Denúncia nos postos do Suspiro e de São Pedro da Serra

Moradores revelam dificuldades para marcar consultas, necessidade de reforma e falta de acessibilidade nas unidades
sábado, 12 de dezembro de 2020
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
A foto do posto, enviada pelo denunciante
A foto do posto, enviada pelo denunciante

“Queria ver se você teria como fazer uma reportagem sobre as dificuldades do Posto do Suspiro”, disse um funcionário da unidade ao entrar em contato com a nossa redação.

O pedido, em tom de súplica, mostra a preocupação daqueles que lidam diariamente com uma estrutura precária e trabalham à base de remendos e improvisos. O principal posto de saúde da cidade – que também é referência – sobrevive de “jeitinhos” e submetem àqueles que trabalham e que utilizam o local a humilhações trabalhistas e sanitárias.

“A unidade precisa urgentemente de uma reforma”, disse o funcionário. São muitas as intervenções a serem realizadas na unidade e de acordo com a pessoa que entrou em contato com a nossa reportagem, é difícil estabelecer uma prioridade.

Para começar, o principal posto de saúde da cidade não tem um preparo para receber pacientes cadeirantes e deficientes físicos. Não há elevador ou rampas de acesso aos andares superiores, onde ficam as salas de curativo e consultório oftalmológico, por exemplo.

“O atendimento oftalmológico fica no segundo andar e os cadeirantes, quando precisam acessar aquela parte, só conseguem quando têm ajuda. Geralmente o guarda municipal auxilia, mas não era para ser assim. Teria que ter uma entrada para que os pacientes pudessem usar, sem ajuda. Quem sabe todo esse transtorno não sensibiliza os órgãos públicos para resolver o problema”, disse o funcionário.

A falta de médicos e a dificuldade para a marcação de exames é outro grave problema relatado na unidade. “Não tem cardiologista e endocrinologista – esse é ainda mais grave. Tem paciente diabético que precisa de insulina, outros com problema de tireoide. Acho que é assim no município inteiro. Tem duas médicas lá e ainda assim é um transtorno para os pacientes marcarem a primeira vez e retorno”, denunciou o funcionário.

Na manhã da última sexta-feira, 11, os funcionários foram informados de que um paciente do posto, que pleiteava uma consulta de urgência com cardiologista, não resistiu e veio a óbito, vítima de infarto.

“Hoje (sexta, 11) recebemos a notícia de que um dos nossos pacientes, que não tinha nem 60 anos, foi encontrado morto em casa, vítima de infarto. Ele estava há meses aguardando uma consulta com cardiologista, que foi solicitado com urgência. Ele estava classificado como risco vermelho, que é “prioridade”. E tem um monte de pessoas na mesma situação”, revelou.

As denúncias não param. Segundo informações, a sala de curativo está há muito tempo interditada e não tem realizado o serviço. “O posto era referência na cidade na realização desse serviço”.

“Na recepção, colocaram um aparelho de ar condicionado, mas que não funciona, porque não colocaram as outras coisas que precisa para realizar a instalação. Não há nem tomada perto dele. Um gasto de dinheiro público desnecessário”, lamentou.

Para finalizar a longa lista de problemas, o funcionário afirma que os banheiros não têm condições de uso. “É um nojo. A situação é tão precária que até a realização da limpeza é difícil e lá também não tem acessibilidade”.

Dificuldades também em São Pedro da Serra

Na última quinta-feira, 10, um leitor de A VOZ DA SERRA enviou uma mensagem via e-mail para a nossa redação. Ele reclamou da burocracia para marcar uma consulta pelo SUS e do modelo como é feito, sendo destinado apenas um dia para isso.

“Sou morador de São Pedro da Serra e, preocupado com a minha saúde, procurei o posto de atendimento local, na tentativa de agendar uma consulta com o médico que atende a nossa região. Quando cheguei lá, me foi informado que o único horário para agendamento de consultas, para toda a região, seria às 8h de segunda-feira. Na verdade, me disseram que eu teria que chegar ao posto até às 8h, mas este é também o horário de abertura do espaço. Então, estamos falando de aglomerar toda a população "doente" daqui, num mesmo horário, num mesmo local, por ordem de chegada, numa localidade que já conta com mais de 30 casos de Covid. Mais de 90, se somar Lumiar e cercanias. 

Questionei com a atendente se não teria um outro horário de atendimento, ou mesmo outras formas, digitais, para marcar essa consulta, pois eu e minha companheira estamos gestantes e eu não gostaria de expor minha família, desnecessariamente. Mas ela indicou que esta seria a única forma de solução do meu problema. 

