O Dia Mundial da Alfabetização é comemorado nesta terça-feira, 8. Ela não é apenas um processo de aprendizado da leitura e escrita, mas também um dos fatores para o desenvolvimento de uma nação. Com isso, vários países nas últimas décadas vêm assumindo o compromisso de combater o analfabetismo.
“Alfabetizar para mim é um prazer. Me sinto lançando sementes, abrindo as janelas do mundo e de alguma maneira, me tornando eterna na vida deles”
Paula Tavares
A alfabetização é fundamental para o desenvolvimento pleno das crianças, sendo um direito de todas elas. Pessoas que possuem um nível insuficiente de alfabetização acabam ficando à margem da sociedade, como menos oportunidades na vida, já que o analfabetismo exclui a pessoa do acesso às informações mais básicas.
Aqui no Brasil, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 12,8 milhões de brasileiros acima dos 15 anos – 8% da população nessa faixa etária – não são alfabetizados.
Na pandemia, essa etapa tão importante da vida, se tornou um verdadeiro desafio. Confira a entrevista exclusiva feita pelo Caderno Z com a alfabetizadora friburguense Paula Ramos Miranda Tavares, 40 anos, que trabalha no Pontinha de Sol (Centro Educacional Monnerat / CEM).
Caderno Z: Passamos por uma reviravolta neste ano por causa da pandemia. Como foi se reinventar para dar aulas em um momento tão delicado e inédito?
Paula: Foi um susto no início, com um pouco de insegurança e medo. Quando soubemos que as aulas não retornariam, e que o ensino remoto seria uma realidade, nos preparamos da melhor forma para encarar o momento. Pensando em nossos alunos, respiramos fundo e aceitamos o desafio.
Como é alfabetizar um aluno virtualmente?
As crianças possuem uma visão diferente da nossa a respeito do virtual, para eles é algo mais simples de compreender, faz parte da geração e do dia a dia deles. Quando nós, professores, compreendemos que eles nos entenderiam, coube a nós reorganizar nossa prática. O processo se deu naturalmente, com aulas planejadas e adequadas à nova realidade. A presença da família é fundamental nesse período, eles são minhas mãos e olhos do outro lado da telinha.
Como os alunos estão lidando com este cenário?
Tenho consciência de toda ansiedade, da falta que sentem da escola, viver isso tudo não está sendo fácil para eles. Assim como nas aulas presenciais, há dias onde estão mais dispostos, outros em que nem tanto.
Qual o feedback que você está tendo dos seus alunos? Eles estão conseguindo aprender sem muita dificuldade?
A aprendizagem é visível. Eles estão lendo e escrevendo palavras, frases, enunciados e pequenos textos. Como em sala de aula, são diferentes, cada um deles tem seu tempo e ritmo. Deixo isso claro para o grupo. Chegaremos todos ao mesmo lugar.
Qual orientação você quer deixar para os pais que estão com os filhos em casa e que estão ajudando vocês nessa etapa importante da vida, que é aprender a ler e escrever?
Eu peço que não desistam, não comparem, não cobrem além do que eles podem oferecer neste momento. A leitura diária é importante e eficaz. Não deixem de fazer as leituras, incentivem para que utilizem o que já aprenderam, escrevendo bilhetes para a família e amigos, fazendo a lista de compras, coisas simples, mas que os fazem perceber que a escrita e leitura tem uma função.
Para você, o que é alfabetizar e qual é o sentimento de fazer isso acontecer?
Eu acreditei desde o princípio que seria possível alfabetizar a distância e que os pais seriam capazes de fazê-lo em parceria comigo. Sou uma professora alfabetizadora que foi alfabetizada em casa, por minha mãe. Eu acreditei que seriam capazes, pois eu vivi essa experiência. Alfabetizar para mim é um prazer. Ver as crianças expressando sentimentos através das palavras, percebendo-se capazes de ler... me sinto lançando sementes, abrindo as janelas do mundo e de alguma maneira, me tornando eterna na vida deles.
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