Flores partidas

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Faz algum tempo que gostaria de escrever sobre a violência contra a
mulher, tema delicado, doloroso de ser tocado, triste realidade que atinge a
pessoa do sexo feminino. A decisão de fazê-lo foi motivada pelo artigo
“Percepções de Mulheres a Respeito do Estupro Marital”, escrito pela minha
amiga de oficina literária, a jornalista Juliana Maria Lanzarini, que foi aprovado
para o 1º. Congresso CRIM/UFMG: Gênero, Femininos e Violência. Como
também pelas Oficinas de Formação para Apoio a Mulheres em Situação de
Violência. A vontade de escrevê-lo foi respaldada pela sua intenção de “ampliar
a percepção do tema a fim de garantir os direitos das mulheres.” Da qual
compartilho.
Inicialmente, gostaria de esclarecer que os textos que abordam pesquisas
científicas são considerados literários. Este artigo está fundamentado em
pressupostos teóricos e utiliza-se do survey como metodologia de coleta de
dados com 40 mulheres respondendo a um questionário com cinco perguntas
que abordam o tema, que recebeu criterioso trabalho analítico.
Os pressupostos teóricos refletem o estupro no contexto da violência
doméstica, apontada no artigo como violência machista. Nesta coluna vou me
deter no fato de a mulher reagir e não se submeter a atos perversos,
egocêntricos e desrespeitosos do homem que se considera capaz para
determinar os padrões de comportamento da relação. A questão relevante é o
modo banal e natural de como a violência contra a mulher é percebida pelo
grupo social, pelo homem e por ela mesma. As diferentes formas de violência
contra a mulher não podem passar percebidas como tal, não podem ser aceitas
no contexto doméstico, meio social e explicadas a partir de considerações
fugazes. Quem sofre a violência não deve minimizar as experiências aversivas
que causam sofrimento físico, deterioração psicológica, humilhação moral e
feminicídio.
O fator mais grave da violência é a reincidência devido à construção de
um padrão crônico de agressão, tanto de quem a pratica, como de quem a
recebe. A violência doméstica pode causar a morte e ser, desse modo,
considerada um ato de caráter homicida. A mulher que a sofre vai perdendo a

vivacidade ao experimentar a morbidade contida em cada agressão, que seja
verbal, física ou moral. A violência doméstica assassina a mulher em vida, tira-
lhe as cores dos dias.
A mulher retroalimenta a relação agressiva quando perdoa e não atribui
aos atos que atingem e destroem sua integridade física, psicológica e moral o
verdadeiro valor. Quando não denuncia aos órgãos competentes. Quando não
se afasta da relação. Quando deixa de se amar e não se considera pessoa
digna de ser respeitada.
Deixar de ser agredida é uma decisão de foro íntimo. Somente ela pode
assumir uma postura decente e coerente com a humanidade que existe em sua
pessoa. Somente ela pode decidir dar continuidade a sua história de vida
interrompida por um insensato agressor, saindo de uma doentia relação da
qual é parte interativa.

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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