Em setembro, o presidente colombiano Iván Duque anunciou que a Colômbia será um dos primeiros países do mundo a permitir a exportação de cannabis em sua forma mais essencial: a flor. O potencial econômico é estimado em bilhões de dólares, explicou o presidente em apresentação realizada, em julho, nas instalações de uma das empresas autorizadas a cultivar a erva. No dia seguinte, as ações de empresas de cannabis canadenses caíram rapidamente.
O Canadá é o único país onde a cannabis, uma erva floral que pode ser usada por seus efeitos psicotrópicos, é totalmente legal. Enquanto Estados Unidos, Portugal e Austrália experimentam legalizações parciais, o Canadá é o principal exportador do mundo. A Colômbia, um país próximo ao Equador onde as condições climáticas para a agricultura são favoráveis quase 365 dias por ano, pode produzir cannabis medicinal por uma fração do que custa aos produtores canadenses. E, apesar das limitações de sua regulamentação, sua abertura para exportar fez o Canadá estremecer.
“O que se considera aqui é que a Colômbia passe a atuar em escala. Com este decreto, estamos nos posicionando na vanguarda em termos de competitividade regulatória”, disse o presidente durante visita a um cultivo com alto uso de tecnologia. A produção é da empresa Clever Leaves, uma das multinacionais — muitas de origem canadense — que já se instalaram no país andino.
A promessa de uma bonança verde vem de um regulamento aprovado em 2016 durante o governo de seu antecessor, Juan Manuel Santos. A legislação estrita contempla usos medicinais e científicos por meio de licenças emitidas pelos ministérios da Saúde e da Justiça. A proibição da folha seca era explicada por certo temor das autoridades de que pudesse ser desviada para o tráfico.
Depois de negociações de dois anos entre o governo e representantes do setor, Duque assinou em julho o decreto sobre o acesso seguro e informado ao uso médico e científico da cannabis, que entrou em vigor em agosto. Assim, deu luz verde à fabricação de têxteis, alimentos ou bebidas à base de cannabis, entre outros.
Mas a maior novidade é que permite à indústria exportar a flor seca da planta, a forma de cannabis que melhor pode ser utilizada e um mercado que ultrapassa 50% das vendas de cannabis medicinal no mundo. A normatização também permite que a flor entre em zonas francas para ser cortada, secada e passar por atividades de transformação e embalagem.
Condições climáticas
A Colômbia tem a vantagem de suas condições climáticas, que incluem uma privilegiada radiação solar com 12 horas de luz natural, por estar na linha do Equador, e menos oscilações de temperatura e umidade. Também possui custos operacionais bem mais baixos do que em outros lugares, principalmente a mão de obra.
Por isso, cada grama de cultivo pode custar apenas seis centavos de dólar (31centavos de real*), enquanto no Canadá ou nos Estados Unidos pode alcançar até 1,89 dólar (9,8reais**). Além disso, a Colômbia é o segundo maior exportador de flores do mundo — atrás da Holanda — e pode usar essa experiência e talento para a nova indústria. (* **cotação em setembro).
A promessa da cannabis atraiu mais de 500 milhões de dólares (2,6 bilhões de reais) em investimento estrangeiro direto na Colômbia e o país tem potencial para se tornar líder mundial em uma indústria de alto valor agregado, tanto em derivados da flor como na própria flor, dizem na Clever Leaves, uma das primeiras empresas a obter licenças.
Nas etapas finais da cadeia, a empresa desfolheia as plantas até que fique apenas a flor, que concentra seus princípios ativos, os canabinoides. São mais de uma centena, com propriedades ainda inexploradas. A Clever Leaves é hoje uma empresa multinacional cotada na Nasdaq, a segunda maior bolsa dos EUA, e já exportou canabinoides para mais de 15 países.
(Site El País | Economia, 09-2021, por Isabella Cota e Santiago Torrado)
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