A internet não é terra de ninguém

Lucas Barros

Além das Montanhas

Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Diariamente somos bombardeados por uma enxurrada de informações. Notícias que acontecem do outro lado do mundo chegam quase que imediatamente em nossas telas dos smartphones. A comunicação, que entre as pessoas distantes, era demorada, hoje, em questão de cliques ultrapassa qualquer barreira em milésimos.

As informações estão a cada dia mais rápidas. E da mesma forma que somos bombardeados em nossas redes sociais, cada vez temos menos tempo e estamos dispostos a consumirmos conteúdos de forma desordenada. Contudo, a dinamicidade da comunicação é constante e positiva por muitos os lados, mas também tem seus lados negativos e seus efeitos devastadores.

Tudo que “cai” na internet, se espalha rapidamente, de forma definitiva e em todas as direções. Não há mais o menor controle para quem ou como as pessoas estão consumindo esse conteúdo e esse fenômeno se chama “repercussão viral”.

Na maior parte das vezes, atinge e promove positivamente, muitas pessoas em seus trabalhos, empresas e na boa comunicação. Um grande exemplo, é o jovem, “Luva de Pedreiro” que com seu carisma, ganhou o coração dos espectadores nas redes sociais por ser humilde e hoje assina contratos milionários com grandes empresas.

Contudo, tudo que é bom, também acaba sendo mal utilizado e seus efeitos, podem ter consequências, não somente para a gente, mas para outras pessoas, muitas vezes, irreversíveis, ainda mais em épocas de radicalismo em que vivemos hoje. Mas é preciso saber, até que ponto somos responsáveis pelo que falamos, compartilhamos e divulgamos?

Somos inteiramente responsáveis

Quem nunca ouviu falar de alguém que teve sua intimidade divulgada em um vídeo intimo que circulou na internet? Você jamais se viu diante da propagação de fotos de vítimas fatais após acidentes de trânsito? De maneira nenhuma, você expôs a intimidade de alguém, por meio de conversas ou falas em rede? Nenhuma vez foi comunicado e avisou sobre a realização de uma blitz em um grupo de trânsito?

Ao afirmarmos que a internet é uma “terra sem lei” implica em duas falhas muito graves. A primeira, é que ninguém se importa e ninguém cuida. A segunda é, que todos nos podemos ser inteiramente responsáveis por tudo que fazermos lá, mesmo que, tentemos nos camuflar através de perfis falsos.

Eric Lima, advogado e pós-graduado, explica que os crimes mais comuns na internet são: a calúnia (imputar um crime à alguém), injúria (atribuir a alguém uma qualidade negativa), difamação (imputar um fato ofensivo à reputação alheia), divulgação de pornografia sem consentimento, vilipêndio de cadáver (foto de vítimas fatais em acidentes), violação de direito autoral (pirataria), comunicação de blitzes e falsidade ideológica (se passar por alguém).

“Os mesmos crimes que são cometidos no dia-a-dia, seja numa briga no trânsito ou uma ofensa também acontecem com naturalidade no ambiente virtual. Todos nós estamos sujeitos às mesmas penalidades que a legislação penal e civil que podem gerar dano moral, e ocasionar indenizações. Não podemos esquecer, também, que quem compartilha está contribuindo na disseminação da ofensa e pode ser responsabilizado como se fosse co-autor do crime.”

Como nos prevenirmos

Devemos ter muita responsabilidade ao compartilharmos fotos, vídeos, opiniões e intimidades, pois tudo se espalha com extrema velocidade e podemos responder por isso fora do mundo virtual.

Em relação aos crimes de divulgação de pornografia, o segredo é o mínimo de empatia. Se pararmos para e nos colocarmos no lugar do sentimento que a vítima está passando já é um bom começo. O sofrimento é tamanho que pessoas chegam a fazer besteiras consigo após tamanha repercussão. Denuncie quem compartilha!

Em relação ao compartilhamento de fotos de vítimas e divulgação de blitz, o segredo é o bom senso. Se ponha em um lugar de um dos familiares que acabou de perder um filho após um acidente envolvendo alguém bêbado. E acima de tudo, saiba que sua divulgação pode render um processo criminal.

Em relação aos crimes de calúnia, injúria e difamação, a resposta é simples. Se as postagens envolverem terceiros então, a responsabilidade deve ser redobrada, e às vezes até elevada à quinta potência. Esses crimes são os que mais geram consequências não somente na esfera criminal, mas na esfera social, já chegando a morte de pessoas nas ruas, por fatos que não eram verdade. Devemos ser extremantes seletivos com tudo aquilo que compartilhamos e tomarmos cuidado com os linchamentos virtuais.

Liberdade informática não quer dizer falta de limites e a liberdade de cada um acaba quando começa a liberdade do outro. A internet não é “terra de ninguém”, e apesar de estamos dentro de um ambiente virtual ainda sim temos nossas responsabilidades. O ideal é sempre se por no lugar do outro e perguntar: “E se fosse comigo?”

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