Alertas da natureza e as campanhas de solidariedade pelo Brasil

“O tempo passa, mas as lembranças de 2011 jamais serão esquecidas. Agora, vendo a tragédia no RS, não tem como ficar indiferente”
sexta-feira, 24 de maio de 2024
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
(Foto: Arquivo AVS)
(Foto: Arquivo AVS)

Com a tragédia do Rio Grande do Sul, vimos uma corrente de doações para ajudar as vítimas. E felizmente, mesmo antes desta tragédia os brasileiros já estavam empenhados em ajudar, comprovando o crescimento da cultura da doação que se alastra pelo país. 

As doações feitas por pessoas físicas, por meio de dedução fiscal do Imposto de Renda (IR), já chegam a R$ 133,93 milhões em 2024, segundo dados da Receita Federal em levantamento feito até o dia 17 deste mês. O sistema demonstra que 123.242 contribuintes destinaram recursos para projetos de fundos de assistência à criança, adolescente e ao idoso, projetos de incentivo à cultura, audiovisual e desportivos.

Os dados da Receita demonstram que a prática da doação por meio do IR vem aumentando. Em 2021, o valor doado chegou a R$ 179,13 milhões, realizado por 166,2 mil contribuintes. O montante passou para R$ 223,72 milhões em 2022, com 187,8 mil brasileiros fazendo doações. Já em 2023, o órgão contabilizou R$ 283,75 em valores doados por mais de 200 mil pessoas.

Não surpreende que uma rede solidária se formou diante do cenário de destruição provocado pelas chuvas que ainda assolam o Rio Grande do Sul desde o final de abril. O momento é de emergência, urgência de salvar e cuidar das pessoas. Por isso, várias campanhas vêm sendo desenvolvidas em todo o Brasil para ajudar as vítimas das enchentes que perderam todos os seus pertences. 

Nova Friburgo integrou essa onda solidária ao povo gaúcho desde o primeiro momento. E pretende continuar se dedicando a esse movimento, imbuído do espírito coletivo de amor ao próximo, pelo tempo que for necessário. Afinal, o povo friburguense nunca esqueceu a tragédia que se abateu sobre a Região Serrana fluminense em 2011, que matou quase mil pessoas e deixou mais de 200 pessoas desaparecidas, não encontradas até hoje. 

Uma dessas pessoas é Karla Jacob, que nos deu o seguinte depoimento: 

“O tempo passa, mas as lembranças de 2011 jamais serão esquecidas: moradora de Conquista, um dos bairros mais atingidos pela enchente daquele ano, não entendia como tinha sobrevivido. Em frente à minha residência, 35 mortos! Durante a madrugada, ouvia gritos das pessoas enquanto eram atingidas pelas barreiras, sem luz! Só muita chuva, raios e trovões… E eu só ouvia e chorava esperando a minha vez de gritar. 

Mas, não gritei, minha casa não foi atingida. No dia seguinte, saí andando a pé, tendo no pensamento o objetivo de encontrar minha única filha que estava na cidade. Atravessei 35 barreiras, onde voluntários nos puxavam para nos retirar dos montes de lama. 

Numa das retas da estrada (RJ 130), avistei 17 corpos enfileirados lado a lado, já lavados (não sei até hoje por quem), cobertos com pelejas. Ninguém chorando por eles, sozinhos ali, no abandono porque não havia tempo para chorar os mortos. Muitos vivos precisavam ser socorridos, resgatados. Agora, vendo a tragédia no RS, não tenho como ficar indiferente. Precisamos ajudar e ajudar muito!”.

Karla Jacob, criadora do Grupo Solidariedade é Tudo, está convidando a comunidade para integrar a

ação de ajuda para o Rio Grande do Sul. O evento será realizado nesta segunda-feira, 27, das 13h às 17h nos jardins da Queijaria Suíça — Cervejaria Alpendorf, em Conquista (Campo do Coelho). 

O encontro tem o objetivo de “trabalhar para agasalhar os desabrigados do Rio Grande do Sul”. O grupo de “tricoteiras e crocheteiras” pretende confeccionar o maior número de agasalhos, golas, gorros, mantas de lã, roupinhas para bebês, em tricô ou crochê. O convite conclama: 

“Venham, mesmo que não tenham habilidade no tricô ou crochê, e tragam lãs e seus materiais. Em caso de doação, recebemos novelos de lã e/ou sobras de material. Mas, acima tudo, sua presença é fundamental. Temos certeza que essas horinhas nos farão muito bem, como sempre no nosso grupo e ajudaremos quem tanto precisa. Nossa meta nessa primeira leva é produzir mil peças”, anunciou Karla.

