Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência

As mulheres são hoje 54% dos estudantes de doutorado no Brasil
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
(Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)

Foi buscando a igualdade de gênero e representatividade nas ciências que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) declarou 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. 

Celebrado pela primeira vez em 2016, a meta de incentivar o envolvimento de meninas e mulheres cientistas está em conformidade com os objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. As mulheres são hoje 54% das(os) estudantes de doutorado no Brasil, mas essa participação varia com a área do conhecimento. 

Para celebrar a data, o Portal Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), faz um resumo da história de vida e das opiniões de duas professoras e uma estudante sobre o papel das mulheres e meninas nas ciências. Apesar de terem diferentes trajetórias e inspirações na área científica, elas convergem na esperança de que a busca por igualdade de gênero nas ciências possa avançar cada vez mais e permitir que qualquer menina ou mulher possa realizar pesquisa quando e onde quiser. 

Segundo Fernanda De Negri, pesquisadora do Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade do Ipea, casos de mulheres como as mencionadas nesta reportagem, que se destacam nas ciências, têm crescido no Brasil, ainda que a passos lentos.  

“Hoje, as mulheres são cerca de 54% dos estudantes de doutorado no Brasil, o que representa um aumento de 10% nas últimas duas décadas. Esse número é semelhante ao dos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde em 2017 as mulheres conseguiram 53% dos diplomas de doutorado concedidos no país. No Brasil, assim como no resto do mundo, no entanto, essa participação varia muito de acordo com a área do conhecimento. Nas ciências da vida e da saúde, por exemplo, as mulheres são a maioria dos pesquisadores (mais de 60%), enquanto nas ciências da computação e matemática elas representam menos de 25%.”

Mulheres inspiradoras

Tema de redação

Em 9 de janeiro de 2022, data de reaplicação do Enem 2021, a biomédica Jaqueline Goes de Jesus recebeu nas redes sociais “uma enxurrada de carinho” de estudantes que realizaram a prova. O motivo foi o tema da redação: “Reconhecimento da contribuição das mulheres nas ciências da saúde no Brasil”.

Muitos jovens lembraram do feito da baiana, doutora em patologia humana e experimental pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), durante a pandemia, ao liderar a equipe que sequenciou, em apenas 48 horas, o genoma do primeiro caso de covid-19 no Brasil. [A equipe era coordenada pela médica Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP]. 

Em um post de agradecimento ao carinho recebido, a pesquisadora aproveitou para refletir sobre ser um modelo de inspiração para muitas pessoas:

    Eu sempre recebo muitas mensagens de carinho e admiração. Pessoas de todos os cantos do Brasil e do mundo relatam o quanto as inspiro com a minha presença e história, no contexto brasileiro de precariedade e desapoio à Ciência. Eu tenho uma grande dificuldade de acolher esse afeto e mais ainda de trazê-lo a público. Quase sempre fico acanhada por diversos motivos (ser uma mulher preta, para a qual o lugar do carinho e do afeto foram e ainda é negado, causa esses traumas na gente. Mas isso é uma outra pauta).

Mas eu me peguei pensando no quanto a representatividade tem um poder transformador na vida das pessoas. Em que outra situação jovens em fase de decisão de carreira conheceriam e/ou discutiriam sobre um tema tão relevante?”

Quebrando barreiras

A trajetória da física Sonia Guimarães é quase como uma corrida com obstáculos. “Desde o comecinho, já no fundamental 2, uma professora de física me disse: ‘você nunca vai aprender física’. Quando fui tentar uma bolsa de iniciação científica, na graduação na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), me falaram: ‘pra que vou desperdiçar a minha bolsa com você?’.

Dando aulas na física no ITA, um professor um dia entrou na minha sala com avaliações de 12 alunos, de um total de 120 da minha turma de 1º ano, que diziam que eu era a pior professora de todos os tempos e que a minha roupa chamava atenção para o meu corpo.”

Mas, nada a impediu de continuar as suas conquistas. Seu interesse pela pesquisa já estava claro desde pequenina — pelo menos para a sua avó, que a chamava de ‘xereta’. “Eu sempre fui pesquisadora, sempre fui atrás de ter respostas às minhas perguntas. E quando percebi que conseguia ganhar dinheiro fazendo isso, não duvidei do que fazer na vida”, conta. 

Sonia foi a primeira mulher negra a se formar doutora no Brasil e a primeira professora negra do ITA. Em 2021, ela recebeu o Prêmio Professor Emérito — Troféu Guerreiro da Educação Ruy Mesquita, realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo e o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). Ela é a primeira mulher negra a receber a honraria. 

“Eu jamais tive essa consciência que estava quebrando barreiras. Só estava tentando sobreviver, conseguir as coisas que eu queria, chegar nos lugares que eu almejava. Conforme fui ganhando fama, comecei a perceber que eu não sou aquela porcaria que todo mundo dizia que eu era”, diz.

Os esforços, não só dela como de todos que lutam pela igualdade de gênero e o combate ao racismo, têm dado resultados, aos olhos da professora. Ela vê mudanças nas escolas, que têm mais representação e diversidade nos materiais escolares, e na presença de pessoas negras nas universidades, por causa de políticas educacionais afirmativas, como as cotas. 

Para Sonia, a escola deve continuar vigilante e atenta para as meninas que mostrarem interesse nas ciências, estimulando que elas se desenvolvam, mesmo que não sejam as primeiras alunas da sala.

