Apenas uma em cada três salas de aula na rede pública é climatizada

Problema também afeta as escolas particulares, onde menos da metade conta com equipamentos como ar-condicionado, ventiladores ou climatizadores
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
por Liz Tamane
(Foto: Sumaia Vilela / Agência Brasil)
(Foto: Sumaia Vilela / Agência Brasil)

O aumento das temperaturas no Brasil tem evidenciado um problema estrutural crônico no sistema educacional: a falta de climatização nas escolas. Um levantamento do Centro de Inovação para a Excelência das Políticas Públicas (CIEPP) revela que apenas 33% das salas de aula das escolas públicas possuem algum tipo de climatização. O problema também afeta as escolas particulares, onde menos da metade (47%) conta com equipamentos como ar-condicionado, ventiladores ou climatizadores. Os dados são do Censo Escolar 2023, divulgado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

O impacto dessas condições na aprendizagem tem sido tema de preocupação entre especialistas. Estudos apontam que o calor excessivo prejudica a concentração, a memória e a saúde física e mental dos alunos, levando à queda no rendimento escolar. A projeção de economistas do Banco Mundial indica que o aumento de dias com temperaturas elevadas pode reduzir significativamente o desempenho acadêmico das crianças brasileiras.

A projeção foi realizada em 2023, quando foram registrados 37 dias por ano com temperaturas acima de 25 graus. O aumento na temperatura ocasionou um desvio padrão da nota média dos estudantes na Prova Brasil – principal avaliação da educação básica do país –, que caiu quase 2%.

A Prefeitura de Mangaratiba, na Costa Verde do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, publicou um comunicado nas redes sociais informando que, na última segunda-feira, 17, até esta sexta, 21, o horário de funcionamento das escolas municipais foi reduzido em 50%, devido ao forte calor. Embora a medida tente mitigar o problema imediato, ela não resolve a questão central: a falta de investimento na climatização das escolas. Além disso, essa decisão afeta diretamente os pais que trabalham e dependem do período letivo para que seus filhos estejam assistidos durante o dia. A redução do horário apenas transfere o problema, sem apresentar uma solução real para a infraestrutura inadequada das escolas.

O cenário é ainda mais crítico nos estados com o maior número de estudantes: Minas Gerais e São Paulo. Em Minas, apenas 8,4% das salas são climatizadas, enquanto em São Paulo o índice é de apenas 2,7%. Alunos e professores relatam dificuldades diárias devido à falta de estrutura, que vai além da ausência de climatização. Ventiladores quebrados, bebedouros sem água gelada e salas sem cortinas para barrar o sol agravam o desconforto.

Os estados do Norte e Centro-Oeste são os que apresentam maior percentual de salas climatizadas: Rondônia, Tocantins, Mato Grosso e Amazonas lideram a lista. 

Investimentos insuficientes

O Governo do Estado do Rio Grande do Sul afirma ter repassado R$ 180 milhões para as escolas, que poderiam utilizar os recursos para comprar equipamentos de climatização. No entanto, muitas escolas não têm a infraestrutura necessária para instalação de ar-condicionado.

Em São Paulo, a Secretaria estadual de Educação da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) informou que investiu R$ 300 milhões em reformas para adequar a infraestrutura elétrica das escolas, permitindo a instalação de ar-condicionados. 

Diante da intensificação das mudanças climáticas, especialistas defendem medidas estruturais urgentes para garantir condições adequadas de aprendizado. A climatização das salas é essencial, mas também é necessário investir em infraestrutura sustentável, como telhados verdes, sombreamento adequado e ventilação natural eficiente.

Enquanto isso, milhões de alunos brasileiros continuam enfrentando o calor extremo nas salas de aula, comprometendo seu desempenho acadêmico e bem-estar. A educação de qualidade também depende de um ambiente adequado para o aprendizado – e o Brasil precisa agir rápido para garantir isso.

Se medidas concretas não forem tomadas, a tendência é que as ondas de calor cada vez mais frequentes se tornem um fator adicional de evasão escolar. O desconforto extremo nas salas de aula pode desestimular a frequência e o rendimento dos alunos, agravando ainda mais os índices educacionais do país. O debate sobre a crise climática e suas implicações na educação precisa ser levado a sério, com investimentos reais e políticas eficazes para garantir o direito ao aprendizado em condições dignas.

 

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