A Academia Americana de Oftalmologia (AAO) estimou que em 2050 metade da população mundial terá miopia, distúrbio visual cuja principal característica é a dificuldade de ver de longe. Um dos principais motivos para isso é o uso excessivo de telas digitais, como tablets, celulares, videogames e televisão por crianças e adolescentes.
As principais vítimas têm sido os jovens. Atualmente o número de prescrições de óculos dos oftalmologistas no Brasil triplicou para crianças de 6 a 8 anos, comparado há cinco anos. Estima-se que 20% dos jovens em idade escolar hoje são diagnosticados com doenças visuais. Fazem parte deste grupo as chamadas condições de erro de refração, ou seja, quando o olho não permite uma refração apropriada da luz e a imagem que o paciente enxerga é turva, embaçada ou opaca. Como a miopia, hipermetropia, astigmatismo e a presbiopia (ou vista cansada).
A miopia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi eleita como um dos problemas de saúde pública que mais crescem no mundo. Até os cinco anos, por exemplo, o número de crianças que sofre de miopia é de cerca de 1%. Aos 10 anos, a porcentagem sobe para 8%, e aos 15 anos chega a 15%.
O Hospital de Olhos (SP), observou um aumento de 23% nos diagnósticos de miopia em crianças de 0 a 12 anos no primeiro semestre de 2021, comparado com o mesmo período deste ano — de 421 pacientes para 538 nos primeiros seis meses de 2022.
“É importante que os pais busquem um oftalmologista logo no primeiro ano de vida da criança e leve-o com frequência ao especialista, pelo menos uma vez ao ano. Nessa fase eles estão em pleno desenvolvimento. Se não tratar, os problemas podem ir aumentando exponencialmente”, explica a oftalmologista Helena Maria Costa Oliveira, do Hospital de Olhos.
O cenário torna-se ainda mais delicado frente ao fato de que crianças com problemas de visão têm risco maior de desenvolver depressão e ansiedade. Segundo especialistas, a saúde mental delas é afetada porque tendem a ficar mais isoladas socialmente, diminuir as atividades físicas e ter queda no rendimento escolar por não enxergarem adequadamente.
Como evitar
A Sociedade Brasileira Oftalmologia Pediátrica (SBOP) junto com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta os pais a estimularem os filhos a olhar mais para o horizonte. Isso pode ser feito de forma lúdica, por meio de brincadeiras ao ar livre, onde tenham que visualizar objetos distantes.
A exposição de telas deve ser evitada para crianças menores de 2 anos. Até os 5 anos, deve-se limitar o tempo ao máximo de uma hora por dia, com a supervisão de pais e responsáveis. Para crianças com idade entre 6 e 10 anos, o tempo limite deve ser de duas horas por dia e adolescentes até três horas.
“Toda vez que nós olhamos de perto para algo, um tablet, computador, ou até ao ler um livro, há a contração do músculo ciliar, também chamado de músculo do foco. Um dos fatores da miopia é a contração exagerada desse músculo.
Ao olhar para o horizonte, ou mesmo para uma distância considerada saudável, de seis metros, esse músculo relaxa. Por isso, quanto mais distante olhar, menores são as chances de desenvolver miopia”, explica Francisco Max Damico, oftamologista e professor livre docente da faculdade de medicina da USP.
Entretanto, o médico afirma que crianças com disposição genética para ter miopia, provavelmente terá. O que pode ser feito neste caso é impedir que o grau da condição aumente por questões comportamentais.
Crianças menores ainda não conseguem entender e explicar para os pais que não estão enxergando direito, ou que a visão está embaçada, por isso alguns sinais observados nos filhos é de extrema importância: desviar o olhar com frequência, dores de cabeça constante, se aproximar demais da televisão e fazer caretas quando estão assistindo um desenho, estão entre os possíveis sinais.
Exame ocular, a melhor prevenção
O tratamento mais comum para crianças continua sendo a prescrição dos óculos com a lente específica para cada grau de condição, uma vez que, com exceção de casos raros e de extrema gravidade, os oftalmologistas não costumam operar crianças, e não é indicado para certas faixas etárias o uso de lentes de contato, por ser um objeto que precisa de técnica para manusear, higienização frequente e que pode machucar os olhos da criança se manipulado de forma errada.
Em alguns casos específicos, o oftalmologista pode optar por prescrever um colírio de atropina a 0,01%, cujos estudos mostram que pode reduzir em até 50% a progressão da miopia, apesar de ter alguns efeitos colaterais como a perda da visão de detalhes por causa da dilatação da pupila, aversão à luz e ardência nos olhos. Por isso o ideal é instilar o medicamento antes de ir dormir.
“Depois dos 13 anos, a visão já está desenvolvida, logo, se ela começar o tratamento para a doença visual nesta idade, as chances de ter uma visão saudável em anos futuros são menores”, alerta Marina Roizenblatt, oftalmologista especialista em retina cirúrgica e médica voluntária do Hospital São Paulo.
“Para evitar o aumento da doença, é importante procurar equilibrar atividades que envolvam visão de perto e visão de longe, estimulando as crianças a irem para espaços abertos. Mas a grande prevenção é sempre o exame ocular”, diz o oftalmologista Almir Ghiaroni, coordenador das sessões de oftalmologia do Centro de Estudos do Hospital Copa Star, no Rio de Janeiro. (Fonte: Por Eduardo F. Filho | O Globo | www.abrafarma.com.br/)
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