Os historiadores dizem e há registros de que a poesia chegou ao Brasil com a vinda dos portugueses em 1500. Entretanto, as terras, então, descobertas, eram habitadas pelos indígenas. E poderia haver coisa alguma mais poética do que adorar o Sol, a Lua, as águas, as matas e tudo o mais ao redor, tendo com eles uma relação de amor e respeito? A poesia estava ali, só faltava ser escrita.
Ainda era a Terra de Vera Cruz, do Monte Pascoal quando Pero Vaz de Caminha descrevera tão bem em sua carta ao rei:
“Esta terra, Senhor (…) De ponta a ponta é toda praia (…) Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados (...) Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! (…)”
O padre José de Anchieta que escrevera o “Poema à Virgem” nas areias da Praia de Iperoig, escreveu, entre os demais de sua alma poética, o poema Feitos de Mem de Sá: “(...) Enquanto a fé e a lei de Deus e nome de Cristo / forem reverenciados no hemisfério austral, / os sucessores que empunharem teu bastão glorioso / seguirão tua trilha sem arredar passo.” E o Brasil passou a ser a terra de grandes expoentes da literatura poética.
Gregório de Matos, (1636-1696) está na lista dos primeiros poetas brasileiros. Mas, sabe-se lá como era ser um poeta de versatilidade tamanha no século XVII? Sua poesia penetrou desde os recônditos sombrios das vivências humanas aos risos escancarados das sátiras, mesclando lirismo e até religião.
(...) As durezas da cera o Sol abranda / e da terra as branduras endurece / atrás do que resiste o raio se anda. / Quem vence a resistência se enobrece / Quem pode, o que não pode, impera e manda / quem faz mais do que pode, esse merece.”
Castro Alves, o poeta dos escravos, do Navio Negreiro, usou e abusou de sua poesia para defender a luta dos oprimidos. Defendendo causas sociais, em especial, a abolição da escravatura, dedicou-se também ao lirismo, com recursos da sensualidade: (...) Vem! É tarde! Por que tardas? / São horas de brando sono / Vem reclinar-te em meu peito / Com teu lânguido abandono!... / 'Stá vazio nosso leito… / (do poema “Onde estás?”)
Sem qualquer intenção de fazer um relato cronológico da poesia e de seus autores, não há como se chegar aos dias de hoje sem buscar no passado as raízes daqueles que plantaram seus versos, suas ideias e seus ideais.
A Semana de Arte Moderna abriu uma imensa trilha para a revolução poética; para tirar a poesia de sua moldura estruturada em métricas, rimas, no sentido completo, dando, sim, sentido ao que, muitas vezes, nem se explica nem deve ser questionado.
Para citar alguns, que desçam aqui nas folhas do Caderno Z, Mário de Andrade, com sua Eterna Presença: “Este feliz desejo de abraçar-te / Pois que tão longe tu de mim estás / Faz com que te imagine em toda a parte / Visão, trazendo-me ventura e paz…”
Em Drummond de Andrade temos o moderno, o antigo, a singeleza e o exuberante, os extremos das mais variadas formas de poetizar a vida. Sua visão abrangente deu-lhe espaço suficiente para ir aos quatro cantos do mundo poético e aterrizar em nossos corações. Sensível, pensou nas mães: “Eu preparo uma canção em que minha mãe se reconheça, todas as mães se reconheçam e que fale como dois olhos...”
Quando Cora Coralina lançou seu primeiro livro, aos 75 anos de idade, provavelmente, em sua simplicidade, não deve ter imaginado o quanto conquistaria de aplausos por sua doce arte literária. Entre doces e compotas, adoçou, com sua poesia, a arte literária do Brasil.
Meu Destino — “Nas palmas de tuas mãos / leio as linhas da minha vida. / Linhas cruzadas, sinuosas / interferindo no teu destino. / Não te procurei, não me procurastes / íamos sozinhos por estradas diferentes. / Indiferentes, cruzamos / Passavas com o fardo da vida… / Corri ao teu encontro. / Sorri. Falamos. / Esse dia foi marcado com a pedra branca da cabeça de um peixe. / E, desde então, caminhamos / juntos pela vida…”
(Por Elisabeth Souza Cruz)
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