O cotidiano exaustivo de quem está na linha de frente

Confira o depoimento da enfermeira Luciene Pontes, 41, que atende pacientes infectados com coronavírus desde o primeiro caso no Hospital Albert Einstein, em São Paulo
sábado, 08 de maio de 2021
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

A enfermeira Luciene Pontes, 41, nunca imaginou que viveria os últimos 14 meses da forma que viveu: na linha de frente de um hospital cuidando de pacientes graves com covid-19, em meio a uma pandemia que já matou mais de 450 mil pessoas. Com 15 anos de profissão, ela atende pacientes infectados com coronavírus desde o primeiro caso no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, que também foi o primeiro do Brasil — há mais de um ano. Neste depoimento ao VivaBem*, Luciene fala de aprendizados, dores e esperanças que teve ao longo desse período em que vem tratando pessoas internadas na UTI.

O começo 

"O primeiro momento foi assustador. Havia muito medo do desconhecido, de não saber cuidar do paciente, de pegar e passar a doença. Nós tivemos um grande apoio da comissão de controle de infecção hospitalar, que nos tranquilizou e ensinou como se paramentar e desparamentar. Isso foi muito importante para nos apoiar. Na verdade, colocamos toda nossa confiança nos EPIs (equipamentos de proteção individual). Lembro como se fosse hoje a enfermeira nos reunindo, dizendo que íamos receber os primeiros pacientes e tentando nos explicar o que deveria ser feito. A gente sabe que está entrando numa zona de risco, em um ambiente infectado, mas quando você olha para ele, vence o medo. 

As mudanças 

Na verdade, quando começou a chegar pacientes, os mais afetados eram os idosos com várias comorbidades, que tinham doenças preexistentes. Era assustador ver o avanço pela forma como se dava o óbito. Eram idosos que sempre internavam com a gente. Mas não é comum as pessoas morrerem de forma tão aguda, como a covid-19 faz. Foi triste. Com o tempo, isso foi mudando. Hoje esse perfil engloba todo tipo de população, a faixa etária vem diminuindo. Obviamente, ainda existem os predominantes, mas mudou muito o perfil. A gente não sabe como nosso corpo vai se comportar diante do vírus, é imprevisível.

Tem paciente que consegue desenvolver tudo de uma vez só, são múltiplos eventos agudos. Ficamos o tempo todo correndo atrás do prejuízo em relação àquela pessoa que já está muito grave, algumas vezes com necessidade de respiração mecânica. No meio disso ainda temos os crônicos pós-covid, que ficam internados por muito tempo. Tem paciente que passa semanas, até três meses. Tem aquele paciente que demora para negativar, que passa um mês para isso. E quando bate essa data, o corpo já está consumido, não tem mais músculo. Como foi muita sedação, não sabemos o nível de consciência. Só o tempo vai dizer como ficarão, como serão as sequelas, a sobrevida.

Imunizada

Agora, com a vacina, por mais que esteja a conta-gotas, há uma luz no fim do túnel. Eu fiz parte do estudo e não recebi placebo, foi vacina. Então, estou imunizada desde setembro, e nunca peguei antes. Mas mesmo vacinada, sei que posso transmitir, tenho de cumprir as medidas de prevenção. Mas sem dúvida isso nos aliviou, não só por nós, mas por ter começado a vacinação. Temos a consciência de que se trata de um plano muito falho de imunização, mas pelo simples fato de ter iniciado, o clima está um pouco melhor para nós, da linha de frente.”

(*Trechos de entrevista por Carlos Madeiro para o Viva Bem)

 

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