A inteligência dos seres vivos

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

No livro do escritor e artista visual londrino James Bridle, “Maneiras de ser – animais, plantas, máquinas: a busca por uma inteligência planetária”, o autor expõe estudos científicos que investigam a vida na Terra, bem como a sua relação com a tecnologia. Essa obra tem me sensibilizado de tal forma que reconheço a importância de trazê-la nesta coluna para colaborar com os modos como nós, os humanos, reconhecemos a interconexão entre todos os seres e as máquinas.

Um tema que sempre me interessou foi a inteligência. Sou pedagoga, e estudei esse conceito sob vários pontos de vista. Segundo Jean Piaget, biólogo e psicólogo suíço, considerado um dos mais importantes estudiosos dos processos de construção do conhecimento, a inteligência humana é dinâmica e decorre da elaboração do pensamento que vai se estruturando e organizando no cérebro continuamente. O pensamento é construído naturalmente através de experiências, sujeitas às culturas social e familiar, abraçadas pela história individual, além de mobilizadas pela afetividade e vontades pessoais. Enfim, a inteligência é a expressão do viver.

Para refletir a respeito da inteligência dos seres vivos, é preciso considerar e reconhecer que as plantas, os animais e outros indivíduos, como as bactérias e fungos, possuem características próprias e mundos essencialmente distintos do nosso. Aristóteles (384-322 a.C.) classificou os seres vivos, dividindo-os em dois grupos: os animais e as plantas. Com a evolução do conhecimento científico novas categorias foram acrescentadas. Atualmente estima-se que os reinos animal e vegetal possuem milhões de espécies relacionadas no mundo.

Os seres vivos de cada espécie possuem um tipo de inteligência. Nós, os humanos, não podemos ter a pretensão de acreditar que a nossa inteligência tenha supremacia sobre a de outros seres! Sim, a nossa capacidade cognitiva só nos permite abordar o mundo sob nossas possibilidades.

A inteligência se manifesta através do pensamento e da ação. É generativa na medida em que permite que o indivíduo de qualquer espécie seja capaz de produzir, reagir, interagir, contribuir e criar. A inteligência é relacional posto que a capacidade cognitiva pode ser observada como, onde, quando e sob quais condições é praticada. É uma forma de estar no mundo. Não é uma capacidade que deva ser testada, mas reconhecida a partir das formas múltiplas em que é expressada.

A cada dia a ciência desvenda os mistérios da natureza e nos mostra a maravilha das múltiplas formas de vida e seus os processos de adaptação, que revelam a presença da inteligência como recurso magnífico de sobrevivência. Vocês já observaram a perfeição com que os passarinhos fazem seus ninhos com galhos, gravetos, musgos e até com restos de embalagem? Quantas vidas uma árvore pode abrigar e alimentar? Ou melhor, quantas vidas buscam nas árvores um abrigo? Quem já parou para pensar no comportamento das raízes das plantas em busca de sais minerais e água?

As plantas são os sustentáculos do mundo!

A aviação estuda o voo dos pássaros para aprimorar a tecnologia aeronáutica. A Inteligência Artificial pode ser fundamental na proteção das espécies animais e vegetais, como está sendo utilizada pelo Instituto Baleia Jubarte para ajudar na preservação desses animais em processo de extinção.

Estamos cercados de vidas inteligentes, qualificadas a interagir com o meio ambiente, com seres da mesma e de outras espécies. Todas as formas de vida estão enredadas na biosfera, a comunidade dos humanos, animais, vegetais e micro-organismos que vivem na terra e nas pedras, nos rios, oceanos e mares, no gelo e nos ventos.

Não podemos esquecer que nosso Planeta tem vida farta, porém é único em nosso sistema solar. Por que colocar fogo nas matas? Por que desmatar? Por que descuidar do lixo? Por que admirar e cuidar dos bens materiais e pouco ou nada se importar com a poluição dos mares e rios?

Por quê?!

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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