Palco de grandes bailes, sobretudo de carnaval, o salão social do Clube de Xadrez, onde funcionou o Centro de Convivência da Pessoa Idosa, vendido a um grupo de investidores para a construção de um prédio, não é tombado e pode até ser demolido. A notícia da venda foi antecipada por Wanderson Nogueira na coluna "Observatório" no início desta semana, causando comoção em Nova Friburgo.
A VOZ DA SERRA apurou junto à diretoria do clube que em 2015 o terreno hoje integralmente ocupado pelo Xadrez, totalizando quase cinco mil metros quadrados, foi desmembrado em dois lotes - um no número 151 e o outro no número 153 da Avenida Galdino do Valle Filho.
O lote 151, com 2.190 metros quadrados, é o que abriga há 94 anos a sede tombada. O charmoso prédio em estilo mourisco (SAIBA MAIS AQUI), com um pequeno salão de festas e varanda, e que já ganhou um pavimento extra, teve a fachada e a volumetria (dimensões que determinam o volume da construção e também o tamanho e o formato originais do terreno) tombados por decreto municipal em novembro de 2012. Ali, junto à sede, também ficam o parque aquático, o bar e a academia do clube, que continuarão funcionando.
O lote que foi vendido é o 153, com 2.446,14 metros quadrados, onde funcionava o Centro de Convivência da Pessoa Idosa Zilma Mussi Gervásio, composto do salão social gigante e quadra de esportes. Esse prédio, construído muitos anos depois da sede (as atas foram perdidas na tragédia de 2011), imita o estilo da sede, mas não é tombado e está com aspecto de abandono (foto abaixo).
Clube afogado em dívidas
A venda realizada em março, segundo a presidente do clube, Alda Helena Medeiros, foi a única saída para desafogar o Xadrez de mais de 20 anos de dívidas que já somavam quase R$ 3 milhões, devido a multas judiciais. Falido, o clube chegou a ir a leilão por quatro vezes.
Segundo Alda, desde o governo Saudade Braga (2001-2008) o clube tentou a desapropriação do salão social, dando prioridade ao município, como reza o estatuto. Vários governos se sucederam, todos acenaram com a possibilidade, mas nenhum assinou o cheque.
Em 2005, o salão passou a ser alugado, por cerca de R$ 10 mil mensais, para as atividades do Centro de Convivência da Pessoa Idosa. Ao assumir em janeiro deste ano, o prefeito Johnny Maycon (Republicanos) decidiu suspender o contrato, alegando ter outras prioridades. A venda foi a única saída.
“Com a pandemia, tivemos que fechar a piscina, o restaurante, a academia, o bar. Os sócios desapareceram, o auxílio social do governo que ajudava a manter os funcionários em casa também acabou”, conta Alda, relembrando as dificuldades que passou.
O que diz a prefeitura
A Prefeitura de Nova Friburgo afirma que o imóvel do Clube de Xadrez é particular, embora o município já tenha alugado o espaço por vários anos. “Quando tinham recursos para adquirir o espaço, as gestões anteriores mantiveram apenas o aluguel, o que não foi mais possível à atual gestão sustentar, tendo em vista que as atividades para idosos que eram oferecidas ali tiveram que ser interrompidas devido à pandemia. Há poucos meses, os proprietários questionaram a administração municipal se havia interesse na compra, mas infelizmente não há recursos disponíveis nos cofres públicos para o investimento neste momento. Lembramos que a prefeitura não tem poder de impedir a venda de um bem privado e que os proprietários, independente do projeto que tenham para o imóvel, deverão respeitar o que consta da legislação”, informou através de nota.
Segundo a prefeitura, ainda não tramita nenhum projeto de licença de obra nos setores competentes. Fontes ouvidas por A VOZ DA SERRA dizem que o prédio seria residencial, dentro do gabarito de cinco andares da área e que o terreno foi vendido por R$ 5 milhões.
A Secretaria Municipal de Assistência Social informou que está trabalhando para dispor de um espaço visando à reativação do Centro de Convivência. O projeto chegou a atrair mais de 200 idosos com atividades físicas, de recreação e atendimentos de saúde.
Veja, na galeria abaixo, detalhes do Clube do Xadrez hoje.
IMÓVEIS TOMBADOS EM FRIBURGO
O tombamento da sede do Clube de Xadrez (Avenida Galdino do Valle Filho, 151) consta do decreto 268 de 26/11/2012, que, juntamente com o 267 de 26/12/2012, consolida, segundo a Fundação Dom João VI, a preservação de mais de 150 imóveis em Nova Friburgo. O decreto 268 ratifica tombamentos feitos anteriormente pelo Iphan (âmbito federal) e pelo Inepac (estadual), enquanto o 267 inclui a residência de Galdino do Valle Filho, que havia ficado fora da lista.
