A gravidez na adolescência é um grave problema de saúde pública, que traz uma série de impactos físicos, psicológicos e sociais para a vida de meninas e bebês. Para as gestantes, esses impactos vão desde o desenvolvimento de problemas de saúde física e mental até a dificuldade de retomar os estudos e conseguir ingressar no mercado de trabalho. Além disso, a responsabilidade de criar a criança na maioria das vezes fica apenas com a menina e sua família, já que o abandono paterno é frequente nessa situação.
A adolescente pobre e negra vai ter uma incidência praticamente 60% maior do que a menina branca e com melhor condição
No Brasil, o número de casos vem caindo nos últimos anos, mas ainda é muito alto: são mais de 380 mil por ano, sendo mais frequentes os casos a partir dos 15 anos. Na faixa entre 15 e 19 anos, inclusive, a média de nascimentos no país é 50% maior do que a média mundial.
“Houve uma queda dessa gravidez, mas os níveis ainda estão acima da média mundial e parecidos com países como Equador, Peru, Bolívia e Paraguai. Nós temos estados do Norte e do Nordeste que têm índices de gravidez na adolescência muito maiores do que os da Bolívia. Os estados do Sul puxam esse índice para baixo. Houve uma redução, mas não conseguimos atingir a meta do milênio, que era reduzir em mais do que 50% a gravidez na adolescência”, afirma a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, da Universidade de São Paulo (USP).
Para a menina gestante, existe maior risco de mortalidade materna, com eclâmpsia, diabetes gestacional, hipertensão, anemia, infecções urinárias e infecções sexualmente transmissíveis (IST). Para o bebê, existe maior probabilidade de parto prematuro, baixo peso ao nascer (menos de 2,5 kg), desnutrição fetal (nos casos em que a mãe tem anemia), malformações e síndrome de Down.
“Muitas pessoas se preocupam mais com a síndrome de Down ou com as malformações nas mulheres com 40 ou mais anos. Mas as estatísticas mostram que a gravidez de 10 a 15 anos causa tanta má formação quanto a gravidez das mulheres com mais de 40”, explica a médica.
Além disso, outra questão importante é que as meninas de 10 a 15 têm maior dificuldade de ter parto normal porque a formação óssea da bacia não está completa. “Depois de três anos da primeira menstruação, o que normalmente acontece na gravidez de 15 anos para frente, essas dificuldades são menores”, completa.
Impactos psicológicos da gravidez na adolescência
Gestar nessa idade traz também um enrome impacto psicológico para essas meninas, que muitas vezes têm dificuldade de entender a situação. É preciso lidar ainda com a questão da autoimagem, porque o corpo muda rápido na gestação. Se ela demorou meses ou anos para que o corpo se desenvolvesse, para ter o crescimento das mamas, por exemplo, na gestação essas mudanças acontecem rapidamente. E isso também pode ter um impacto na autoestima, na maneira como a própria menina se enxerga.
“A gravidez na adolescência passa a ser um fardo para essa menina porque ela muda o grupo de amigas, mesmo que as amigas e a família apoiem no início. Na classe média alta, ela não é mais convidada para festas de 15 anos ou aniversários, e num grupo social menos privilegiado, ela passa a ter uma vida de adulta.”
Em relação a educação, emprego e oportunidades, a realidade é assustadora. “A gravidez é um corte na adolescência dessa menina. O abandono escolar está presente em mais de 70% das adolescentes que engravidaram. A profissionalização também é muito difícil, então, a não profissionalização, não ter escola e ter ainda um bebê para cuidar é um fardo em relação ao emprego, aos estudos e aos relacionamentos, porque como ela é abandonada, o fato de ela ter uma criança pra cuidar vai pesar muito nos futuros relacionamentos”, afirma Albertina.
Outra questão muito frequente é a gravidez na população pobre, preta e periférica. “Na população com mais de 40 anos, a mulher branca engravida mais que a mulher negra. Mas a adolescente pobre e negra vai ter uma incidência praticamente 60% maior do que a menina branca e com melhor condição”, avalia.
(Fonte: Portal Drauzio Varella)
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