Gigante e eterno. Para muitos, talvez o maior da história do futebol friburguense. Para todos, alguém que construiu uma trajetória irretocável, dentro e fora de campo. Miguel Ruiz Garbes, uma das grandes personalidades do esporte de Nova Friburgo, morreu aos 99 anos de idade – nascido em 8 de dezembro de 1923, completaria seu centenário em menos de dois meses. O céu estrelado por tantos craques ganha mais um gênio. Velado até o início da tarde desta terça-feira, 17, será sepultado às 16h no cemitério São João Batista.
O ciclo de Miguel no esporte começou com 13 anos de idade no time infantil do antigo Friburgo Futebol Clube, em 1937, quando integrou o elenco campeão da temporada. Miguel era um jogador de classe, toques precisos e chute potente. Atuava como meia armador pela direita, e abusava da visão de jogo privilegiada para desmarcar os companheiros de ataque. Sempre tranquilo com a bola nos pés, foi autor de gols decisivos em campeonatos diversos. O companheirismo e a disciplina marcaram a trajetória vitoriosa e renderam a maior comenda que um jogador poderia almejar à época: o "Prêmio Belfort Duarte”, de 1962, conferido pela CBD, atual CBF, a Confederação Brasileira de Futebol.
Miguel Ruiz despertou o interesse de um grande clube da capital. Em 1943, o time amador do Botafogo esteve em Nova Friburgo para um jogo amistoso e o time friburguense venceu por 3 a 1, com dois gols de Miguel. Encantado com a atuação, Canella, o técnico do alvinegro carioca, o convidou para jogar pelo Botafogo. Logo na primeira temporada, conquistou o campeonato carioca amador, e a oportunidade para atuar pela equipe principal surgiu.
Entretanto, apesar da vontade do treinador, o presidente alvinegro ordenou a escalação de Heleno de Freitas. Miguel, talvez, tenha perdido a grande chance de despontar no cenário nacional. Algo que não o incomodou, e apenas reforçou o desejo de retornar para Nova Friburgo.
A trajetória, então, prosseguiu na cidade natal. E o sucesso pode ser comprovado nos 22 títulos conquistados durante a carreira — é o maior vencedor do futebol friburguense, ao lado de Paulo Banana. Foi peça fundamental no tricampeonato do Friburgo entre 1945 e 1947, e posteriormente no hexacampeonato. Entre 1956 e 1963, participou de três bicampeonatos do Friburgo, e conquistou dois títulos da terceira divisão pelo Roqueano Social Clube (1964 e 1965). Até 2010, participou regularmente das tradicionais peladas no Nova Friburgo Country Clube, no campo de futebol society que leva o seu nome desde de 18 de abril de 1993.
Miguel também esteve presente no histórico jogo de 16 de maio de 1954, quando os 138 anos da cidade, à época, foram comemorados no estádio Eduardo Guinle, onde a Seleção Brasileira encerrava a preparação para a Copa do Mundo daquele ano. A partida era o tira-teima de outras duas disputadas anteriormente. No primeiro encontro, o Brasil venceu por 3 a 2 — Miguel Ruiz e Otacílio marcaram para o time de Friburgo. No segundo treino, nova derrota por 1 a 0 (gol de pênalti, cobrado por Brandão).
A vitória por 1 a 0, com gol de Jael aos 38 minutos do 1º tempo, na meta à esquerda da Tribuna de Honra, fechou o ciclo de amistosos (alguns historiadores e pessoas presentes ao Eduardo Guinle contestam, e afirmam que o tento foi marcado por Jorge). Miguel esteve em campo, e sempre que tinha oportunidade, relembrava a festa e os aplausos dos 25 mil presentes ao estádio do Friburguense.
Durante a passagem da Seleção por Nova Friburgo, Miguel foi convidado por Zezé Moreira e participou do segundo treino do time verde e amarelo na vaga de Luizinho. Um verdadeiro prêmio a quem brilhou pelos gramados da cidade. E que, eternamente, fará parte da nossa Seleção de maiorais.
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