Falas sexistas contra refugiadas da Ucrânia revoltam parlamentares

Áudios vazados de ‘Mamãe Falei’ provocam crise na Alesp, no partido e entidades
terça-feira, 08 de março de 2022
por Jornal A Voz da Serra
Falas sexistas contra refugiadas da Ucrânia revoltam parlamentares

Uma representação assinada por deputados de diferentes siglas, em que pede a cassação do mandato de Arthur do Val (Podemos) por quebra de decoro, foi protocolado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), no domingo, 6, após o vazamento de aúdios com falas machistas do parlamentar conhecido como Mamãe Falei. O documento destaca que a “sordidez dos áudios é ainda mais revoltante quando contextualizada no momento vivido pela Ucrânia e seu povo”. 

Os áudios foram divulgados na última sexta-feira, 4, pelo colunista Igor Gadelha, do jornal Metrópoles. Em uma série de comentários machistas e sexistas sobre as refugiadas ucranianas, Do Val relata aos colegas do Movimento Brasil Livre (MBL) — em um grupo privado —, que a fila de baladas brasileiras “não chega aos pés da fila de refugiados aqui”. 

Do Val foi à Ucrânia, de acordo com ele, para integrar um grupo de ajuda humanitária. Mas, para seus colegas da Alesp, o que marcou sua viagem foram seus comentários “repugnantes, indefensáveis”. No trecho mais chocante, o deputado diz que “as ucranianas são fáceis, porque são pobres”. Segundo informações da Folha de S. Paulo, a Representação Central Ucraniana-Brasileira também solicitou diretamente ao presidente da Alesp, deputado Carlão Pignatari (PSDB), a cassação do mandato do parlamentar. 

A insensibilidade do deputado diante do cenário dramático em que estão mergulhadas as mulheres da Ucrânia, na tentativa desesperada de salvar seus filhos e entes queridos, é simplesmente intolerável. Por enquanto, são 12 dias de fuga, em meio a bombardeios, sem trégua, em busca de refúgio.

No documento enviado à Alesp, a entidade se refere ao deputado Arthur do Val como “uma pessoa de índole perigosa para o exercício de funções públicas, onde sempre há que se tratar com mulheres em situação de vulnerabilidade", e que representa 600 mil brasileiros descendentes de ucranianos. 

Em nota nas redes sociais, Pignatari ressaltou que "não há mais palavras para repudiar a fala do deputado Arthur do Val. Repugnante e inaceitável". O presidente da Alesp também se solidarizou com as mulheres ucranianas e disse que a Assembleia vai investigar a conduta do parlamentar "com rigor e seriedade".

Em entrevista à Globonews, ontem, 7, Pignatari reiterou que a fala do deputado sobre as ucranianas foi “sexista” e “misógina” e defendeu uma apuração rigorosa na Casa. No domingo, 6, perguntado sobre o assunto por apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro disse que a fala de Do Val foi “tão asquerosa que nem merece comentário”.

O que Do Val foi fazer  e o que fez na Ucrânia

O deputado estadual teria ido à Ucrânia no início da semana passada para prestar ajuda aos refugiados e doar recursos levantados junto ao MBL (Movimento Brasil Livre), do qual faz parte. Em áudio enviado ao grupo do MBL, o parlamentar, que era pré-candidato ao governo de São Paulo, disparou uma série de frases humilhantes sobre as ucranianas refugiadas e as policiais locais. 

"Vou te dizer, são fáceis, porque são pobres. E aqui, a conta do meu Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’, e é inacreditável a facilidade”, disse Arthur.

"Só vou falar uma coisa para vocês: acabei de cruzar a fronteira a pé aqui, da Ucrânia com a Eslováquia. Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’ bonita. A fila das refugiadas… Imagina uma fila, sei lá, de 200 metros, só deusa. Sem noção, inacreditável, fora de série. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui”, emendou o deputado.

Repercussão do caso

Ao desembarcar em São Paulo, no sábado, 5, ainda no aeroporto, Do Val fez questão de se defender, dizendo que as mensagens “foram um erro, um momento de empolgação”. E que foram feitas em um grupo privado e que não refletem o que ele pensa. Naquela altura, as gravações já circulavam pelas redes sociais desde a noite anterior (sexta-feira). 

A presidente do Conselho de Ética da Alesp, deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), afirmou ao Globo, ter recebido diversos telefonemas de colegas “preocupados” com a repercussão do caso. “Minha impressão é que esta situação pode ser considerada mais grave do que o caso Cury (que foi suspenso por 119 dias, em dezembro de 2020, por importunação, filmado apalpando os seios da deputada Isa Penna no plenário da Alesp). Desta vez, mais homens estão se manifestando”, disse.

 

Publicidade
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 79 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: