Aquecimento global já impacta a transmissão de doenças no Brasil

Efeitos das mudanças climáticas na saúde e biodiversidade tendem a se agravar
sexta-feira, 05 de janeiro de 2024
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)

Segundo especialistas brasileiros, as mudanças climáticas já são um fator de aumento da transmissão de doenças no Brasil e no mundo, tendência que se acentuará à medida que o planeta ficar mais quente. A comunidade científica mundial formou, nos últimos anos, um consenso em torno do conceito de “saúde única”, que estabelece a indissociabilidade entre saúde humana e animal e o meio ambiente. Esses três elos são diretamente impactados pelas mudanças climáticas.

A professora doutora Mariana Vale, docente da UFRJ, que foi um dos representantes brasileiros no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, março/2023), principal fórum científico mundial sobre o aquecimento global, aponta que a temperatura média no planeta aumentou 1,1 grau Celsius, desde o início da Revolução Industrial (1750 é o ano-base de comparação). O cenário mais provável é de uma elevação de 3ºC a 3,5ºC até 2100, o que colocaria a humanidade diante de uma catástrofe socioambiental.

A partir da década de 1950, houve uma elevação exponencial nos episódios de emergência de novas doenças zoonóticas, causadas por patógenos que só circulavam em animais, muitos silvestres, e que foram transmitidos para as pessoas.

Esse evento — a passagem de um patógeno de um animal para um humano — é chamado de spillover, termo em inglês que pode ser traduzido como “transbordamento”. Os patógenos podem ser um vírus (os principais causadores de pandemias), bactérias, protozoários e fungos, entre outros.

A mudança de uso e cobertura do solo foi a principal causa da emergência destas zoonoses virais, esclarece Mariana Vale. Ao desmatar áreas naturais para a agricultura, pecuária e expansão urbana, entre outras atividades, as pessoas entram em contato com animais silvestres com mais frequência, o que aumenta a possibilidade do transbordamento de vírus para os humanos.

O aquecimento global veio para agravar um quadro que já era bastante preocupante. O impacto negativo principal ocorre com doenças mediadas por vetores, em geral mosquitos e outros insetos, que dependem de ambientes quentes e úmidos.

Com a elevação das temperaturas, a distribuição geográfica desses vetores está mudando, expandindo-se em direção aos polos. Doenças, no passado limitadas aos trópicos, hoje estão presentes em regiões temperadas.

Esse mesmo fenômeno, de expansão da distribuição de vetores, já provocou aumentos nas áreas de incidência, no Brasil e no mundo, de doenças como a leishmaniose, malária, febre amarela, dengue, zika e chikungunya.

Leishmaniose — O professor doutor Eduardo de Castro Ferreira, pesquisador da Fiocruz-MS, destaca a relação entre a leishmaniose e as mudanças climáticas. O aquecimento global tem expandido a área de ocorrência da doença, transmitida por protozoários e flebotomíneos.

Malária — Transmitida por mosquitos Anopheles infectados por protozoários, teve cerca de 247 milhões de casos em 2021, globalmente. No Brasil, houve cerca de 129 mil casos em 2022, com um aumento da incidência na Região Amazônica. Mudanças climáticas, incluindo aumento de temperaturas, são apontadas como fatores para a expansão da doença.

Febre Amarela — A pesquisadora da Fiocruz, professora Márcia Chame, destaca a epidemia de febre amarela nos estados do Sudeste, indicando a importância do monitoramento de primatas através de plataformas tecnológicas. A febre amarela, transmitida por mosquitos, teve casos registrados em áreas urbanas e silvestres, evidenciando a relação com as mudanças climáticas.

Biodiversidade — Diretora do Museu Biológico do Instituto Butantan, a doutora Erika Hingst-Zaher enfatiza que as mudanças climáticas afetam humanos, fauna, flora e meio ambiente, resultando na perda de biodiversidade. Alterações nas temperaturas e regimes pluviométricos afetam plantas e animais, com impactos em cascata.

Negacionismo — Hingst-Zaher lamenta a falta de engajamento da sociedade diante da emergência climática, atribuindo isso à desconexão das pessoas em relação à natureza, angústia diante de cenários desoladores, interesses econômicos e políticos, e a priorização de problemas imediatos. Ela destaca que, se não houver ação, as mudanças climáticas podem levar à extinção do Homo sapiens, comparando o fenômeno às grandes extinções planetárias do passado. (Fonte: destaquerural.com.br)

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