Próximo governo terá de fazer mais com menos

Redução de receitas e aumento nas demandas por serviços públicos exigem que novo prefeito preze pela eficiência
sábado, 14 de novembro de 2020
por Marcio Madeira
A charge do Silvério e a dúvida para os próximos quatro anos
A charge do Silvério e a dúvida para os próximos quatro anos

São muitos e complexos os desafios que aguardam a próxima administração municipal. O agravamento da crise econômica decorrente da pandemia de Covid-19, cujos efeitos ainda estão sendo atenuados pela oferta de crédito e por auxílios emergenciais, redundará em reduções sensíveis às receitas municipais, justamente num momento em que a demanda por serviços públicos tende a aumentar consideravelmente.

Ao fim de um processo de transição também reduzido, de apenas 46 dias, o próximo governo precisará encontrar meios de tornar a gestão mais eficiente, capaz de entregar serviços de melhor qualidade e maior abrangência em meio a um processo de redução de gastos. Absorver a parcela da população que está deixando de ter acesso a plano de saúde e escola particular, melhorando a qualidade dos serviços prestados em meio a uma disponibilidade de recursos certamente decrescente. Não há de ser fácil.

Alguns fatores, contudo, em tese jogam a favor da próxima administração. A necessária composição de um secretariado verdadeiramente técnico, capaz de identificar os muitos ralos através dos quais o erário ainda é desperdiçado, deve ser facilitada justamente pelo grande número de candidaturas que se envolveram na disputa. Explica-se: dada a opção por tantas candidaturas próprias, qualquer grupo que venha a ser eleito terá menos compromissos eleitorais do que de hábito a o amarrar. Deve haver espaço para que se dê prioridade à capacitação, a depender da verdadeira vontade política de quem vier a assumir a cadeira nº 1 do Palácio Barão de Nova Friburgo.

Da mesma forma, a cidade espera por parte da nova composição do Legislativo Municipal postura mais madura do que aquela que tem sido observada em mandatos recentes. Há que se compreender que não há espaço para troca de apoio por nomeações ou influência. O município precisa de 21 fiscalizadores no Legislativo, vereadores isentos, propositivos, que assegurem sim a governabilidade, mas que fiscalizem, que não se vendam, e que não representem gastos extras ou empecilhos à qualidade técnica da equipe de governo ou à promoção a cargos de 1º e 2º escalões de quadros de carreira, verdadeiros guardiões da memória administrativa.

Nas linhas abaixo, A VOZ DA SERRA lista algumas das frentes de atuação que o próximo chefe do Executivo terá de coordenar, bem como seus respectivos desafios.

Preservação da vida

Algumas das principais linhas de atuação da próxima gestão municipal podem ser agrupadas por seus aspectos complementares de preservação da vida.

De imediato, existem as demandas do enfrentamento à Covid-19, em especial as preventivas, que sejam capazes de enfraquecer as cadeias internas de contágio e possam fortalecer as barreiras de proteção diante das possibilidades de novas ondas de contágio no futuro próximo. Paralelamente, ainda focando na rede municipal de saúde pública, há que se fortalecer o isolamento e a separação das alas de tratamento da Covid de modo a proteger pacientes de outras enfermidades e assegurar a realização de procedimentos eletivos com a necessária segurança.

Igualmente identificada é a necessidade de informatizar a rede, facilitando a coordenação de atendimentos, o agendamento de exames, assegurando a transparência de filas e, tão importante quanto, ajudando a rede municipal a receber por todos os serviços que efetivamente presta.

Não é admissível que cidadãos sofram de maneira evitável ou desnecessária. Não se pode tolerar que quadros se agravem por falta de insumos, ou que o município continue se colocando em situação de ter tantos recursos bloqueados para o atendimento de demandas que deveriam ser naturais.

Ainda no que se refere à proteção à vida, não se pode mais esperar por um plano de mobilidade eficiente, acompanhado de investimentos e fiscalização em nossas estradas. Sobretudo nas zonas rurais, onde é grande o número de jovens circulando em motocicletas, muitas vezes sem habilitação ou equipamentos básicos de segurança. Tudo isso sem mencionar o incalculável prejuízo ambiental representado pela ausência de pontos de travessia segura para animais.

Ainda sobre os bichos, enfatizar a necessidade da realização de castrações e da fiscalização direcionada a casos de abandono e maus tratos, inclusive a animais de grande porte, é chover no molhado, mas infelizmente necessário.

A proteção à vida também envolve esforços de prevenção à violência, em grande parte de responsabilidade municipal. Assegurar a iluminação pública, o saneamento, a urbanização, a oferta de atividades esportivas e complementares à Educação, regular e fiscalizar o serviço prestado por concessionárias, contribuir para o desenvolvimento econômico e assegurar o aprimoramento e a ampliação da Guarda Municipal, são pautas que deverão ser tratadas como prioridade pelo próximo governo.

Preservar a vida, por fim, envolve também preservar a dignidade. A próxima gestão municipal terá na Assistência Social uma de suas pastas mais sensíveis. A crise é sempre mais cruel e concreta junto à população mais carente, e em grande parte o nível de sucesso da próxima administração deverá ser medido pela efetividade de suas políticas de assistência aos mais desassistidos.

Recursos Humanos

A melhoria na prestação dos serviços terá de passar, necessariamente, por uma profunda mudança de paradigma no que se refere à gestão dos recursos humanos. Grande parte do funcionalismo municipal se encontra às portas da miséria. A distribuição de gratificações e cargos de alto escalão a partir de critérios políticos é prática inaceitável num contexto em que a maior parte dos quadros de carreira encontram-se com salários extremamente defasados e sem a o estímulo de uma justa perspectiva de progressão.

Dados do IBGE apontam que Nova Friburgo tem atualmente uma das mais baixas rendas médias da região, e que mesmo esta renda está fortemente concentrada nas mãos de poucos privilegiados. A cidade precisa se reinventar sob o aspecto econômico, tornar-se mais atraente e favorável ao empreendedorismo, e todo este processo precisa dar a devida atenção à rede municipal de Educação, e a tudo que seus quadros técnicos e abnegados têm a dizer.

Autoestima

Acima de tudo, no entanto, Nova Friburgo carece neste momento de novas lideranças, de referências políticas que contem com a credibilidade e o suporte social necessário para que sejam levadas adiante as transições que precisam ocorrer sem as concessões típicas de um fazer político que urge ser superado.

Para que seja possível falar em Turismo ou projetos compatíveis com a estatura friburguense se faz necessário um prefeito que seja obcecado por transparência, que não perca contato com as ruas, que frequente a Câmara Municipal e esteja disponível para debater e explicar seus projetos, que saiba tirar proveito de críticas construtivas e consiga transformar uma eleição em grande parte casual numa liderança de fato, que inspire respeito, credibilidade e seja motivacional.

Num contexto bastante desafiador, enfim, o próximo governante municipal terá a difícil missão de dar início à recuperação – não com discursos engraçadinhos, mas com fatos – da autoestima friburguense.

 

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TAGS: eleições