O crescimento do Friburguense nos últimos jogos do Grupo X do Campeonato Carioca apenas ampliam a sensação de que o Tricolor poderia ter chegado à fase principal da competição. Matematicamente, o time de Nova Friburgo ficou a apenas uma vitória do objetivo, e teve oportunidades de atingir a pontuação necessária. Na prática, entretanto, alguns fatores externos atrapalharam a concretização do sonho de voltar a figurar entre os maiores clubes do Rio de Janeiro.
Na visão do gerente de futebol do Frizão, José Siqueira, o Siqueirinha, o principal fator foi o lado financeiro. Em entrevista para A VOZ DA SERRA, o dirigente faz uma avaliação do trabalho, desabafa sobre o pouco apoio e revela a atual situação do clube: “Não poderia nem pensar em cair para a Série B1”, sustenta ele.
A VOZ DA SERRA: Pelo nível de equilíbrio da Seletiva, ficou a sensação de que o Friburguense poderia ter avançado até a fase principal do Carioca. Na opinião do clube, porque esse objetivo não foi alcançado?
Siqueira: “Ficamos tristes por não termos conseguido atender às expectativas, não só nossas, como também de toda Nova Friburgo. Depois daquela conquista maravilhosa da Série B1, nós fomos para um torneio de cinco jogos e erramos, basicamente, em um jogo, contra a Portuguesa em casa. É o que faria a diferença no final. Fizemos até um primeiro tempo bom, e se tem um jogo que eu questiono a arbitragem é esse. Se tivesse o VAR, que estava previsto no regulamento, dois pênaltis teriam sido marcados para o Friburguense. Não sabemos ainda porque não houve o árbitro de vídeo na Seletiva.”
Portuguesa e Macaé foram os times que avançaram. Foi justo, na sua opinião?
“Na minha opinião, o Macaé era o adversário mais fraco que nós enfrentamos. No jogo contra eles, foi aquele dia em que a bola não entra. O Macaé caiu um pouco de para-quedas na primeira divisão. Fora de campo nós sabíamos que os atletas não tinham recebido ainda.”
O Friburguense parece ter perdido um pouco daquela pegada da Série B1 no início da Seletiva, algo que vem sendo retomado aos poucos. O clube perdeu relativamente poucos jogadores, e conseguiu manter uma boa base do time campeão. Há algum motivo, na sua avaliação, para essa queda momentânea de rendimento?
“Contra o América e o Americano, nas rodadas finais, o Friburguense já apresentou algo mais. Nós tivemos uma parada de dois meses, e não trabalhamos bem em novembro e dezembro, por conta de problemas com as cotas de televisão. A gente precisava de um adiantamento, e eu fiquei muito focado em arrumar dinheiro. Por isso trabalhamos mal o tempo para estar com o grupo. O lado financeiro interferiu diretamente, e eu busquei em bancos, mas internamente, não teve como ter a assinatura do nosso presidente. Tentei com alguns empresários uma troca de cheque, a própria prefeitura, e a coisa não aconteceu. Isso tudo atrapalhou bastante. Se tem uma coisa que nós conseguimos fazer bem nesses 20 anos é trazer uma harmonia, e eu fiquei um pouco distante.”
Sem a fase principal, as receitas caem muito, mas ainda há uma cota da Seletiva para receber. Como está a questão financeira atual do Friburguense?
“A Seletiva do ano passado nos daria direito, a princípio, a R$ 700 mil de cotas de televisão. Ficamos felizes, porque nós já tínhamos uma dívida de R$ 735 mil. Imaginamos o seguinte: com esse dinheiro poderíamos zerar a dívida total e iniciar um novo trabalho. Nos dois últimos anos a Rede Globo fez o adiantamento em novembro e dezembro para quem joga a Seletiva. Projetamos o trabalho com base nisso, mas as coisas não aconteceram. Agora todo mundo sabe, mas desde novembro vem se buscando uma assinatura de contrato com o Flamengo. E eles pedindo para esperar a Libertadores, depois o Mundial. A coisa não aconteceu, a Globo não antecipou nada aos clubes.”
Então as dívidas aumentaram nesses últimos meses. Há previsão para que essa cota seja repassada ao clube? Como fica a situação se o Flamengo não se acertar com TV e Federação?
“Passaram novembro e dezembro, e nós temos um gasto mensal entre R$ 130 mil e R$ 140 mil. Essa dívida que nós tínhamos já aumentou, e eu posso garantir que, dos R$ 700 mil, devem vir apenas R$ 380 mil. Se o Flamengo não assinar, provavelmente diminui a cota em 50%. Isso aconteceu em 2017 também, quando caímos de divisão. Não teve como solucionar à época, e ainda perdemos o nosso patrocinador master. Naquele ano eu tive que abrir mão de imóveis, mas agora precisamos batalhar, buscar a assinatura do Flamengo para não piorar o lado financeiro.”
Sobre potenciais patrocinadores no município: o Friburguense fez algum contato, tentou algo com alguma empresa?
“Às vezes eu vejo nas redes sociais, até por falta de maturidade e conhecimento do que realmente acontece, as pessoas cobrando algumas ações do clube. Vejo até comentários de pessoas que eu procurei, e que me falaram que se o Friburguense fosse para a fase principal, apoiaria. Tudo ficou muito condicionado ao time atingir essa fase, até por ter a questão da TV. Se o Friburguense avançasse, até havia bastante pretensão de empresários que iriam ajudar. Eu entendo isso perfeitamente.”
Dentro desse contexto de dificuldades, uma queda para a Série B1 seria praticamente fatal para o clube...
“Independente de tudo o que está acontecendo, precisávamos seguir firme nesse momento e ficar na Seletiva. Não poderíamos nem pensar em jogar a Série B1. Começamos essa conversa depois do Macaé, ainda pela Seletiva, quando tivemos um bate-papo de mais de uma hora com algumas cobranças. Tivemos uma grande oportunidade, onde a cota já viria em R$ 1,6 milhão. Com esse valor poderíamos zerar o déficit e sobraria para o trabalho de base. Esse ano o Sub-15, Sub-17 e os juniores jogam a primeira divisão, e é um pouco mais caro. O Sub-20 começa em março e termina em novembro. E ainda tem a Copa Rio em junho.”
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