Perguntei então de que forma eu poderia reclamar, formalmente, desse protocolo de atendimento. Ela então recomendou que eu buscasse reclamar diretamente com o prefeito, acrescentando ainda que estava com o salário atrasado. Fico pensando se é ingenuidade minha esperar um tratamento diferente do sistema público de saúde. 

No entanto não pude conter minha indignação com esse descaso e com esse abuso. E como não posso esperar que parta dos funcionários informar a seus superiores e cobrar respostas eficazes e imediatas, já enviei mensagem ao gabinete do prefeito e peço a ajuda dos colegas para expor esses absurdos no atendimento à população de Nova Friburgo. Tenho esperanças que um dia a gente consiga retirar as máscaras e abraçar os amigos. Mas pra que isso aconteça, precisaremos de atitudes muito mais incisivas”.

O que dizem funcionária e prefeitura

Nossa reportagem ligou para o posto de saúde de São Pedro da Serra e confirmou com uma funcionária que o protocolo para marcação de consulta é realizado somente às segundas-feiras e que o pedido é para que os pacientes cheguem pouco antes das 08h, não havendo a necessidade de chegar cedo.

Ela também explicou que todos que entrarem na fila receberão uma senha para marcar a consulta e que ninguém, independente do número de pacientes, ficará de fora. E ainda que, apesar de ser apenas um dia para a marcação de consultas, o sistema tem sido eficaz e seguro, já que os pacientes têm respeitado as orientações de manter o distanciamento.

Sobre os salários atrasados, confirmou as informações passadas pelo leitor, mas explicou que os funcionários que ainda não receberam são aqueles que não estavam trabalhando, por conta do banco de horas e que a previsão era de que a situação fosse regularizada até a próxima terça-feira, 15.

Em nota, a prefeitura confirmou o que havia informado previamente a funcionária à nossa reportagem. “Não existe atraso de pagamento dos funcionários. Ocorreu a situação de que alguns funcionários da Subsecretaria de Atenção Básica estavam no Banco de Horas. Passando o prazo vigente para realização do levantamento pelo Recursos Humanos, que demanda tempo, não foi possível a entrada na folha de pagamento desses funcionários, entretanto, o valor será corrigido e uma folha complementar, por conta do fim do Decreto de Banco de Horas, será feita. 

Em relação à demora na marcação da consulta, a Unidade de Saúde da Família atende apenas São Pedro da Serra, que conta com uma equipe multidisciplinar com um médico, enfermeiro, um odontólogo, agentes comunitários, auxiliares e técnico de enfermagem. 

A fila da marcação é feita de forma rápida, com orientação de espaçamento entre uma pessoa para outra e é feita a partir da necessidade do território. Então, a indicação é que seja marcada a consulta de acordo com a necessidade, para evitar aglomeração, e que se chegue até às 8h para poder programar as agendas do dia. A partir deste horário, de fato, não conseguirá atendimento, até por ser uma unidade que não atende emergências. Neste caso, o paciente deverá se encaminhar para o Hospital Municipal Raul Sertã. Inclusive, existem diferentes agendamentos, de grupos específicos. Por exemplo, a gestante não está inclusa na marcação de segunda-feira, pela manhã, há o horário próprio para este tipo de consulta”.

Ainda na nota, o município reconheceu que no Posto Sylvio Henrique Braune há uma urgência em realizar uma reforma. “Inclusive, já tem um processo administrativo aberto com o projeto de obras que encontra-se no EGCP para ver a questão do convênio com o Governo Federal para a realização da obra. 

De fato, não há acessibilidade para o segundo andar, não tem elevador, o projeto inclui a colocação de elevador e rampa de acesso. O ar-condicionado foi instalado de forma a aproveitar a instalação feita pela empresa. No entanto, aguarda a implementação da reforma da estrutura total do prédio, incluindo a parte elétrica.

Sobre a necessidade de médicos, já havia sido solicitado uma contratação ao RH para cobrir o quadro de médicos, deste modo, aguardamos a definição da Secretaria de Recursos Humanos em relação a isso. Em relação à consulta de cardiologista, avaliando por alto já que se percebe que foi a necessidade do usuário, o Posto Sylvio Henrique Braune não possui cardiologista. Por se tratar de um ambulatório, o Hospital Raul Sertã seria o local adequado, via Sisreg. Salientamos que emergências devem ser encaminhadas para o Hospital Municipal Raul Sertã”, finalizou a nota.

 

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TAGS: saúde | Governo