“O que é o tédio? É um estado de espírito caracterizado pela falta de interesse, estimulação ou desafio. É uma experiência subjetiva que pode se manifestar de várias formas, como inquietação, apatia e desinteresse”, explica David Ndetei, pesquisador da African Mental Health Research Foundation.
Dito um milhão de vezes, nunca é demais repetir: desligue as notificações, elimine aplicativos inúteis e dedique um tempo na sua rotina para pensar
A jornalista e best-seller americana Manoush Zomorodi, que ficou famosa lutando contra a forma como a tecnologia consome o tempo livre, garante que “os momentos de tédio são espaços de criatividade”.
O biólogo e psicólogo suíço Jean Piaget, reconhecido por sua teoria do desenvolvimento da inteligência, afirmava que "a inteligência é o que você usa quando não sabe o que fazer". Esta deve ser uma das ideias que inspirou Manoush Zomorodi, ex-apresentadora da BBC e especialista em tecnologia, que, surpresa por não conseguir desacelerar nos fins de semana, tomou um caminho diferente na comunicação e se abriu ao mundo dos podcasts, onde abordou o tema. E começou discorrendo sobre o medo que temos de ficar entediados:
“Quando estamos entediados, nossa mente começa a divagar... e, muitas vezes, isso leva a problemas que precisam ser resolvidos. Essas dificuldades podem ser tão simples quanto o que preparar para o jantar ou muito mais sérias, como para onde vai o meu parceiro. Em qualquer caso, resolver problemas é um trabalho árduo para o cérebro. Ele é um órgão preguiçoso… É muito mais fácil nos distrairmos com as redes sociais ou os jogos, pois isso impede que o cérebro pense. Não é que tenhamos medo do tédio, mas o cérebro, agindo como um preguiçoso, dispara alarmes contra ele. Quando essa sensação aparece, ele se vê convocado a trabalhar, a criar algo para sair dessa situação. Você não deve se sentir culpado por não fazer nada. Ao pesquisar sobre o lazer, entendi melhor a produtividade que surge quando se dá tempo ao cérebro para processar o que aconteceu. Eu posso me permitir não estar ‘ligada’ o tempo todo. Acontece que quando você fica entediado, você ativa uma rede no seu cérebro chamada "modo padrão".
As telas têm cortado a oportunidade de nos manter entediados. Que estratégias você propõe para ganhar essa batalha? Zomorodi responde:
“A tecnologia oferece um grande conforto, mas esse conforto tem um preço. A moeda da informação é a atenção. Já foi dito um milhão de vezes, mas nunca é demais repetir: desligue as notificações, elimine os aplicativos que te distraem e abra espaço na sua rotina para pensar mais profundamente.
Aprendi a me perguntar de vez em quando que ferramenta, aplicativo ou plataforma está me ajudando e qual está me prejudicando. Precisamos aprender a distinguir as soluções que tornam nossa vida mais eficiente daquelas que nos sobrecarregam o tempo todo. Quando a resposta é uma dúvida, coloco um alerta e decido dar um tempo desse recurso para avaliar sua ausência. Se, na próxima vez que pegar o celular, você se perguntar o que está procurando, vai reduzir bastante sua conectividade. Se a resposta for que você o faz para se distrair de uma tarefa exigente, em vez de se afundar na tela é melhor dar um descanso, fazer uma caminhada, olhar pela janela, dar uma volta na rua.
É importante ter em mente que ao não fazer nada por um tempo, você está apostando em ser mais produtivo e criativo. Talvez você não se sinta confortável com a ideia no começo, mas aos poucos você vai se convencer do caminho de eficácia ao qual você vai chegar graças a essas decisões”.
(N.R.: Entrevista completa em oglobo.globo.com/saude/noticia/2025)
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