ENTREVISTA com o ator Eduardo Ramos

Quando começamos a pensar sobre o próximo espetáculo que levaríamos aos palcos, não conhecia bem o enredo do livro que o inspirou
quinta-feira, 15 de maio de 2025
por Ana Borges
(Foto: divulgação)
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“Quando começamos a pensar sobre o próximo espetáculo que levaríamos aos palcos, não conhecia bem o enredo do livro que o inspirou. Sabia apenas que era um clássico da literatura brasileira e que contava o drama de pessoas isoladas para o tratamento da tuberculose. 

(Foto: divulgação)

A obra apresenta um contexto a partir de um ponto de vista especial e quase paradoxal, por se tratar de um romance, em meio ao sofrimento. O amor como elemento de cura. O altruísmo e a compaixão como antíteses ao medo e à desesperança
Na ocasião, avaliamos também outros textos muito interessantes, mas a possibilidade de trabalhar uma obra tão importante da cultura nacional (porém, quase esquecida) e desvelar todo aquele ambiente peculiar dos anos 1930, que conjugava angústia e elegância, foi para nós a certeza de que estávamos no caminho certo. Foram anos árduos para o mundo. Todo otimismo e toda euforia que caracterizaram a década de 20 deram lugar à melancolia quase sombria de um mundo que entrou em colapso. A crise econômica, o início da guerra, a pandemia de uma doença tão cheia de mistérios e preconceitos... 

O livro de Dinah apresenta todo esse contexto a partir de um ponto de vista especial e quase paradoxal. Um romance! Sim, um romance em meio ao sofrimento. O amor como elemento de cura. O altruísmo e a compaixão como antíteses ao medo e à desesperança”, conta Eduardo Ramos, ator e diretor de cena, sobre o espetáculo. Segue a entrevista.

Em cerca de 3 anos, este é o seu 3º personagem. Como é o seu processo de “sair” de um perosnagem para construir outro?  

Penso que a melhor maneira de sair de um personagem é se “atirar de cabeça” no próximo. Até hoje, muita gente na rua me chama de Samuel (personagem que tive a honra de interpretar em “A Promessa”). É claro que isso me enche de alegria e de orgulho, mas a oportunidade e a satisfação de construir uma nova persona é algo que torna o ofício de ator uma experiência extraordinária. Poder “pegar emprestados” sentimentos e ideias que não são seus, além de ser imensamente prazeroso, é também um processo de aprendizado sobre você, sobre as pessoas e sobre a sociedade.

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Há alguma “afinidade” entre Celso, Samuel e Oriun? 

Apesar de viverem em ambientes distintos e de possuírem características e pensamentos bem específicos, creio que guardam alguns aspectos comuns. Os três são extremamente éticos nas suas ações e decisões. Conflitam suas “missões” com sentimentos de dúvida, angústia e paixões. Adorei ter feito todos eles!

Em qual destes três sentiu que o desafio é maior? Como você se prepara para separar um dos outros?

Creio que o mais desafiador para mim foi Oriun (de “Fale-me de Amor”). Ali, tive e pude fazer coisas que nunca havia experimentado no teatro antes. Dancei, cantei e me expressei através do movimento do corpo. Além disso, o espetáculo apresentava uma narrativa filosófica recheada de sutilezas que demandaram aos atores que saíssem do seu lugar de conforto. Neste sentido, mais do que um indivíduo de carne e osso, Oriun era uma ideia personificada. 

Nas entrevistas anteriores você falou em intuição para construir seus personagens, com o que você tem dentro de si e a partir dos sentimentos que os personagens o provocam. É assim também com Celso?

A intuição será sempre a minha ferramenta mais preciosa. Aproveitar aquilo que o personagem desperta em mim faz com que suas emoções se tornem mais críveis e verdadeiras. No caso do Dr. Celso, como ele é repleto de conflitos e contradições, interpretá-lo é um prato cheio para qualquer ator. Busquei na minha memória afetiva personagens marcantes que assisti em antigos filmes (e até em antigas novelas) para construir e honrar aquilo que Dinah concebeu em seu livro. Acho que o público vai se identificar muito com os seus sentimentos, com as suas razões e com as suas incertezas. 

Como está se sentindo em relação a esse trabalho?

Creio que, de todos os trabalhos que realizamos com a Companhia, nunca me entusiasmei tanto como nesta construção para “Floradas”. Está sendo uma honra, uma alegria e uma baita responsabilidade contribuir como ator e diretor de cena do espetáculo. Trabalhamos muito para que levássemos aos palcos um clássico com todos os ingredientes que um verdadeiro clássico possui. 

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O respeito ao tempo histórico e à essência dos personagens, as belíssimas músicas que compõem a trilha sonora (com Philip Gutwein ao piano), o figurino fiel e exuberante de Virgílio Santos e, por fim, todo o talento e empenho de nossa visionária diretora Jane Ayrão na transposição fidedigna da narrativa de uma obra literária consagrada para a linguagem teatral. A conjugação de tudo isto, para que as emoções que serão compartilhadas no teatro fiquem para sempre no coração do público. 

Sente o peso da responsabilidade deste novo trabalho, diante dos sucessos das peças anteriores? Sente-se mais seguro, ou é sempre um grande desafio?

Não tenho vergonha de dizer que sinto este peso, sim. Quando do nosso primeiro espetáculo em 2022, as pessoas em geral não tinham grandes expectativas sobre o que assistiriam. Éramos amadores no sentido mais simplório da palavra. Se falhássemos ou se não entregássemos aquilo que o espetáculo poderia entregar, teríamos a tolerância de quem estava ali apenas com a intenção de nos prestigiar. À medida que os espetáculos foram acontecendo e se aprimorando, criamos um público mais exigente e que agora aguarda ansiosamente algo que supere aquilo que já assistiram. 

Neste sentido, é sim, e sempre será, um grande desafio! Mas posso dizer, sem medo de errar, que cada um de nós evoluiu muito e estamos mais preparados do que nunca. Creio inclusive que “Floradas” será a consolidação da Companhia de Arte Jane Ayrão como ferramenta de promoção da cultura no município e fora dele. Porque o convite que recebemos para nos apresentarmos na Academia Brasileira de Letras no mês de novembro é a prova incontestável disso!

 

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