Nesta sexta, 124 anos do cinema brasileiro

Entre avanços e recuos, a indústria cinematográfica nacional resiste
sexta-feira, 19 de junho de 2020
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Nesta sexta, 124 anos do cinema brasileiro

Foi em 1896, na cidade do Rio de Janeiro, que foi exibida a primeira sessão de cinema, a grande novidade do setor artístico e tecnológico que vinha encantando e surpreendendo os europeus. Meses antes, os irmãos Lumière haviam apresentado, em Paris, a invenção denominada ‘cinema’ que mais tarde seria elevada à categoria de 7ª Arte. 

No ano seguinte, 1897, Paschoal Segreto e José Roberto Cunha Salles inauguraram a primeira sala de cinema, também no Rio, na Rua do Ouvidor, Centro. Era o Salão Novidades de Paris, que exibiu o primeiro filme brasileiro em 1898, rodado por Afonso Segreto: um documentário com imagens da Baía de Guanabara. Aliás, os documentários foram as primeiras produções brasileiras. 

Considerados os primeiros cineastas no país, os irmãos italianos Paschoal e Affonso deram continuidade às suas carreiras em São Paulo, com a filmagem da celebração da unificação da Itália, em 1899. No ano seguinte, início do século 20, a cidade ganhou sua primeira sala de cinema - a Bijou Theatre.

Um dos problemas iniciais da produção cinematográfica no país era a falta de eletricidade, o que somente foi resolvido em 1907 com a implantação da Usina Ribeirão de Lages, no Rio. Esse investimento acelerou a abertura de novas salas que chegou ao total de 20 novos espaços.

Já em 1912 começava a tomar forma a produção nacional que, embora incipiente, avançou com Os Três Irmãos, e Na Primavera da Vida, do cineasta Humberto Mauro, entre outras películas. Sempre evoluindo, em 1929 foi lançado o primeiro filme brasileiro totalmente sonorizado: Limite, de Mário Peixoto, um clássico da nossa cinematografia. Além de A Voz do Carnaval (1933) de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro, e Ganga Bruta (1933) de Humberto Mauro.

Em 1930, Gonzaga instalou no Rio o primeiro estúdio de cinema do Brasil: a Cinédia, que produziu comédias musicais e dramas populares. E em 1941, surgiu a Atlântida, famosa produtora das chanchadas que marcaram época, revelando cineastas como Carlos Manga. 

No fim da mesma década foi a vez do estúdio Vera Cruz tentar inovar produzindo filmes ao estilo de Hollywood. Em 1952, O Cangaceiro, de Lima Barreto, entrou no circuito internacional e foi premiado no Festival de Cannes.

Era uma vez…  uma breve história

Como vimos, no início os filmes tinham um caráter mais documental. Porém, já em 1908 o cineasta luso-brasileiro António Leal apresentou Os Estranguladores, considerado o primeiro filme de ficção brasileiro. Anos depois, em 1914, foi exibido o primeiro longa-metragem produzido no país pelo português Francisco Santos, intitulado O Crime dos Banhados.

Nas décadas de 20 e 30, o cinema nacional ganhou aliados importantes como as revistas especializadas Para TodosSelecta e a Cinearte, que noticiavam produções espalhadas por vários cantos do país, denominados ‘ciclos regionais’. 

Em 1941 teve início uma nova fase do cinema brasileiro com a inauguração da Companhia Atlântida Cinematográfica, no Rio, por Moacyr Fenelon e José Carlos Burle. Para deleite do público e dos proprietários de cinemas, um gênero cômico-musical, de baixo orçamento, popularmente conhecida como chanchada, conquistou o público que lotava as salas de exibição. Nas telas,  Oscarito, Grande Otelo e Anselmo Duarte, além de cantores(as) e atrizes. 

Franco Zampari e Francisco Matarazzo criaram a Companhia Vera Cruz, em 1949, nos moldes do cinema americano, um marco na industrialização da cinematografia nacional, em que os realizadores buscavam realizar produções mais sofisticadas. Em 1954, enquanto a Vera Cruz pedia falência, era produzido o primeiro filme brasileiro colorido: Destino em Apuros, de Ernesto Remani. 

A década de 50 começou promissora para a classe artística graças à ousadia do jornalista Assis Chateaubriand, proprietário do conglomerado Diários e Emissoras Associados, que instalou a primeira televisão do Brasil e da América Latina: a TV Tupi, que atraiu os atores desempregados da Vera Cruz.

