total é possível?

Geralmente as disfluências surgem entre 2 a 5 anos, porém elas podem fazer parte do processo natural de aquisição da linguagem da criança, por isso é fundamental a avaliação com um profissional capacitado, pois só assim os pais terão a resposta se de fato, trata-se de um processo normal da aquisição da linguagem ou de uma alteração. Falar em cura total é difícil porque qualquer pessoa pode apresentar disfluências no decorrer de sua vida, quando exposto a situações desconfortáveis por exemplo. Mas com a terapia adequada conseguimos melhorar bastante a comunicação do paciente, reduzindo significativamente as disfluências. Temos também que levar em conta o início dos sintomas, quando a pessoa procurou atendimento, se tem concomitantes físicos associados, isso tudo vai fazer parte da gravidade da gagueira, e influenciar no processo.

Existem níveis diferentes de gravidade para a gagueira?

Sim, a partir da avaliação conseguimos saber a gravidade daquela gagueira, avaliando aspectos como, por exemplo, presença de concomitantes físicos, porcentagem de disfluências gagas, porcentagem de disfluências normais, entre outros.

No caso de um paciente que só procura o especialista na fase adulta, é possível reverter o distúrbio?

Como já citado, há tipos diferentes de gagueira: tem a que se inicia na infância, a que se instala pós lesão cerebral, e tem a que se inicia pós evento traumático grave. Sem dúvida, deixar passar muito tempo para iniciar o acompanhamento pode alterar o andamento do tratamento, até porque aquele adulto teve que conviver com essas dificuldades uma vida inteira. Mas avaliando cada caso, é possível sim ter bons resultados mesmo na idade adulta. 

Em geral, quanto tempo pode levar o tratamento, considerando as diferenças entre um caso e outro?

Já tive casos em que a alta veio com alguns meses, e outros que demoraram mais tempo, então não tem como precisar com exatidão um prazo para dar alta a um paciente. Tudo vai depender da gravidade, da disponibilidade para os atendimentos, do quanto aquilo interfere na vida daquela pessoa, porque às vezes a gente busca um objetivo, e para o paciente aquela manifestação que ainda insiste em permanecer não é algo que o atrapalhe, que ele considere um problema, seja para vida pessoal quanto profissional. Sendo assim, a alta pode ser colocada como opção. 

Há casos em que uma psicoterapeuta também possa ajudar nesse processo de cura? Se positivo, em quais situações?

Sem dúvida, apesar de fatores psicológicos não causarem a gagueira (salvo a gagueira psicogenética, que surge a partir de um evento muito traumático, sem nenhuma aparição de sintomas anteriormente) eles podem agravá-la, o que pode dificultar o processo, então esse acompanhamento psicológico é muito importante.

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