Como será o Frizão daqui pra frente

A VOZ DA SERRA conversou com o gerente de futebol do Friburguense, José Eduardo Siqueira, o Siqueirinha
quarta-feira, 03 de maio de 2023
por Vinicius Gastin
Friburguense se prepara para a Série A2: bastidores agitados nos últimos dias (Foto: Divulgação)
Friburguense se prepara para a Série A2: bastidores agitados nos últimos dias (Foto: Divulgação)

Pensar como será o futuro do Friburguense é inevitável. Sobretudo após a possibilidade da chegada de novos investimentos, algo que, segundo a direção do clube, será melhor avaliado por uma comissão. Mas não dá para pensar no amanhã sem viver o hoje. E o daqui a pouco reserva um enorme desafio: a Série A2 do Campeonato Carioca. A reunião promovida pelo Conselho Deliberativo do Tricolor da Serra pode ter dado início a algo para daqui a alguns anos, mas algumas consequências já são imediatas.

Para entendermos melhor o desenho de todo esse cenário do futebol do clube, a partir da reunião até a definição pela continuidade, A VOZ DA SERRA conversou com o gerente de futebol do Friburguense, José Eduardo Siqueira, o Siqueirinha. A frente da equipe há quase 25 anos, o dirigente não esconde sua opinião e pensa que o processo foi mal conduzido. Contudo, deixa claro que não é contra a chegada de um grupo de investidores e gestores, como quase aconteceu em 2019, desde que seja “algo sustentável e com critérios.”

E é tomando como exemplo a temporada que terminou com o título da então Série B1 que Siqueira mantém a confiança em uma boa campanha este ano. Mesmo com as tais consequências imediatas anteriormente citadas, dentre elas a fuga da possibilidade de investimentos na equipe para este ano. Siqueirinha também fala sobre a hipotética “dívida”, receitas e projeta a disputa da Série A2, a segunda divisão do Campeonato Estadual 2023.

A reunião

“Sobre a reunião, infelizmente eu não pude participar. Fui colocado como parte interessada, apesar de ser um benemérito do clube. E o artigo 100 do nosso estatuto é bem claro: eu poderia participar, ser ouvido e ter opinião, mas não poderia votar. Foi tentado fazer valer esse artigo, mas o presidente do Conselho não cedeu. A nota é bem clara quando diz que o estudo vai continuar. Foi feita uma votação sobre a possibilidade de entrar um novo gestor ou permanecer esta gestão até o final de 2024, tendo como garantia o pagamento de dívidas.”

Visão da atual gestão de futebol sobre o caso

“Eu vejo como uma coisa que começou errada. Eu pude ouvir, mas não pude me defender, quando foi dito que fui procurado pela gestão, o que não aconteceu em momento nenhum. Pude ouvir que não houve acordo, nem verbal, com a nossa gestão do futebol. Tenho 24 anos aqui e nenhum tipo de processo, nenhum problema relacionado a questão trabalhista, e no futebol isso é muito raro, mas não credencia a nada. Tenho que me defender, e por isso estou me pronunciando. O Conselho foi ouvido por uma parte, mas não por outra. Quando se fala de acertos anteriores, e isso foi muito bem defendido na reunião, eu passei que, até o final da nossa gestão, não há dívida, e sim um investimento, mas que poderia se tornar uma dívida caso se quebrasse a relação no meio.”

Dívida do futebol do clube

“Essa dívida nunca existiu. Foi feito um investimento. Para fazermos atualmente esse trabalho no futebol, temos investidores, apesar de não termos receitas de TV, patrocínio, empresários que querem colocar a marca no Friburguense. Eu sei que o apelo da Série A2 é realmente bem menor e, efetivamente, precisamos voltar para a A1. Efetivamente, o que sustenta um clube pequeno, hoje, são cotas de TV, a vitrine para fazer um trabalho efetivo de marketing e o argumento de expor a marca. Para isso, a Série A2 é muito deficitária, pequena. Quando se fala em R$ 1,4 milhão, ele é um valor investido, até o momento, desde 2021, para se fazer o futebol nos últimos anos. Provavelmente, em 2023, vai se gastar mais R$ 600 mil ou R$ 700 mil. Então, fazer o futebol é muito caro. E se não há uma receita, precisamos trabalhar muito bem e vender o que temos de melhor: a credibilidade que conquistamos no mercado e os jogadores que conseguimos produzir. Quando se quebra isso, além de uma possível dívida, se cria também a possibilidade desses investidores, com toda essa insegurança, não estarem junto da gente.”