Pontos de arrecadação

Casa Madre Roselli 

A Casa Madre Roselli, situada na Rua General Osório, 226, está recolhendo água mineral, alimentos não perecíveis e materiais de limpeza e higiene das 8h às 17h. A entrega das doações é feita pela transportadora Frilog. 

SindVest

O Sindicato das Indústrias do Vestuário de Nova Friburgo e Região também está arrecadando materiais de limpeza, roupas, lingerie e água. As doações podem ser entregues no Espaço Arp, no corredor localizado entre os blocos 14 e 16 (entre a Smartfit e Pontal).

OAB Nova Friburgo 

A subseção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) está recebendo doações de alimentos não perecíveis, itens de higiene pessoal, fraldas descartáveis e leite infantil (opcional). A entidade funciona na Rua Ernesto Brasílio, ao lado do antigo prédio do fórum. De segunda a sexta, das 9h às 18h. 

Sesc e Senac

Unidades do Sesc e do Senac, em Nova Friburgo, estão arrecadando água mineral, itens de higiene pessoal e alimentos não perecíveis para as vítimas do RS. Entre os alimentos, a preferência é por itens que não necessitem de cozimento e que estejam prontos para consumo, já que muitas vítimas afetadas não têm acesso a fogão. Podem ser doados também leite em pó, biscoitos e alimentos enlatados, além de fraldas e absorventes íntimos. Doações em dinheiro também podem ser feitas pelo Pix do Mesa Brasil do Rio Grande do Sul, por meio da chave mesabrasil@sesc-rs.com.br. 

Endereços e horários: Sesc (Av. Pres. Costa e Silva, 231, Duas Pedras), de terça a sexta, de 8h às 19h, e sábados, de 9h às 18h; Senac (Avenida Alberto Braune, 135 Loja 7, Galeria Suíça, Centro), de segunda a sexta, das 8h às 20h, e sábados, das 9h às 13h.

Instituto Friburgo Solidário Ajuda Humanitária e Prevenção

Depoimento de Luiz Claudio Rosa, ex-diretor da Cruz Vermelha, em Nova Friburgo, e atual presidente-voluntário do Instituto Friburgo Solidário criado por ele, há cerca de três anos.

“Se o volume de chuva que caiu recentemente em Cachoeiras de Macacu — que chegou a atingir uma parte de Salinas, destruindo lavouras —, de cerca de 300ml, cai aqui na bacia do Caledônia, teríamos muitos desabamentos, com grande número de pessoas desabrigadas. 

Por exemplo, no centro de Olaria, na altura do supermercado Bramil, o rio é cercado de construções em suas duas margens, sem área de escape das águas. Naquela região, de muitas construções, o rio tem uns 3 a 4 metros de largura, desde o [bairro] Cascatinha, Cônego e Olaria, até chegar no Paissandu. Não tem uma área estravazora do rio. Imagine se o volume de chuva de 2011, que foi de 220/230ml, e agora em Cachoeiras, de 300ml, cai aqui nesta bacia. O rio passaria pela rua principal de Olaria, e não em seu leito natural.

Então, temos que focar muito na prevenção, alertar as autoridades para a questão de dragagem, encostas, residentes de áreas de risco. Uma situação muito preocupante é a de pessoas que tiveram suas casas atingidas, receberam novas moradias, se mudaram, mas acabaram vendendo (por R$10 ou R$15 mil) e/ou alugando as antigas que deveriam ter sido demolidas pelo poder público, mas não foram. Dessa forma, pessoas em total desamparo, sem outra alternativa e para não passar a viver em situação de rua, acabaram nessas moradias condenadas”.

O Instituto está recolhendo doações como água, material de limpeza, de higiene pessoal e alimentos não perecíveis. A sede fica na Rua Andrade Neves, 94 (perto da pracinha do bairro Vilage). O horário de arrecadação é das 13h às 18h. Mais informações pelo telefone (22) 99878-9898. 

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