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O voo de Antônio Cícero
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Semana passada o poeta Antônio Cícero, com dignidade e determinação, voou para a eternidade. Com admiração pela sua vida e obra, dedico-lhe esta coluna como um modo de GUARDAR a beleza dos seus poemas, que inspiram tantas pessoas, não só as que escrevem, mas aquelas que vivem com ternura e buscam a sabedoria em cada momento dos seus dias.
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Adeus, Antônio Cícero! Adeus meu poeta a quem GUARDO ao ler e reverenciar suas poéticas palavras, tão bem escolhidas e escritas. Permito que suas doces ideias abracem as minhas que, timidamente, querem lançar voo sobre a folha de papel, o maior desafio para o escritor, e conquistar espaços sem finitudes.
Despeço-me de você com alegria e orgulho por tê-lo conhecido, inclusive pessoalmente, por passear descontraidamente sobre sua obra, por trazê-la aos modos como experimento meus dias, meus momentos. Por vê-lo acenar com simplicidade nos horizontes do meu imaginário. Por planar e dançar sobre seus pensamentos cheios de criatividade, singeleza e atualidade.
A ternura com que costurou cada um dos seus versos me mostra que a vida tem a lindeza de quem a toca com firmeza. Em sua poesia não vejo nem vencedores nem perdedores, mas encontro pessoas que buscam o encontro consigo mesmas.
Até mais ver, Antônio Cícero, vou lhe GUARDAR em toda minha infinitude, não em livros ou cadernos fechados, mas em meus pensamentos fluidos e esperançosos.
GUARDAR
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em um cofre não se guarda coisa alguma.
Em um cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
para guardá-lo;
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarde um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar o que se quer guardar.
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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