O primeiro fim de semana prolongado após a retomada das atividades atraiu milhares de friburguenses e turistas para os principais rios e cachoeiras de Nova Friburgo, sobretudo no distrito de Lumiar, um dos mais procurados em dias de sol e calor como foram os últimos dias, inclusive na segunda-feira, 7, feriado pelo Dia da Independência.
Mas o que poderia ser um fim de semana de paz e curtição - com responsabilidade - acabou se tornando um festival de desrespeito ao distanciamento social, com pontos de aglomeração e muita, muita gente sem máscara, como se a pandemia já tivesse acabado e a cura da Covid-19 tivesse sido encontrada.
Engarrafamento em Lumiar
Foram inúmeros os relatos em redes sociais de situações que em nada combinam com o que chamamos de "novo normal". Embora a atual bandeira amarela em Nova Friburgo permita o acesso a pontos turísticos como rios e cachoeiras, falta conscientização por parte da população.
A VOZ DA SERRA fez contato com a Leidiane Freire, atual presidente da Associação de Moradores e Amigos de Lumiar (Ama Lumiar), que nos repassou uma série de reclamações e reivindicações dos moradores de Lumiar e de São Pedro da Serra, que também está sendo palco de aglomerações constantes provocadas por turistas e visitantes: “Uma total falta de educação e desrespeito com os nossos vilarejos e com a nossa comunidade”, afirmou Leidiane.
A maioria dos moradores cobra da prefeitura a elaboração de um plano turístico para a cidade que contemple boa sinalização, placas informativas e a exploração (no bom sentido) de outras belezas naturais da região, descentralizando o turismo do eixo Encontro dos Rios – Poço Feio – Toca da Onça. “Temos outros locais bonitos para oferecer na região, evitando assim os congestionamentos, carros estacionados em locais proibidos, etc. Precisamos urgente de ordem, do apoio dos órgãos responsáveis e dos olhos do poder público voltados para cá, para suportar a grande quantidade de turistas que recebemos o ano inteiro”, disse uma moradora de Lumiar, que compartilhou o desabafo acompanhado de uma foto emblemática: o acesso ao Encontro dos Rios completamente congestionado (fotos acima e abaixo). Eram tanto carros estacionados e outros tantos chegando ou saindo do ponto turístico que o trânsito deu um verdadeiro nó e simplesmente parou.
Moradores do quinto e do sétimo distritos também se queixam que muitos turistas e visitantes ignoraram o decreto que obriga o uso de máscaras, estacionaram veículos em locais proibidos e descartaram muito lixo de maneira indevida: “Estamos sem fiscalização no trânsito e a prefeitura parece não se lembrar da existência dos distritos. Estamos abandonados e entregues à própria sorte. Triste ver nosso lugar invadido por tanta falta de respeito e consideração. Lumiar agoniza e pede socorro”, desabafou outra moradora. “A prefeitura precisa olhar pela gente, porque vem outros feriados por aí. Esse lugar é minúsculo e sem estrutura”, afirmou outra.
O que diz a prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Nova Friburgo informou que se fez presente em Lumiar durante o feriadão prolongado. Segundo o Governo Municipal, “foram realizadas ações orientativas e educativas com a Guarda Civil Municipal nos principais locais turísticos da cidade, inclusive em São Pedro da Serra e Lumiar”.
Especialistas analisam esse tipo de comportamento
O mesmo comportamento foi observado em balneários e áreas de lazer de todo o Brasil, como mostra a foto de Wilton Júnior, do jornal O Estado de S.Paulo, que flagrou a Zona Sul do Rio pouco depois das 16h desta segunda-feira (acima). Segundo reportagem publicada pelo Estadão, que ouviu vários especialistas sobre o tema, algumas circunstâncias explicam parte de tantas aglomerações, como o fato de ter sido o primeiro feriado prolongado após a flexibilização da quarentena.
"As pessoas decretaram por elas mesmas o fim do isolamento, não há nenhuma dúvida sobre isso", disse ao Estadão o infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Unesp. Para ele, existe um limite de tempo em que o nosso cérebro consegue, de fato, levar a sério uma ameaça, até que aquilo começa a ser considerado normal.
"É um comportamento egoísta, de quem olha mais para si e menos para os outros, e faz uma avaliação equivocada de que talvez o maior risco já tenha passado", disse o neurocientista Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fafesp. "Um outro ponto é a fadiga da quarentena, as pessoas se cansam de ficar em casa."
A especialista em saúde pública Chrystina Barros, do grupo especial de combate à Covid da UFRJ, aponta outra questão: "Aqui a epidemia se transformou numa questão política. As autoridades não conseguem ser coerentes, muitas aglomeram sem máscara, são vários sinais trocados e maus exemplos."
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