Aceitar a impotência alivia

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Não podemos mudar as pessoas. Elas continuarão a ser o que são apesar de nossos esforços para tentar mudá-las. Uma pessoa só muda quando ela quer e decide fazer algo neste sentido. Já é difícil mudar a nós mesmos, não é? Imagine tentar mudar uma outra pessoa! A ideia de que você pode mudar outra pessoa é uma ilusão.

Há alguns anos recebi um pedido de ajuda de uma jovem que namorava um rapaz por quem ela se dizia apaixonada. Ela disse que o rapaz era ótimo, mas só tinha um “probleminha”, ele gostava de fumar maconha. Em seguida ela disse que tinha certeza de que o amor dela por ele seria eficaz para mudar o rapaz no sentido dele abandonar o uso desta droga. E me perguntou o que eu achava.

Muita gente boa e inteligente acredita que seu amor é capaz de mudar alguém. Isto é perigoso porque pode chegar à prepotência ou arrogância. Expliquei para a jovem que o que ela chamava de amor pelo rapaz não era suficiente para fazer com que ele deixasse a maconha de lado. Ele só abandonaria a droga se ele quisesse e tomasse uma decisão neste sentido. O sentimento dela por ele não tinha poder para causar esta mudança nele.

Uma das lutas em nossa vida pode ser aceitar nossa impotência diante do comportamento ruim de outra pessoa. Somos impotentes diante do comportamento desagradável de outra pessoa com quem convivemos, diante da corrupção política, e de outras coisas. Pode ser que a pior luta seja em relação a alguém que nos machuca, preocupa, trás problemas, e não quer ajuda. Como ajudar quem não quer ajuda, não é?

Mas pense bem, aceitar nossa impotência sobre o comportamento de outras pessoas pode realmente nos aliviar de fardos pesados. É muito pesado carregar uma responsabilidade de mudar alguém que talvez não queria mudar, ou não quer neste momento da vida. E a dificuldade envolve sentirmos algum tipo de sofrimento porque o outro continua com comportamento ruim, que mesmo que não nos prejudique diretamente, pode nos deixar tristes porque aquela pessoa sofre com sua postura de não mudança e temos uma ligação afetiva com ela.

Se você tem tentado mudar alguém, desista. Estou falando de pessoas adultas e não de comportamentos disfuncionais de crianças sobre as quais, como pai e mãe, temos a tarefa de educar para corrigir possíveis erros comportamentais. Não gaste seu tempo manipulando pessoas. Abra mão do controle. Controlar o outro é uma ilusão.

Para muitos a ideia de abandonar o controle pode assustar, porque para estas pessoas o sentido da vida tem sido tentar controlar o outro, e abandonando esta postura, pensam elas, “o que vai ser da minha vida?”. O sentido de sua vida é tentar controlar uma pessoa? Viver assim é perder a vida. E o controlador, aquele que não aceita a impotência diante da ideia de mudar alguém, acaba não mudando ninguém e ainda gasta tempo precioso de sua vida, que poderia ser usado para outras coisas produtivas, úteis, de valor, eficazes.

Alguns podem se sentir mal diante da ideia de abandonar a tentativa de controlar o outro porque a ideia de controlar pode estar misturada com a sensação de ajudar. Se parar de tentar controlar, isto significará egoísmo? É egoísmo deixar uma pessoa adulta fazer o que ela quer fazer, mesmo que seja algo ruim para ela e que nos atinge de certa forma? Ou é libertação de um jugo pesado que não precisamos carregar?

Li uma frase que dizia assim: deixe de ser responsável pela pessoa e seja responsável para com ela. Parece igual, mas é diferente. Ser responsável pela pessoa significa assumir as consequências dos erros dela, o que é injusto para quem assume. Ser responsável para com a pessoa, é oferecer ajuda e respeitar as decisões dela sobre aceitar ou rejeitar este oferecimento compassivo e deixar que ela assuma as consequências do que decide fazer.

Temos que ter cuidado para não perder a vida que Deus quer que vivamos por causa de querer controlar a vida de pessoas que não querem mudar para melhor. Deixá-las viverem como elas escolhem não é egoísmo. É respeito por elas e por você mesmo.

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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