“Nunca imaginei sair numa sexta-feira, do meu trabalho, sem saber quando voltar. No sábado tinha marcada uma reunião com outras professoras para mais um estudo aprofundado da BNCC. Nesse encontro, além dos estudos, trocamos ideias, assistimos aos telejornais e compartilhamos nossas inseguranças. Saí da reunião e comecei a me aprofundar nas informações que chegavam sobre a quarentena. Mais tarde, recebo o comunicado oficial de ambas unidades escolares, falando sobre a suspensão das aulas, a princípio, por 15 dias. Como assim? E as atividades de Matemática que teriam continuidade na próxima segunda-feira? E aquele papo amigo e cheio de sentimentos com meus pequenos sobre as novidades do fim de semana? Tudo era muito estranho”.
Esse é o relato da professora Inahiara Venancio da Sila Menezes, 23 anos dedicados à Educação, sobre como se sentiu quando soube do fechamento das escolas. Ela é diretora adjunta da E.M. Bernardo Pacheco, desde 2013, e professora de alfabetização no Colégio Anchieta. Confira a entrevista:
Caderno Z: Que providências foram tomadas pelas escolas onde leciona?
Inahiara Venancio: As primeiras orientações que chegaram foram de cuidados para com nossa saúde e de familiares, leituras que nos trouxessem calmaria e, também, um reforço pedagógico, no sentido de ir direcionando novos caminhos no processo educacional. Na escola privada, houve um direcionamento ágil para o agendamento de formações que nos levassem ao conhecimento de novas ferramentas tecnológicas e sobre o ensino híbrido e as aulas remotas, o que possibilitou o envio de mensagens e atividades pela plataforma digital, que já funcionava, e o agendamento de encontros com a comunidade escolar na busca de partilhas e auxílio mútuo. Já na escola pública, de forma imediata, foi lançado um site para atender os alunos com atividades contextualizadas, preparadas pela equipe da Secretaria Municipal de Educação e com contação de histórias por um canal de vídeos.
Como se sentiu em relação a essas duas realidades tão distantes?
Como professora de redes distintas, há anos, sempre tomei como propósito me dedicar igualmente para atender ambas realidades. Tenho ciência do que cada uma me traz de retorno e do apoio concreto ao desenvolvimento do meu trabalho, vindo por partes dos coordenadores e diretores. Em relação à rede privada, me senti tranquila no sentido de poder contar com uma estrutura adequada, tanto por parte do colégio, quanto por parte dos alunos/familiares, para dar continuidade ao processo que estávamos desenvolvendo. Entretanto, não posso esconder minha tristeza e preocupação em saber que muitos alunos da rede pública não têm as mesmas oportunidades e condições de aprendizagem nesse “novo normal” que vem se apresentando.
Que avaliação faz dos resultados alcançados por alunos da escola particular e da pública?
Na rede privada, iniciamos nossas aulas logo após os 15 dias de suspensão dos encontros presenciais, em março. Desde então, tudo vem sendo direcionado com muita responsabilidade, estreitando laços entre família e escola, e trabalhando pelo êxito em nossas práticas. Com orientações da equipe pedagógica, intervenções necessárias com profissionais que possam ajudar alunos e familiares em conflitos que a própria pandemia trouxe (desânimo, inseguranças, ansiedade), criação de materiais (vídeos, atividades impressas) com criatividade e objetividade. Os alunos têm atingido de forma satisfatória os objetivos e com excelente assiduidade.
Já na rede pública municipal, as aulas foram iniciadas em agosto, ou seja, há pouco tempo. Estamos num período de busca pelos alunos e familiares, e de estímulo à aceitação dessa nova forma de estudar. Contudo, percebemos a grande dificuldade que os alunos encontram para esse acesso virtual. Então, nossa equipe decidiu utilizar o telefone celular como mais um meio de contato com pais e alunos. A intenção é orientá-los e acompanhar as atividades impressas e sugeridas pelas professoras. Todavia, poucos alunos têm entrado em contato e tido acesso devido, até porque, precisam aguardar os responsáveis chegarem do trabalho para terem acompanhamento e celular. O pouco retorno que tivemos até o momento tem sido, dentro das condições de cada aluno, satisfatório. Mas, uma avaliação de todo o processo educacional seria precipitada. As atividades impressas foram entregues para a maioria dos alunos da rede municipal e a logística busca atendê-los assim, até que possamos retornar, com segurança, ao espaço escolar.
Como se preparou para atingir seus objetivos?
Para melhor atender aos meus alunos, precisei comprar novas ferramentas que facilitaram meu trabalho e me fizeram ter um produto final de qualidade. Comprei um novo celular e um computador. Também criei, em minha casa, um ambiente com lousa, pilot, cartazes, livros, jogos e fantoches – uma sala de aula virtual.
O que acha da volta às aulas presenciais?
Vejo uma estrutura diferenciada para um retorno seguro das aulas presenciais no colégio privado onde trabalho, a começar pelo espaço físico, que permite a circulação das pessoas com segurança e distanciamento indicado. Houve um direcionamento para uma nova organização dos ambientes e higienização, treinamentos para manter o distanciamento dos alunos e uso de máscara. Assim como constantes reuniões entre direção e pais/responsáveis, em busca de um possível retorno seguro para toda a comunidade escolar.
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