Integralmente tombados (fachadas, telhados e volumetria)
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Residência de Galdino do Valle Filho
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Prédio da Usina Cultural
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Sobrado do Willisau Center
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Antigo Fórum Julio Zamith
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Prédio dos Correios, na Praça Getúlio Vargas
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Chalé onde morou conselheiro Julius Arp, na avenida com seu nome, 80, hoje o restaurante Colonial Gourmet, no Espaço Arp
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Villa Tico-Tico, na Alameda Princesa Isabel 317 (Vale dos Pinheiros)
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Três casas na Rua Paraná, no Bela Vista
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Residência na Rua Conde D’Eu
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Cinco imóveis na Rua General Osório, entre eles o Colégio Modelo, a casa dos Pobres, a Casa Madre Roselli e a residência da família Celles Cordeiro
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Residência do médico Salim Lopes, na Rua Fernando Bizzotto
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Duas casas (Villa Maria e Villa Serra Nova) na Rua José Tessarolo dos Santos (antiga Baronesa), no Paissandu
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Casa da antiga delegacia na Rua Teresópolis, pertencente à Afape
Apenas fachadas e volumetria tombadas
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Dois imóveis na Avenida Galdino do Valle Filho, incluindo a sede do Clube de Xadrez (número 151)
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Quatro casas na Rua Francisco Mielle
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Casa na Rua Sete de Setembro, já na altura da Praça Getúlio Vargas
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25 imóveis no entorno da Praça Getúlio Vargas
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Sobrados nas esquinas da Praça Dermeval Barbosa Moreira com Rua Monsenhor José Antônio Teixeira (antiga Rua São João)
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Três imóveis na Rua Monsenhor José Antônio Teixeira (antiga Rua São João)
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Três imóveis na Rua Ernesto Brasílio
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Casa na Rua Eugênio Muller
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Um imóvel na Rua Farinha Filho (número 30)
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Dois imóveis na Rua Monte Líbano (14 e 18)
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Dois imóveis na Avenida Comte Bittencourt, incluindo a casa do Centro Espírita Friburguense
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Três imóveis na Rua Dante Laginestra, incluindo o antigo Hotel Avenida
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Sede da banda Euterpe Friburguense e outros sete imóveis na mesma avenida
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Dois imóveis na Rua Monsenhor Miranda, entre eles o Hotel São Paulo
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Duas casas na Rua Augusto Spinelli
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Prédio da Escola de Música da Universidade Candido Mendes, na Vilage, e outros quatro imóveis na Rua Maria Rosalina Bravo
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Cinco casas na Rua Aristão Pinto
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Prédio do antigo Hotel Floresta, na Lagoinha
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Sede do Hotel Dominguez Plaza, na Praça do Suspiro
Apenas fachadas tombadas
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Sobrado da antiga sapataria Bota Preta e mais 27 imóveis na Avenida Alberto Braune
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Três casas na Rua Augusto Cardoso
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Sete casas na Rua Fernando Bizzotto, como a Villa Eliza, o antigo Hotel Montanus, hoje com prédio novo erguido atrás, e a antiga sede de A VOZ DA SERRA
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Treze casas na Rua Oliveira Botelho, entre elas a Villa Carmem
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Seis casas na Rua General Osório, incluindo a Villa Maria
Também tombados pelo Iphan
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O chalet e os jardins do Nova Friburgo Country Clube
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A Praça Getúlio Vargas, incluindo seus eucaliptos
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O Park Hotel.
Também tombados pelo Inepac
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Colégio Anchieta
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Sanatório Naval
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Capela de Santo Antônio
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Antiga Faculdade de Odontologia, hoje UFF
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Antiga sede da LBA, na Rua Augusto Spinelli
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Palácio Barão de Nova Friburgo, o prédio da Prefeitura, antiga estação de trem
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Catedral São João Batista,
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Prédio da Cúria Diocesana, na Rua Monsenhor Miranda
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Usina Cultural, antiga residência do Barão de Nova Friburgo
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Colégio Nossa Senhora das Dores
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Prédio do Ienf, antigo Grupo Escolar Ribeiro de Almeida
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Conjunto da antiga Estação Ferroviária de Riograndina.
A ideia, segundo reportagem publicada por A VOZ DA SERRA em 2013, foi resguardar ao máximo a forma urbana original da cidade: o Paissandu, a Vila (Praça Getúlio Vargas, Dermeval Barbosa Moreira e a Vilage) e a Avenida Alberto Braune. As plantas da colonização do município, datadas de 1818, foram o ponto de partida, levando em conta o Plano Diretor, que criou as chamadas Zonas Especiais de Interesse do Patrimônio Cultural (Zeipacs).
A escolha dos imóveis levou em conta três aspectos: valor arquitetônico, valor histórico e técnica construtiva. Em Nova Friburgo quase não existe mais a ideia de conjunto, como em Ouro Preto-MG e outras cidades históricas: está tudo pulverizado, um imóvel antigo aqui, outro ali. Algumas casas ficaram de fora porque estariam com problemas estruturais graves.
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