Atual vínculo social / futebol

“Se falou muito, para aprovar outro projeto, em dívida, e que não se tem nenhum compromisso, nem sendo verbal. E isso é muito chato. Mas ao mesmo, se tem dívida, como não tem acerto verbal? Se o futebol deve, se o social pagou... Alguém, provavelmente, fez um acerto para isso acontecer, de ter um lado de quem deve ou não pagar. A coisa é muito complicada, principalmente como foi feito. E deixo claro algo que venho falando em todas as reuniões de Conselho: a mudança do futebol é muito grande, é cada vez mais caro e nós sempre buscamos uma parceria que tenha os seus critérios, uma pessoa com o nome do Conca, sendo feita da forma mais clara e com as pessoas que tenham algum conhecimento sendo ouvidas. Foi colocado algo no momento errado, sem pensar, em hora alguma, na preservação do Friburguense na Série A2. E essa é a minha preocupação.”

Possíveis novos investimentos

“Em 2019, tivemos uma condição muito igual, quando se cogitou a entrada de um grupo para administrar o futebol. Eu fui o primeiro a falar de forma positiva sobre isso, porque seria bom para o Friburguense. Houve uma tentativa, num primeiro momento parecia que aconteceria e eu já estava fora, mas faltando cerca de 20 dias, sem culpa daquela gestão, o grupo desistiu. Como tínhamos uma relação muito boa, a gestão me procurou e, trabalhando junto, colocamos o Friburguense em campo. Em quatro partidas, eu me lembro, perdemos três e empatamos uma. Lembro que todo mundo na cidade dava o time como rebaixado, mas crescemos durante o campeonato e subimos para a Seletiva sendo campeões. A diferença é que a relação entre social e futebol era uma coisa só. Pode ser que estejamos todos buscando algo melhor para o clube, mas a relação está separada. E isso não é bom.”

Como conseguir receitas?

“Como trabalho? Em cima da confiança pelos anos que tenho aqui. Temos investidores que acreditam no nosso trabalho produzindo jogadores, que é uma nova maneira de se fazer receita. Essas pessoas vêm e colocam essa confiança, durante o período de mandato de um presidente, que bate com o meu período de gestão. Quando você quebra isso no meio, aí sim, você pode transformar investimento em dívida. O que se fala hoje que é uma dívida, na verdade, é quando eu consigo um investidor que acredita no trabalho que a gente produz, formando um jogador de futebol. No futuro, ele poderá ser colocado em outro clube. Um exemplo claro: ano passado tivemos o Wellerson, o Neto e o Leandro, três garotos que estão no Joinville. Este investidor escolheu esses três e os colocou lá. Existe um empréstimo, como uma relação entre Friburguense e Joinville. Quem controla somos nós. É uma parceria e, se amanhã esses jogadores são vendidos, além de quitar a situação com o investidor, eles trazem recurso para o clube. O investidor, além de ser representante dos atletas, algo que como clube não podemos fazer, ele tem a possibilidade de resgatar o teu recurso. Essa garantia de mercado e a valorização do jogador são controladas pelo clube.”

Então, as parcerias são a atual saída?

“É o nosso tipo de receita. Nos últimos anos a Unimed comprou espaço de camisa, e outras empresas os espaços de placas, mas efetivamente não dá para se falar que hoje essa receita sustenta um clube, pelo gasto que existe. É preciso ter parceria, e com gente séria. Desse jeito que precisamos ter um parceiro, alguém que tenha abertura de mercado, sem ser o empresário de um jogador, e que passe a trazer recursos sem ficarmos dependendo de ele vir ou não a cada ano. E eu vejo a figura do Conca como algo muito sério, mas a forma como foi trazida, feita e foi colocada no momento da apresentação do contrato, foi muito amadora.”

As consequências de toda essa situação

 “Quando esses investidores não encontram um ambiente seguro, fica mais complicado. Então, este ano, estou preocupado, e precisamos ir para outro lado. Há possibilidades, como valores pela conquista do título. Terei que pegar essas variáveis e transformar num contrato de risco, algo muito ruim. O jogador precisa ter a vitrine, estar jogando, e é o que eu tento passar para ele. Ao mesmo tempo, ele precisa sobreviver, tem uma família. Estamos alinhando os jogadores, mas o fato é que já perdemos o Rodriguinho e os dois goleiros, em relação ao ano passado. Eu também não posso esconder isso, perdemos. Mas não pode ser desculpa de que vai atrapalhar. A gente está disposto a ir até o final de maneira forte. Alinhamos uma ótima comissão técnica e estaremos agregando esses jogadores para o Friburguense chegar à Série A1. É o que a gente precisa.”

Publicidade
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 79 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: