Pode ser uma junção de motivos, como o excesso de propagandas durante os shows on-line, o exagero de alguns artistas, a flexibilização do isolamento social em diversas cidades e o retorno do funcionamento de bares, botecos e pontos de encontros, o que fez muita gente preferir o modelo tradicional. Ainda não se sabe ao certo qual o principal motivo da queda de interesse, a questão é que as lives apareceram como um fenômeno no início da quarentena, mas já não despertam mais tanto interesse. A fórmula tomou conta da internet não só no Brasil, como no mundo, mas está perdendo força. É o que mostram os dados da plataforma Google Trends, que monitora as palavras-chave mais buscadas na internet.
Desde março, quando se iniciaram as medidas de distanciamento social, os picos de buscas no Google pela palavra “lives” ocorreram nos dias 19 e 25 de abril e 2 de maio. As datas não coincidem com as maiores lives do YouTube, que foram da cantora Marília Mendonça, com 3,31 milhões de espectadores simultâneos em 8 de abril, e da dupla sertaneja Jorge & Mateus, com 3,24 milhões, em 4 de abril. Mas elas demonstram que logo após os recordes de audiência, o interesse do público pelos shows ao vivo transmitidos on-line explodiu, assim como a quantidade de transmissões, dividindo a audiência em diversos canais.
A partir de maio, de acordo com os gráficos do Google, já é possível notar uma queda de 20% nas buscas. Em 12 de junho, Dia dos Namorados, houve um leve aumento e, daí em diante, a queda só se acentuou. É possível perceber também que os picos de buscas ocorrem sempre nos fins de semana. Nas segundas, terças e quartas-feiras o interesse é quase nenhum, voltando a crescer a partir das quintas-feiras. No último dia 18, uma sexta-feira, as buscas no Google pela palavra “lives” foram 67% menores do que em abril.
A falta de interesse do público se refletiu também na oferta de atrações. No pico de audiência, os artistas lotavam o horário nobre com suas apresentações em busca das visualizações. Hoje, está cada vez mais difícil encontrar uma apresentação interessante ou o anúncio de algo para a semana. Alguns artistas não chegaram a fazer nenhuma transmissão, como foi o caso de Caetano Veloso. Oposto a esses, tem também os que usaram e abusaram das lives, como Gusttavo Lima. O cantor fez cinco apresentações caseiras e, segundo o colunista da Veja, João Batista Jr., faturou entre R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões por apresentação. Desde o impressionante recorde de Marília Mendonça, nenhum outro artista conseguiu chegar perto da sua audiência.
Lives entre janeiro e julho
A diminuição das lives reflete o processo devagar de retorno às atividades, após mais de 100 dias de confinamento. Mas a queda de interesse parece ligada também a outro detalhe. No começo, as lives surgiram como uma forma de mobilização que unia as pessoas num momento de dúvidas e solidão, era como um conforto poder ouvir seus artistas favoritos, junto da família ou quem quer que estivesse de companhia durante o isolamento. Com o passar do tempo a novidade foi se tornando algo passageiro para quem permanece em casa. Por enquanto, assistir às apresentações ao vivo só está sendo possível nos drive-ins, dentro dos carros, nos estacionamentos dos estabelecimentos que estão aderindo à nova modalidade. Mas, no caso dos shows pela internet, talvez esteja acontecendo o de sempre: quando algo vira moda, acaba saturando e ninguém aguenta mais. (Fonte: Veja e Google Trends)
* Reportagem da estagiária Vitória Nogueira com supervisão de Henrique Amorim
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