Já foi tarde

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Nosso presidente pode ser grosso, de cultura limitada (segundo ele mesmo), intempestivo, mas burro jamais. Um político com quatro mandatos como deputado federal tem traquejo suficiente para entender as nuances da atividade, jamais vai ser suplantado por um aprendiz, pois na realidade esse é o perfil atual de Sérgio Moro. Que não se enganem aqueles que idolatram Sérgio Moro, pois no episódio de sua saída do Ministério da Justiça, literalmente, ele saiu pela porta dos fundos.

Se o seu objetivo era esse, e hoje sabemos de sua intenção, quando se reuniu com o presidente, na véspera, seu papel de homem teria sido comunicar que estava de saída da pasta. Não, covardemente, convocar uma coletiva de imprensa e, ao vivo e a cores, informar sua saída da pasta da Justiça, sem antes falar mal do seu chefe, inclusive chamando-o de mentiroso. Tanto o ato foi premeditado, cinematográfico, que ao terminar informou à nação estarrecida de que iria para casa escrever sua carta de demissão.

A princípio pensei, como muitos o fizeram, que Bolsonaro tinha dado um tiro no pé. Afinal, Moro, juntamente com o ministro da Economia, Paulo Guedes, eram os ministros da república mais em evidência. Mas, como nesse país temos de dar um tempo para digerir os acontecimentos, pouco a pouco a verdadeira face desse imbróglio começou a vir à tona.

Moro foi um juiz nota dez, apesar de seu egocentrismo exacerbado e de uma arrogância impar, mas como político, sua atuação começou de maneira desastrosa. Sim, porque no momento em que renunciou à magistratura e se tornou ministro, abandonou uma carreira de sucesso e abraçou outra de consequências duvidosas. No Brasil é difícil ser um político de peso, reconhecido. Muitos só o são, depois de ou abandonarem a vida pública ou morrerem.

Como ministro jamais lembrou o magistrado, muito pelo contrário deixou muito a desejar. A insubordinação de governadores e prefeitos; os abusos das polícias militares contra cidadãos, durante a quarentena, nos estados comandados por esses governadores; o não mostrar o seu repúdio contra ofensas de membros do STF à figura do presidente; a indicação para sua pasta de pessoas que comungavam na mesma cartilha de adversários do presidente, como llona Szabó e Giselly Siqueira, esta última, nora de Míriam Leitão, conhecida jornalista que abomina Bolsonaro, não resultaram em nenhuma ação do ministro.  Ou seja, considerou a sua escolha como o degrau para a carreira política, mas jamais comungou com os ideais do presidente.

Tanto é assim, que ao admitir ser candidato à presidência da República pelo PSDB, demonstra simpatia pela Sociedade Fabiana, surgida em Londres, em 1883, que pregava a revolução socialista sem derramamento de sangue, com a inserção sutil e gradual de ideias socialistas na cultura. Difunde a destruição da família como alicerce da sociedade burguesa. Essa é a posição do milionário George Soros, mantenedor da Open Society, que defende o aborto, a identidade de gêneros e o desarmamento da população, ou seja, princípios contrários àquilo que pregava Bolsonaro em sua campanha eleitoral. Ilona Szabó é adepta de Soros.

Mas, a gota d´água de sua demissão foi o afastamento do superintendente da Polícia Federal, Maurício Valeixo, seu indicado pelos princípios de carta branca que o presidente lhe deu, abrindo mão de sua prerrogativa constitucional. A Abin já havia informado o presidente de que Valeixo optara pele declaração de incapacidade mental do esfaqueador de Juiz de Fora, mesmo já tendo elementos que sugerissem um desfecho diferente para tal affaire.

O mesmo se deu com a não criminalização de Grenwald, quando este, através de hackers, expôs conversas telefônicas de ministros de estado e do próprio Moro com Dallagnol, seu adjunto, em Curitiba, o que é crime, numa clara tentativa de desestabilizar o governo. E o que é pior, não fazer nada em defesa do presidente, nas manobras de Dória, Maia, Alcolumbre, FHC e Toffoli, que tramam sua derrubada. Ou seja, na realidade nunca se alinhou ao projeto do presidente de livrar o país da velha política do toma lá da cá, rompendo com a politicagem e corrupção que tanto corroeu o país na época de Fernando Henrique, Luís Inácio, Dilma e Temer.

Eu fui adepto de Sérgio Moro, o magistrado, mas confesso que me decepcionei com o Moro cidadão. Num período tão conturbado, em função da pandemia do coronavírus, sua atitude intempestiva não tem explicação. Estivesse preocupado com o Brasil e não com sua biografia, teria postergado sua demissão que era incontornável. Para um ministro que pouco fez, uma semana ou um mês a mais, não faria a mínima diferença. Mandetta, ao contrário, saiu com dignidade, além de médico é um político calejado.

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