Eu também tenho isso

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Assim como não conseguimos enxergar certas partes de nosso próprio corpo sem o auxílio de um espelho, da mesma forma não temos uma visão de algumas características de nosso eu, de nossa maneira de ser como pessoa, sem procurar obter melhor discernimento pessoal ou aprimorar o autoconhecimento.

Isso é importante porque muito do que acontece em nossos relacionamentos na família, com amigos, no trabalho, depende de termos ou não uma visão consciente de como funcionamos nesses relacionamentos. Você pode com frequência provocar ou facilitar a presença de tensão, tristeza, aversão, isolamento, irritabilidade com certas pessoas justamente porque não percebendo características desagradáveis em seu próprio comportamento, age de forma a provocar estes problemas em seus relacionamentos.

Se você quer obter compreensão de si mesmo, o primeiro passo é admitir que precisa melhorar sua autopercepção para ter consciência de que forma você funciona que favorece o surgimento de brigas, discussões e afastamento das pessoas. Pode até estar acontecendo um paradoxo em sua vida hoje, que é você querer estar próxima de indivíduos importantes em sua vida, e se queixar de que eles se afastam de você, sendo que isso pode estar acontecendo por causa de condutas suas que são desagradáveis nesses relacionamentos. Falta, então, discernimento do que você faz ou diz que produzem afastamento das pessoas.

O ponto que quero enfatizar é que mais frequentemente do que gostaríamos, possuímos características ruins parecidas em algum nível com as que pessoas que criticamos em nosso coração, também possuem. Isso é comum acontecer em relacionamentos conjugais, entre pais e filhos, mães e filhos, filhos e seus pais.

Pode ser que o filho com quem você tem mais dificuldade de relacionamento é aquele que tem algumas características de comportamento parecidas com as suas. Você, então, vê no filho ou na filha, no esposo ou na esposa, no pai e na mãe, um comportamento que desagrada e não vê em si mesmo. Isso é um problema porque se você não enxerga que tem este ou aquele jeito de ser que seu parente tem e que você o critica por isso, fica injusto criticá-lo, cria estresse e perturba a harmonia familiar.

Por outro lado, quando começamos a perceber que também temos algumas características ansiosas, depressivas, nervosas, controladoras, mentirosas, agressivas, impacientes ou outra qualquer que a outra pessoa com quem nos relacionamos de perto tem, podemos cobrar menos, pegar leve, perdoar mais, e agir com mais compaixão com ela e com a gente mesmo. E, claro, lutar conscientemente e de forma intencional para vencermos aquele defeito de caráter que agora começa a ficar mais claro para nós mesmos e que só víamos no outro.

Como consequência desse processo de amadurecimento por decisão consciente individual de pensar e refletir sobre como funcionamos, vai ficando mais claro para nós que também temos o que criticávamos na outra pessoa como se só ela tivesse aquela característica comportamental ruim.

Certa vez Jesus Cristo deu uma explicação sobre isso quando falou que podemos ver e criticar a existência de um cisco no olho de outra pessoa e não enxergar o palito no nosso olho (ver Mateus 7:1-5).

A qualidade de vida em nossos relacionamentos pode melhorar bastante na medida em que conseguimos aumentar o discernimento de nós mesmos, de nosso comportamento e abandonamos os erros de nossa conduta que vão ficando conscientes para nós, substituindo-as por atitudes e jeito de falar que promovem a aproximação agradável das pessoas em nosso convívio com elas. Comece com você.

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Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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