As meninas nas exatas

“A ideia de que as meninas não servem para as ciências é algo bem enraizado na nossa cultura e nós precisamos ir quebrando esse tabu, mostrando que não é isso”, diz Barbara Daniela Guedes Rodrigues, professora de química da EE Professor Sebastião de Oliveira Rocha, em São Carlos (SP).    

Ela trabalha há mais de 10 anos com projetos nas áreas científicas. Um dos seus principais focos é justamente incentivar as meninas nas exatas. Tanto que, na escola onde trabalha, Barbara coordena dois grupos: o Infoladies, que trabalha a questão de resíduos sólidos e de reaproveitamento de materiais recicláveis por meio de aplicativos, e o Jades – Juntos Acabaremos com o Desperdício.

Com diferentes projetos, ela já participou três vezes do Prêmio Respostas para o Amanhã — iniciativa brasileira do Solve for Tomorrow, programa global da Samsung com coordenação geral do Cenpec. Ano passado, seu grupo do 2º ano foi o grande vencedor do prêmio, com um projeto Tesla – Reaproveitamento de resíduos orgânicos para a produção de biogás. Barbara trabalhou em parceria com a professora Isabel Cristina Santana Kakuda.

“A ideia era tentar montar um biodigestor para reaproveitar as sobras da merenda. Começamos com um protótipo bem simples, com baldes, um galão de água… Com a visibilidade, ganhamos apoio de uma empresa privada e conseguimos avançar no nosso projeto”, explica. 

 “Trabalhar com projetos no ensino médio é importante tanto para o incentivo como para o amadurecimento dessas meninas. Quando elas chegam na universidade, a dificuldade de fazer um relatório ou de mexer em um equipamento de laboratório é muito menor do que de estudantes em geral, que não tiveram esse contato no ensino médio. Elas saem preparadas em práticas experimentais, vivências de pesquisa, metodologia científica”, completa. (Texto original de Stephanie Kim Abe em: www.cenpec.org.br)

12 de fevereiro — Dia de Darwin

Uma vida dedicada à Ciência

Comemorado em todo o mundo, a data festeja o aniversário do naturalista, geólogo e biólogo inglês Charles Robert Darwin, um dos pesquisadores mais influentes da história da ciência que o tornaram célebre por todos os avanços que proporcionou sobre evolução junto às Ciências Biológicas.

Aos 16 anos, seu pai passou a levá-lo para seu consultório, para que ele anotasse todos os sintomas dos pacientes. Logo depois, Darwin começou a estudar medicina na Universidade de Edimburgo, seguindo os passos de sua família.

Mas o jovem desistiu do curso, traumatizado com a falta de anestesia nas aulas que envolviam cirurgias. Entretanto, a Universidade de Edimburgo foi importante para ele, pois lá teve acesso a importantes obras, como o livro Zoonomia, de seu avô, que trata de ideias básicas sobre a evolução.

Ao desistir da medicina, em 1827 seu pai o enviou para o Christ's College, em Cambridge, onde ele encontrou o ambiente ideal para estudar história natural. Lá conheceu o naturalista John Stevens Henslow, dedicado à botânica, que o aconselhou a conhecer as florestas tropicais a bordo do navio Beagle, que faria uma grande viagem por várias regiões do mundo. 

A expedição teve início em 1831, e por cinco anos observou e coletou exemplares das mais diversas formas de vida ao redor do mundo — que lhe permitiram uma melhor compreensão das mudanças ocorridas nas espécies. Darwin também coletou fósseis e realizou estudos geológicos que o levaram a perceber detalhes da suposta evolução que as espécies teriam sofrido ao longo do tempo.

Essa empreitada foi mantida em segredo por Darwin, com o intuito de manter controle do material coletado, visando uma preservação mais eficiente que serviria de fonte para futuras pesquisas. A parada nas Ilhas Galápagos — arquipélago situado no oceano Pacífico, na costa do Equador — foi de extrema importância para a observação de diferenças entre grupos de pássaros endêmicos de cada ilha, que apresentavam relações características de cada meio onde viviam. Essas observações foram fundamentais para a compreensão do processo de seleção natural, mais adiante.

Darwin propôs que todos os seres vivos descendem de um ancestral em comum, conceito amplamente aceito e fundamental no meio científico. Em sua teoria, ele afirma que organismos com variações genéticas que sejam adaptadas ao seu meio ambiente tendem a se propagar e deixar mais descendentes se comparados aos organismos da mesma espécie que são desprovidos dessas variações.

Em 1859, seu livro Da Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural foi publicado pela primeira vez, na Inglaterra. E em sua 6ª edição (1872) o livro passou a ter seu título abreviado para A Origem das Espécies, como é mundialmente conhecido.

Considerada a base da biologia evolutiva, essa obra mudou o modo como os seres humanos compreendem a si mesmos e o mundo à sua volta, ao introduzir a teoria científica de que as populações evoluem ao longo das gerações por meio de um processo de seleção natural.

Novas descobertas nas áreas da genética e biologia molecular trouxeram algumas mudanças na compreensão da teoria evolucionista, entretanto, as ideias de Darwin são até hoje consideradas fundamentais para a Ciência e a Biologia, por apresentarem uma explicação prática da evolução. (Fontes: mundoeducacao.uol. e escoladebotanica.com.br )

 

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