Evasão: desigualdade é causa e consequência de situações que se repetem

sexta-feira, 02 de setembro de 2022
por Jornal A Voz da Serra
Por Denise Lemes*
Por Denise Lemes*

A evasão escolar no Brasil é um problema grave, que precisa ser discutido e resolvido. Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), essa prática atinge 5 milhões de alunos no país. Durante a pandemia, esses números aumentaram em 5% entre os alunos do Ensino Fundamental e 10% entre os alunos do Ensino Médio.

Esses dados comprovam que a saída da escola, antes de completar todas as etapas da aprendizagem, é uma realidade de milhares de crianças espalhadas pelo Brasil. Os motivos que levam à evasão são vários, desde dificuldades financeiras até falta de interesse. Porém, durante a pandemia, o desafio de manter os alunos no colégio ganhou novos obstáculos.

Falta de internet prejudicou alunos

No período de isolamento, a maioria das escolas optou por dar início ao ensino remoto para garantir que os alunos não perdessem tanto tempo. Mas o acesso ao ensino se tornou um problema. Entre os alunos que ainda estavam matriculados até dezembro do ano passado, 4 milhões não tinham conectividade.

Além disso, com a volta gradual das aulas este ano, os educadores têm a difícil missão de atrair os estudantes de volta à escola e recuperar o aprendizado. Muitos alunos estão desmotivados e, com os problemas financeiros e de saúde agravados entre 2020/2021, estudar deixou de ser uma prioridade e, consequentemente, a evasão escolar na pandemia cresceu. 

São diversos os fatores que geram a evasão, principalmente quando se analisa cada caso. Porém, é possível identificar alguns motivos padrões e gerais que fazem os alunos saírem da escola antes de concluir o ensino. As principais causas são: 

  • Necessidade de ingressar cedo no mercado de trabalho, devido à situação econômica familiar; 

  • Dificuldade de chegar até a escola, seja por falta de dinheiro ou precariedade dos transportes públicos; 

  • Falta de investimento em tecnologia, que gera disparidade no ritmo de aprendizagem dos alunos; 

  • Ausência de acompanhamento educacional, afetando o psicológico dos alunos; 

  • Dificuldade de aprendizagem, que desmotiva os alunos; 

  • Falta de interesse pela escola. 

Muitas dessas causas estão relacionadas a um ‘motivo maior’. Pode-se afirmar que a raiz do problema é a desigualdade social, que divide as pessoas em classes com poderes aquisitivos muito distintos, refletindo no desenvolvimento de cada pessoa como cidadã e profissional. 

As consequências desse quadro, são: dificuldade de inserção no mercado de trabalho; aumento da desigualdade social, ocasionando um ciclo; aumento de profissões informais; baixa remuneração pelos serviços prestados, já que há falta de preparo; instabilidade financeira; aumento da dependência de programas governamentais; prejuízos no desenvolvimento como cidadão.

A importante relação entre família e escola

Ao mesmo tempo que a desigualdade é uma causa, ela também é consequência da evasão escolar. Trata-se de uma sequência de situações que se repetem: desigualdade social gera a evasão, que leva à falta de capacitação dos indivíduos, que por sua vez provoca baixa remuneração e desemprego, os quais geram desigualdade. Quando falamos de desigualdade, envolvemos diversos contextos, como o financeiro, o social e o intelectual.

Coordenadores pedagógicos, diretores e professores precisam acompanhar diariamente o processo de aprendizagem dos alunos, a fim de buscar sempre uma maior evolução nas crianças e jovens. Neste caso, importante identificar e analisar os pontos fortes e fracos dos alunos em relação aos conteúdos aplicados.

Buscar atualizações no processo de aprendizagem e no conteúdo aplicado aos alunos é importante para mantê-los motivados. Por isso, uma proposta pedagógica que envolva as crianças e os jovens no processo de ensino faz muita diferença.

E nessa ‘caminhada’, os pais devem ocupar um papel importante. Assim como a escola deve acompanhar o desempenho dos alunos, os pais também precisam estar presentes, motivando seus filhos. O trabalho em conjunto é essencial, e a relação entre família e escola deve ser cada vez mais próxima.

Resumindo, evitar a evasão é uma das formas de reduzir a desigualdade social e garantir às crianças um futuro, um projeto de vida. A educação deve ser vista como um investimento a curto e longo prazo, pois através dela, a realidade de muitas crianças pode mudar.

(*Fonte: //institutoacaoeducacao.org.br/)

Evasão representa uma perda de 26% do valor da vida de um jovem

O problema da evasão não é novo: com base em dados de 2019, o IBGE estima que mais de 20% dos quase 50 milhões de brasileiros entre 14 e 29 anos não tenham completado alguma das etapas da educação básica. A necessidade de trabalhar, o desinteresse pelas aulas e a gravidez foram citados como principais motivos para os jovens abandonarem a escola.

Desde o ano passado, três fatores fortemente associados à evasão escolar têm se intensificado, diz Olavo Nogueira, diretor-executivo da organização Todos Pela Educação: a perda de vínculo com a escola, a dificuldade em acompanhar as aulas e a necessidade de complementar a renda familiar.

"Não basta apenas que os alunos voltem, porque existe também a evasão associada ao que acontece dentro do ambiente escolar", explica Nogueira. "Vai haver o desafio de cuidar do (bem-estar) social e emocional dos alunos de fazer iniciativas de recuperação escolar e de acompanhamento das famílias, para identificar os que podem estar sob risco de evadir. O enfrentamento desse problema tem de ter um plano de longo prazo."

Uma preocupação adicional é com o fato de a pandemia estar solapando o ensino em faixas etárias nas quais o Brasil havia conseguido importantes avanços, tanto quantitativos como qualitativos, na educação. Um revés em particular se dá com as crianças de 6 a 10 anos, que representavam o maior contingente entre os alunos que estavam sem acesso à educação no final do ano passado.

"Crianças de 6 a 10 anos sem acesso à educação eram exceção no Brasil, antes da pandemia. Essa mudança observada em 2020/21 pode ter impactos em toda uma geração. São crianças dos anos iniciais do ensino fundamental, fase de alfabetização e outras aprendizagens essenciais às demais etapas escolares. Ciclos de alfabetização incompletos podem acarretar reprovações e abandono escolar”, disse em comunicado Florence Bauer, representante da Unicef no Brasil.

“Sem oportunidades de aprender, o aluno vai ficando cada vez mais para trás, com anos de atraso escolar, até deixar definitivamente a escola, sem concluir a educação básica — muitas vezes antes até de ingressar no ensino médio", disse Florence Bauer, no relatório Enfrentamento da Cultura do Atraso Escolar.

“Por trás desses números, está a naturalização do fracasso escolar. A maioria da sociedade aceita que um perfil específico de estudante passe pela escola sem aprender, sendo reprovado diversas vezes até desistir. Essa cultura do fracasso escolar acaba por excluir sempre os estudantes em situação de maior vulnerabilidade, que já sofrem outras violações de direitos dentro e fora da escola”, completou Bauer.

(Fonte: https://todospelaeducacao.org.br/)

 

 

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