Escolas fechadas, pais e filhos confinados em casa

Como as famílias lidam com educação domiciliar durante a suspensão das aulas
sábado, 30 de maio de 2020
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Benício Ventura: aprendizado em casa com a mãe, Isabela (Álbum de família)
Benício Ventura: aprendizado em casa com a mãe, Isabela (Álbum de família)

A pandemia de Covid-19 fechou os portões das escolas e confinou pais e filhos em casa. São quase três meses de quarentena testando a capacidade das famílias de se adaptarem às novas regras, como ajudar a criançada nos estudos. As redes de ensino privada e pública, professores e, principalmente, pais e responsáveis, ainda estão aprendendo a lidar com a nova situação, e para tanto contam com a expansão do sistema de educação remota, para dar o suporte necessário nesse contexto de pandemia. 

Tem sido assim em todo o país e em Nova Friburgo não é diferente. O apoio dos pais é fundamental para que as crianças mantenham a nova rotina e continuem tendo aulas com as ferramentas digitais. Não tem mais convívio social, não tem mais o melhor amigo da escola. Esse tipo de educação impõe novos desafios aos pais que têm que conciliar atividades profissionais e domésticas com o acompanhamento dos estudos dos filhos. Confira o que dizem pais e mães:

Escola não combina com momento ruim

“Meu filho de 3 anos e 6 meses ia para escola há dois anos durante o período da tarde. O objetivo principal de matriculá-lo foi a possibilidade de interação social e estímulos que somente um ambiente escolar pode oferecer. Mesmo com nosso esforço e dos professores, infelizmente, ele não conseguiu se adaptar ao formato de aulas online (ao vivo e gravadas)”, conta a bióloga friburguense Isabela Ventura Braga, mãe de Benício, radicada em São Paulo. 

“Inclusive, ele começou a dar alguns sinais clássicos de ansiedade, nunca antes identificados por nós e decidimos por não forçá-lo a nada. Não seria ideal associar escola a um momento ruim. Por isso, decidimos cancelar a matrícula dele já que nessa idade ainda é uma opção. Foi uma decisão muito difícil, mas consciente pois o importante para um criança nessa idade é a interação dela com outras crianças, essa sim ao vivo! 

Não temos intenção de que ele volte a estudar em 2020, pois o futuro ainda nos parece muito incerto e não podemos contar com o bom senso de crianças de menos de 4 anos para não se contaminarem. 

Fora isso, o pai dele é médico e está em hospitais diariamente o que nos coloca no grupo de risco, não só por chances de se contaminar, mas principalmente pela possibilidade de sermos vetores para a Covid19. Nosso contexto familiar permite que, de nossa maneira, possamos dar seguimento ao aprendizado proposto pela escola para esse ano letivo. 

Continuo não forçando-o a ‘estudar’, mas procurando ter alguns momentos curtinhos com ele durante o dia onde exploro números, letras, desenhos e formas geométricas. E aproveitamos para fazer alguns trabalhinhos de arte juntos, que depois usamos como ferramenta de aprendizagem, como o calendário que fizemos recentemente para trabalhar os dias da semana, os meses, o clima, as estações do ano e números! Por enquanto está funcionando para nós, só falta mesmo os amigos e o ar livre”.

Vivendo o outro lado

Para Luiz Filipe de Araújo Longo, pai de Breno Waldhelm, de 9 anos, no 4º ano da Escola Sesi, a pandemia trouxe uma revolução no ensino. E explicou: “Forçou os professores a se tornarem criadores de conteúdos digitais de uma hora para a outra, afim de dar continuidade ao ensino de seus alunos, cumprindo metas e cronogramas pré-estabelecidos sem considerar os desafios de uma educação à distância de crianças e jovens e o despreparo de seus responsáveis em auxiliá-los nesta função.

Nós, pais, nos vimos obrigados a viver uma rotina de profissional de educação. Tendo mais que depressa aprender e se familiarizar com dispositivos, mídias e termos digitais; tirar fotos, gravar vídeos e postar as atividades realizadas nos portais disponibilizados pelas escolas, sem nenhum treinamento e com o mínimo de informações.

Para quem não dava valor e a devida importância ao professor está sendo uma lição, pois temos que manter nossos filhos durante o horário escolar diante do computador, alheios às tentações do Youtube, jogos, redes sociais e distrações que a casa oferece. Cumprimos e extrapolamos o horário escolar auxiliando-os na assimilação do conteúdo das matérias escolares e na realização de tarefas, porque 90% delas seriam impossíveis para uma criança cumprir sozinha. Tornando pais de dois ou mais filhos, super heróis”, avaliou.

Minha vida com as crianças

A jornalista Bruna Hess, mãe de Miguel e Beatriz, está em home office desde 19 de março, e ‘professora’ desde um pouco antes. E foi assim que sua jornada de trabalho triplicou.

