Queria

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Só queria tempo para olhar com toda calma para esse azul pintado no céu desses dias. Observar que apesar de todo caos que estamos vivendo, ele continua lá, com uma beleza exuberante. Queria ter como experienciar os dias frios com a intensidade que pude em outros outonos e invernos. Era bom saborear as delícias dessa época com o olhar mais despreocupado.

Queria o tempo para preparar um fondue e a tranquilidade de saber que tudo está bem. Queria o suor do trabalho duro sendo amenizado pelos abraços e encontros no dia a dia do ofício. Queria temperar a saudade do que já foi com a perspectiva de novos momentos que estão por vir, sabendo que dependia de mim promovê-los.

Queria mais tempo para ouvir a passarinhada, o canto dos pássaros que não sabem que o planeta terra está sendo transmutado por um vírus e tudo de ruim que vêm aflorando em muitos seres. Queria esse tempo. Poderia ouvi-los enquanto a mente descansaria e os raios de sol sobre a pele aqueceria o dia frio, aquela sensação gostosa de estar imerso em si, com pitadas de natureza. Enquanto isso, a mente presente, despreocupada, repousaria em paz.

Queria o tempo para contemplar as flores vermelhas que brotaram nas pontas dos galhos da árvore em frente à janela. Coisa linda. Queria poder analisar suas nuances e imaginar como o divino criou tamanha perfeição. Melhor ainda seria se eu pudesse ir até ela, sem máscara, sem medo, sem precisar cumprir o checklist de cuidados ao retornar.

Queria muito além do tempo em meu dia para fazer essas coisas simples. Queria a possibilidade de fazê-lo em paz. Sem o assombro do medo, das mortes, da doença, das preocupações, do descaso, das frases proferidas por políticos que insistem em ecoar e embaraçar nossas mentes e gerar ainda mais tristeza e aflição, refletindo na sensação de estarmos no bonde sem freio. E quem consegue sentir a beleza divina e perceber o céu azul, a passarinhada e as flores que brotam no topo dos galhos secos estando sentado na primeira poltrona do trem desgovernado?

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Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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