Sobre Cinema Novo, Údigrudi, Boca do Lixo e pornochanchadas

De caráter revolucionário, o cinema novo se consolidou nos anos 1960, focado nas temáticas de cunho social e político. Mas, bem antes, ainda na década de 1950, foram produzidos filmes considerados precursores do Cinema Novo, como Rio 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos. 

Do cinema novo destacam-se as produções do diretor baiano Glauber Rocha: Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1968), e Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos (1963).      em fins da década de 60 e início dos anos 70, surge o cinema marginal denominado também ‘údigrudi’ (1968/1970). As maiores produtoras dessa vertente foram Boca do Lixo, em São Paulo, e Belair Filmes, no Rio. 

Essas produções estavam bem alinhadas com o movimento de contracultura, ideologias revolucionárias e também com o tropicalismo, movimento musical que ocorria na mesma época. Sofreu grande censura por parte do regime militar que se instaurava no país. Essa vertente foi baseada no cinema experimental de caráter radical. Um filme de grande destaque foi O Bandido da Luz Vermelha (1968), dirigido por Rogério Sganzerla. 

No começo dos anos 70, em São Paulo, as produções de baixo custo do movimento Boca do Lixo realizavam as pornochanchadas, baseada nas comédias italianas e com forte teor erótico. Esse gênero se destacou na época, fazendo grande sucesso comercial no Brasil. Como exemplo, A Viúva Virgem (1972), de Pedro Carlos Rovai. O gênero entrou em declínio na década de 80.

Embora a produção cinematográfica tenha sofrido uma queda significativa no final da década de 70, filmes como Dona Flor e seus dois maridos (1976), do cineasta Bruno Barreto, baseado em obra de Jorge Amado, fizeram sucesso, atraindo mais de dez milhões de espectadores. Além dele, filmes de comédias com a turma dos Trapalhões também atraíam milhões de pessoas.

A crise - Com a chegada do videocassete nos anos 80, a proliferação de locadoras marcou a década. Era o fim da ditadura e o despontar de uma crise econômica que levou o cinema nacional a entrar em declínio. Ainda assim, merecem destaque: Pixote, a lei do mais fraco (1980), de Hector Babenco; O Homem que virou suco (1980), de João Batista de Andrade; Jango (1984), de Sílvio Tendler; Cabra marcado para morrer (1984), de Eduardo Coutinho; e o documentário Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado. Com a chegada de Fernando Collor ao poder, a crise se agrava. Além das privatizações, o novo presidente extingue o Ministério da Cultura, acaba com a Embrafilme, o Concine e a Fundação do Cinema Brasileiro.

A retomada - Na segunda metade da década de 90, o cinema ressurge, com a produção de novos filmes. Esse período ficou conhecido como o “cinema de retomada” depois de anos patinando. A produção de filmes cresce e são criados diversos festivais no país e também a Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual, sendo implementada com uma nova legislação, a Lei do Audiovisual. A partir de 1995, o cinema brasileiro começa a sair da crise com a produção de Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1994) de Carla Camurati, o primeiro realizado pela Lei do Audiovisual. Nessa década, merecem destaques as produções O Quatrilho (1995), de Fábio Barreto, e O Que é Isso Companheiro? (1997), de Bruno Barreto. E ainda Central do Brasil (1998), de Walter Salles.

A pós-retomada - No começo deste século, o cinema brasileiro reconquistou o reconhecimento no cenário mundial, com diversos filmes indicados para festivais e Oscar: Cidade de Deus (2002) de Fernando Meirelles; Carandiru (2003) de Hector Babenco; Tropa de Elite (2007) de José Padilha; e Enquanto a Noite Não Chega (2009), de Beto Souza e Renato Falcão. Em 2015, Que horas ela volta?, de Anna Muylaert, é um sucesso, e com a introdução de novas tecnologias, como 3D, por exemplo, as produções cresceram. Alguns pesquisadores da área denominam o período como a pós-retomada do cinema brasileiro. 

Alguns dos principais representantes do cinema nacional

  • Nelson Pereira dos Santos (1928-2018)

  • Luiz Carlos Barreto (1928)

  • Eduardo Coutinho (1933-2014)

  • Helena Solberg (1938)

  • Glauber Rocha (1939-1981)

  • Silvio Tendler (1950)

  • Fernando Meirelles (1955)

  • Walter Salles (1956)

  • Tata Amaral (1960)

  • Anna Muylaert (1960)

* Fontes de pesquisa: www.uppermag.com / todamateria.com.br / editoraopet.com.br / 

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TAGS: Cinema