Opinião: a expulsão do prefeito do Partido Republicanos

Ele argumenta discordar da atual direção partidária, exercida pelo prefeito de Belford Roxo, Waguinho
terça-feira, 03 de outubro de 2023
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Arquivo AVS/Henrique Pinheiro)
(Foto: Arquivo AVS/Henrique Pinheiro)

É comum prefeitos trocarem de partido no exercício do mandato. São eleitos por uma sigla e, na maioria das vezes - por verbas públicas, cargos ou acordos políticos - migram para o partido do governador. Raro é um prefeito se manter fiel e, independente das tentações, ficar no mesmo partido e com o grupo que o ajudou a ser eleito. Mas mais raro ainda é um prefeito, no exercício do mandato e declaradamente candidato à reeleição, ser expulso. O que torna a expulsão de Johnny Maycon do Republicanos icônica.

Em tempos de narrativas, cada um contará uma história. O método bastante utilizado pelo atual prefeito se repete na sua expulsão do Republicanos: a vitimização. Ele nunca é culpado por nada, se diz perseguido, se auto-intitula “contra-sistema”. Que sistema? Afinal, só para exemplificar, o número de cargos de confiança na prefeitura é quase o dobro do governo anterior. Os métodos de transparência não mudaram ou retrocederam, fazendo Nova Friburgo ter a 36ª pior transparência do Brasil, segundo o ranking de Competitividade dos Municípios 2023. Esses e outros dados não mostram um governo contra-sistema.   

Vale ressaltar que a lei de fidelidade partidária não abrange cargos do Executivo. Portanto, na letra fria da lei, prefeitos, governadores e presidente, assim como senadores, podem trocar de partido a bel-prazer, arcando com os prejuízos políticos. Diferente de vereadores, deputados estaduais e federais, onde as trocas durante o mandato se dão apenas na janela pré-eleitoral ou por acordos entre a sigla que deixa e a que recebe o filiado. Recentemente, um desses supostos acordos, envolvendo também o Republicanos de Nova Friburgo foi parar na Justiça, com o PSB perdendo um vereador. 

No caso de Jhonny Maycon não houve acordo, nem troca e não deve ter briga na justiça. Ele foi expulso! Ele argumenta discordar da atual direção partidária, exercida pelo prefeito de Belford Roxo, Waguinho. Nos bastidores, se comenta abertamente que Johnny Maycon procurou Waguinho, quando este ainda era presidente do União Brasil. Certamente não foram discutidas a relação entre Nova Friburgo e a Baixada Fluminense. Dizem: o prefeito friburguense queria a sigla. Para sorte ou azar, semanas depois da conversa, Waguinho migra para o partido de Johnny e ainda assume a direção do Republicanos. Portanto, dizer que discorda de quem teria ido à procura tempos antes, parece no mínimo estranho. 

Para aliviar sua expulsão, diz que discorda da filiação de Eduardo Cunha, que, diga-se, está com domicílio eleitoral em São Paulo. Se discorda, então porque esperou ser expulso em vez de simplesmente sair? Dizer agora que atende a um pedido do governador Cláudio Castro, que apoia e segue o governador - fere a mínima inteligência. Se assim fosse, deveria ter feito a troca, no mínimo, na última eleição geral. E não se pode esquecer que o Republicanos é base do Governo do Estado.   

Se são tempos de narrativas políticas que alimentam, especialmente, as polarizações, não se pode esquecer que narrativas necessitam de credibilidade. O tabuleiro político local se move e mesmo a um ano da eleição, as peças já estão colocadas. Diferentemente do último pleito, em meio à pandemia, o cenário parece mais claro e vai evidenciando que não teremos o absurdo número de 16 candidatos. Em meio a candidatos pouco expressivos para não dizer desconhecidos, venceu com maioria mínima aquele que tinha a base fielmente mais organizada, somada ao histórico de oposição ferrenha a um então prefeito mal avaliado. A aposta para 2024 é de quatro a seis candidatos, sem grande espaço para 3ª via, seja ela de direita ou de esquerda, mais ao centro ou menos ao centro em cada polo.

O trabalho tem sido, a pseudo esquerda tentando dividir a auto intitulada direita e vice versa. Matemática simples, nada genial. Mas quem é de fato direita e esquerda? Confuso. Quando se olha para o governo municipal, por exemplo, se vê ex-filiados à siglas como Psol (esquerda) e gente de saída do PSB (centro-esquerda). O prefeito fez campanha para Bolsonaro, mas a máquina local não se esforçou para dar os votos esperados por quadros da direita como Carlos Jordy e tampouco apoiou de forma franca Luiz Lima. Também não se esforçou por nomes do Republicanos, a não ser pela candidatura a estadual local. Direita e bolsonarismo até onde interessa? Até onde se sustenta a conveniência? 

Folha de pagamento extrapolada, briga com o vice, contingência financeira, não pagamento do salário base do magistério e da enfermagem, anúncios de obras que só ficaram no anúncio, festas contestadas, licitação do transporte público não realizada, contrato do lixo vencido, briga com o Laje, fechamento da Escola Neuza Brizola, imobilidade urbana e uma fila de problemas que vêm de longe como a falta de tudo no Hospital Raul Sertã e famílias à espera de vagas em creches. O governo atravessa momento delicado em que a expulsão de Johnny Maycon do Republicanos é o menor dos problemas. 

Portanto, o maior desafio do prefeito, não é encontrar um novo partido, ainda que portas aparentam estar fechadas. Há, na pior das hipóteses para ele, siglas nanicas à sua espera ou mesmo, com algum esforço, um partido mais tradicional. Se nessa frente, terá que enfrentar caciques políticos locais, difícil mesmo é o povo, pois os até então desatentos passam a observar que populismo antiquado e firulas nas redes sociais não são mais o suficiente.

Publicidade
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 79 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: