Nosso Real vai virar criptomoeda?

Gabriel Alves

Educação Financeira

Especialista em finanças e sócio de um escritório de investimentos, Gabriel escreve sobre economia, finanças e mercados. Neste espaço, o objetivo é ampliar a divulgação de informações e conhecimentos fundamentais para a nossa formação cidadã.

quinta-feira, 09 de março de 2023

Se o título prendeu sua atenção, já vou me adiantar a qualquer expectativa e trazer as respostas. Não, ainda não vai ser dessa vez, mas o Banco Central está no caminho. A ideia não é nenhuma novidade. Fala-se sobre a implementação de uma moeda virtual do Real há alguns anos e o Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI) – que viabilizou o Pix – foi o primeiro movimento das autoridades financeiras brasileiras para possibilitar o que hoje é denominado como Real Digital, cujo comunicado referente ao projeto piloto foi feito pelo BC no último dia 6.

De acordo com o cronograma divulgado, o período de desenvolvimento e testes se iniciou neste mês e vai até fevereiro de 2024. A princípio, serão 12 meses de calendário experimental passando por workshop (abril), incorporação dos participantes (maio), Real Digital / Real Tokenizado (dezembro), transferência de título público federal (fevereiro/24) e, por fim, avaliação da etapa piloto (março/24). A partir de então, com todos os dados, experiência e feedbacks coletados, outros protocolos passam a ser implementados para possibilitar a implementação total da tecnologia.

Aqui, estamos falando de um projeto com desenvolvimento baseado em tecnologia blockchain. Mas então por que não teremos uma criptomoeda do Real? Para responder esta pergunta, primeiro é importante parametrizar como estas novidades estão sendo implementadas globalmente para compreender alguns pontos importantes para a concepção do projeto.

Uma criptomoeda, emitida pelo BC, promove um enorme poder de monopólio financeiro; é o que acontece na China com o Yuan Digital. Lá, na segunda maior economia do mundo, os cidadãos têm suas carteiras digitais vinculadas diretamente ao BC, tornando toda emissão um passivo do governo chinês e não das instituições financeiras, reforçando – ainda mais – o controle do Estado sobre a economia. A esta tecnologia, damos o nome de CBDC (sigla em inglês para Moeda Digital de Banco Central); é a possibilidade de bancos centrais emitirem suas próprias criptomoedas.

Percebe como ainda há um caminho a ser estudado e avaliado antes de estruturarmos uma criptomoeda do nosso Real? Emitir uma CBDC do Real, com o conhecimento atual, poderia acarretar diversos prejuízos ao sistema financeiro; dentre eles, a redução de depósitos bancários e, consequentemente, a diminuição da oferta de crédito.

Podemos encarar o Real Digital como uma infraestrutura de tokenização de ativos para liquidação em tempo real. A custódia permanecerá em bancos e o seu relacionamento como cliente também, mas todas as atividades envolvendo liquidação de ativos (atualmente individuais para cada instituição) estarão funcionando de maneira integrada a fim de garantir maior interoperabilidade.

A tecnologia é nova. O projeto, apenas piloto. Suas funcionalidades ainda ficam no campo da imaginação, mas podemos visualizar a evolução dos atuais sistemas de compensação, reservas e custódia do Banco Central.

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