Memória da imprensa: em 10 de setembro de 1808 era lançado o primeiro jornal do Brasil

Há 213 anos, após a chegada da família real portuguesa, surgia no país a Gazeta do Rio de Janeiro
sexta-feira, 10 de setembro de 2021
por Jornal A Voz da Serra
A primeira edição da Gazeta do Rio de Janeiro (Reprodução da web)
A primeira edição da Gazeta do Rio de Janeiro (Reprodução da web)

Liberdade de imprensa é uma pedra de toque — referência, no caso desta matéria — para a sociedade contemporânea. Poder escrever, comunicar ideias, ter seus textos lidos e discutidos livremente fez com que várias transformações nas técnicas, no modo de organizar a sociedade e no pensamento pudessem ocorrer.

Apesar da tecnologia existir desde o século 15 com a invenção dos tipos móveis pelo alemão Johannes Gutemberg (por isso considerado o pai da imprensa), e a então crescente disseminação de diversos jornais impressos circulando na Europa desde os anos 1610, o primeiro jornal em terras brasileiras surgiu apenas em 1808, sob a pecha de “muito amistoso” em relação ao governo estabelecido.

A vinda da família real portuguesa para o Brasil, fugindo da invasão francesa ao território português e da guerra que se sucedeu, fez com que várias estruturas administrativas precisassem ser criadas e organizadas, pois não foi apenas a família reinante que veio para o Brasil, mas a própria capital do império português, que administrava terras na África e na Ásia. Portanto, a corte não podia descuidar desse domínio naquele momento de conflito na Europa, para não perder rendas e a possibilidade futura de reerguer-se.

Mas não foram transplantadas ou criadas na “nova capital do Império” apenas as instituições burocráticas, mas também toda a estrutura de lazer, cultura e conhecimento já existente no “velho mundo”. Assim, a chegada da família real trouxe também ao Brasil a redução das restrições à existência de tipografias, impressores e outras indústrias que pudessem produzir livros e impressos.

Em 13 de maio de 1808 foi criada a Imprensa Régia (hoje Imprensa Nacional) e, quatro meses depois, em 10 de setembro, o primeiro jornal impresso no Rio de Janeiro (e na colônia): a Gazeta do Rio de Janeiro. Apesar de rejeitar o título de “jornal oficial”, o fato é que o novo veículo noticioso era um jornal “governamental”, criado e administrado por membros do ministério português e que publicava conteúdo de interesse da administração. Em outras palavras, o conteúdo trazia apenas notícias de interesse da corte real.

Vale ressaltar que o jornal Correio Braziliense, de Hipólito José da Costa, criado antes, em 1º de junho de 1808, era impresso em Londres (Inglaterra), onde circulou até 1822. Mais citado que a Gazeta, ainda hoje é tido como primeiro jornal brasileiro, mas nunca foi produzido em solo brasileiro. Na época se destinava a discutir a situação colonial e a fustigar a família real portuguesa.

Contexto regional

A imprensa no Brasil se desenvolveu muito tardiamente em comparação com os países vizinhos que compõem a América espanhola. O historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, em seu livro Raízes do Brasil, conta que, já em 1535, livros eram impressos na Cidade do México. Em 1539, Juan Pablos instalava sua oficina nessa cidade, sendo o primeiro impressor documentado no Novo Mundo. Da Nova Espanha (reino onde estava localizada a Cidade do México) a arte tipográfica foi levada para Lima, capital do Peru. A autorização para estabelecer uma oficina impressora nessa cidade foi concedida em 1584. Conforme uma estimativa, do começo dos anos 1500 até 1821, pelo menos 11.625 obras haviam sido publicadas só na Cidade do México, enquanto em Lima, de 1584 a 1824, foram publicadas 2.948.

Em 1747, quando em todas as principais cidades da América espanhola já se imprimia, António Isidoro da Fonseca abriu talvez a primeira oficina de impressão no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, sendo fechada logo em seguida por ordem real. Uma carta régia emitida no mesmo ano mandava seu dono sequestrar e devolver a Portugal as "letras de imprensa".

Além da de António Isidoro da Fonseca, outras tentativas — todas fracassadas — de instalar uma imprensa no Brasil compõem o que se pode chamar a pré-história da imprensa brasileira: há chances de a tipografia ter sido introduzida no Brasil, em Pernambuco, pelo Conde Maurício de Nassau, em meados do século 17, durante a ocupação holandesa no nordeste brasileiro. Sabe-se que as prensas e os tipos móveis foram enviados da Holanda e que o tipógrafo Pieter Janszoon morreu a caminho do Brasil ou logo após chegar ao país.

Nova tentativa foi feita no início do século 18 em Recife-PE, igualmente sem sucesso. Durante o governo de Francisco de Castro Morais, um comerciante desconhecido montou uma pequena prensa e imprimiu alguns sermões e letras de câmbio. Nada sobrou da produção dessa tipografia. Temos notícia da iniciativa graças a uma Carta Real de 8 de junho de 1706 proibindo e confiscando o material impresso.

O fato é que mais de dois séculos antes do acesso a notícias e informações via internet, por tablets e celulares, o jornal impresso vem persistindo e nunca deixou de se mostrar como um meio de comunicação poderoso, que resiste até os tempos atuais. 

Mesmo com o passar do tempo, ler jornais é uma forma confiável e eficiente de manter a população atualizada em relação aos acontecimentos dentro e fora do Brasil. Por toda essa história, a comemoração da fundação do primeiro jornal do Brasil se justifica diante da força da mídia impressa e da sua capacidade de se reinventar a cada etapa da evolução dos meios de comunicação.

(Fontes: bndigital.bn.gov.br, wikipédia)

 

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