“Acordo às 6h30, faço café, boto roupa para lavar, separo o que farei de almoço, tomo banho e vou para o computador. As crianças acordam por volta das 8h, dou o café da manhã e volto ao computador, até às 10h, quando começo a preparar o almoço. E ainda pego na vassoura, porque com duas gatas, varrer é obrigatório! Enquanto isso, as crianças jogam vídeo game, vêem televisão ou brincam. Depois do almoço, lavar louça e preparar os dois para a aula online.

Desde 18 de março, as crianças recebem, por e-mail, atividades para serem feitas durante a quarentena. No dia 30 começaram a receber vídeos com aulas gravadas dos professores. As aulas online, efetivamente, iniciaram em meados de abril. A Escola Espaço Livre foi bastante cuidadosa com os alunos nesse período, com aulas das 13h20 às 15h40. Tem que acessar a plataforma de aula online, colocar senha, pedir para participar... 

Então, preciso dar uma atençãozinha nesse momento, principalmente com a Beatriz, de 8 anos. De vez em quando, o computador desliga, perde o som, a câmera não funciona! Aí, lá vou eu resolver. As avaliações são online também. Ajudo no que posso, estudo quando possível. Depois das aulas, eles fazem dever e depois eu me desligo e deixo fazer o que querem… e continuo no trabalho até 18h.

À noite, jantar, guardar roupa... e minhas gatas! Dá comida, limpa areia, troca a água da fonte, limpa vômito de bola de pelo! Que diversão! Estou EXAUSTA... tem dias que só quero sentar e não levantar! 

Mas, também aprendi muitas coisas sobre mim. Que sou capaz de dar conta, que sou mais paciente do que imaginava e que ser dona de casa em tempo integral é o trabalho mais difícil do mundo. Confesso, também, que aqui rola mais lanche do que comida no jantar.

Minhas crianças são tranquilas, o que ajuda muito a manter minha sanidade mental. São calmos e respeitosos. Claro que, de vez em quando, dão uns ‘tiltes’, né? Como toda criança, mas no geral, tem sido uma experiência e tanto estar 24 horas com eles. Falamos muito em como é importante estar com quem amamos, do que sentimos falta de fazer na rua, do que faremos quando tudo acabar, de como será a vida depois de tudo isso. Conversamos, refletimos, desejamos e nos unimos.

Acho que está sendo um desafio para todos. Estou um pouco surtada e cansada. Ando dando uns gritos mais altos do que o normal, tomando floral e homeopatia que nem uma louca. Mas, vamos que vamos!”

Experiência intensa e muito aprendizado

Tamires Borba Pacheco e o marido, ambos trabalhando, exigem uma grande dose de compreensão e companheirismo: o casal tem três filhos, dois gatos e um cachorro. Ela resume aqui como essa turma está se equilibrando desde 14 de março.  “Estamos eu, meu marido, nossos filhos Dora, Lia e Miguel, mais dois gatos e um cachorro, respeitando o distanciamento social em um apartamento relativamente pequeno. Nossos dias começam cedo porque a Dora, de 11 anos, usa o meu computador para comparecer às aulas da escola (particular) entre 7h e 12h20. 

Meu marido faz home office e cumpre um horário normal de trabalho das 8h às 17h. Como ele faz muito atendimento por telefone, minha missão é manter os outros dois filhos minimamente calmos e silenciosos durante o dia e infelizmente me vejo muitas vezes tendo que recorrer às telas. A escola dos pequenos é municipal e ainda estão na educação infantil. A escola se comunica dando algumas orientações e ideias de atividades durante a pandemia e também verificando se estamos passando alguma necessidade. 

Consigo realizar algumas tarefas do meu trabalho de doula que não envolvam atender as mulheres diretamente nesse período, agendando atendimentos para o final do dia. Como não temos como contar com a nossa rede de apoio de avós, tios e tias, estamos vivendo esse momento revezando horários de trabalho, de cuidados com as crianças, com a casa, e com nós mesmos. 

Viver nesse regime diariamente tem trazido muitas angústias para cada um de nós e nos vemos tendo que inventar maneiras de equilibrar os ânimos. Tem sido uma experiência intensa, de muito aprendizado e alegrias, apesar dos momentos de insegurança que todo brasileiro minimamente consciente deve estar enfrentando”.

Deputados aprovam lei que permite desconto em mensalidades

Os deputados estaduais do Rio de Janeiro aprovaram na quarta-feira, 26, projeto de lei que determina que as instituições privadas de ensino reduzam o valor das mensalidades durante o período de vigência do estado de calamidade pública por conta da pandemia do novo coronavírus.

Segundo o texto aprovado, a norma valerá para todos os segmentos de ensino (do pré-escolar ao superior). O projeto ainda precisa ser aprovado pelo governador Wison Witzel, que tem até 15 dias úteis para avaliação.

Ficou definido que não haverá desconto para as unidades cuja mensalidade é de até R$ 350,00. Já aquelas com mensalidade acima desse valor deverão aplicar um desconto de 30% sobre a quantia que ultrapassa a faixa de isenção.

 

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