Na edição impressa deste fim de semana - e também no site - A VOZ DA SERRA publicou reportagem sobre a defasagem no quadro de profissionais de saúde no Hospital Municipal Raul Sertã, fato que causou grande preocupação na população friburguense, após um dos médicos que fazia parte do corpo médico expor as reais condições com as quais os funcionários precisam lidar diariamente.
Segundo o médico, pesou para seu afastamento voluntário a falta de estrutura e a insegurança de trabalhar no Raul Sertã. Ainda de acordo com ele, a direção do hospital trabalha "engessada", sem meios para contratar novos funcionários.
Em nota, o município justificou que a demanda da procura pelo pronto-socorro aumentou devido à flexibilização. “Em relação ao engessamento, o poder público segue os trâmites legais nas ações da Secretaria de Saúde. Faz-se importante salientar que, com a flexibilização, houve um refluxo de pacientes ao hospital, bem como acidentes de trânsito, agravos com armas, entre outros procedimentos.”.
Chamou a atenção na justificativa o município responsabilizar – por duas vezes – a flexibilização, programada pela própria prefeitura, à sobrecarga de atendimentos no hospital. Diante da resposta, o jornal voltou a questionar se a política da retomada das atividades seria revista, já que as regras para a métrica reguladora foram alteradas três vezes a fim de facilitar a flexibilização. O município respondeu de forma objetiva: “Não”.
Com a palavra, os friburguenses
Diante da negativa, o jornal ouviu alguns friburguenses sobre as medidas tomadas pela prefeitura para a retomada das atividades.
Para a empresária Allana Pinheiro, as medidas adotadas pela prefeitura são suficientes e adequadas. “Frisa-se que a eficácia de tais protocolos públicos depende da colaboração de toda a sociedade. Portanto, a responsabilidade não é somente do poder público, mas também dos cidadãos, que devem seguir os procedimentos de convivência durante uma pandemia”, opinou.
Já o fotógrafo Pedro Bessa discorda. Ele diz que o Executivo propiciou segurança de menos para a retomada das atividades. “A ocupação dos leitos não corresponde ao volume de novos casos e dos riscos para a população e funcionários das empresas que abrirem”. Para o fotógrafo, é preciso rever imediatamente os conceitos da flexibilização. “Deveria ocorrer com uma diminuição correspondente no número de casos. O que vimos até agora foi na direção oposta”.
Sany Mastrangrelo é professora e defende a retomada das atividades econômicas, mas, segundo ela, a população não está fazendo sua parte. “A retomada do comércio é necessária para que não haja mais desemprego. Porém, as medidas tomadas pela prefeitura devem ser seguidas à risca. Não é o que estamos vendo. O comércio está lotado, as ruas cheias, pessoas não usam máscaras. Não faltam medidas preventivas e sim fiscalização. O comércio precisa de segurança para trabalhar”.
Allana destaca ainda que, simultaneamente ao impulsionamento da economia, está a saúde psicológica. Ela afirma que uma quarentena prolongada poderia ser mais prejudicial do que o próprio vírus. “O colapso da economia afeta principalmente as camadas mais pobres da sociedade por meio do desemprego e da piora dos serviços públicos graças à queda na arrecadação de impostos. É fato que não desfrutaremos de uma rotina totalmente normal até a chegada da vacina. A melhor forma de combatermos a doença é prosseguir com nossas vidas de acordo com o "novo normal", para que a sociedade gere recursos, cuide dos doentes e invista em uma cura definitiva”.
“O município fez errado”, disse a psicóloga Emanuela Güdling. De acordo com ela, a população nunca esteve em real isolamento. “Hoje poderíamos não sobrecarregar o hospital, ainda mais sabendo que a maior parte dos trabalhadores utiliza transporte público”, ressaltou.
A empresária observou uma diminuição no avanço do vírus. “As medidas adotadas pelo poder público são baseadas em dados estatísticos. Além disso, não há mais espaço no orçamento público para extensão de projetos como o auxílio emergencial que suavizaram o trágico impacto da quarentena na economia”, pontuou Allana.
O professor Paulo Costa considerou a atitude do município como criminosa. “Se a prefeitura sabe que a flexibilização aumenta demanda do Hospital Raul Sertã e ainda assim o faz, ela assume o risco de trazer danos à população”.
“Fica a pergunta: De acordo com as regras da prefeitura, havendo uma grave piora no atendimento e qualidade do serviço no hospital (menos médicos e enfermeiras com afastamentos por contaminação do quadro de pessoal) e ter um aumento na letalidade, isso causaria um maior número de leitos vagos nas UTIs. Quer dizer que, por exemplo, se morressem todos que estão internados, de uma só vez, Friburgo entraria em bandeira verde? É a lógica nefasta do sistema de bandeiras da cidade (que é mais flexível que a própria flexibilização)”, criticou Pedro.
Os números falam
Quando o prefeito Renato Bravo publicou decreto com as regras de retomada do comércio, no dia 3 de julho passado, Nova Friburgo contabilizava 573 infectados e 39 óbitos por Covid-19. Um mês depois, em 3 de agosto, já com novas mudanças nas regras que ampliaram as medidas de flexibilização, com a criação de novos critérios e uma nova cor de bandeira, o município já registrava 1.298 infectados e 69 óbitos. No último boletim ao que a reportagem teve acesso antes de atualizar esta reportagem, o município contabilizava 2.356 infectados e 100 óbitos. No último dia 21, a prefeitura alterou pela terceira vez as regras de aferição de bandeira.
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