Você não precisa ser rebocado

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quarta-feira, 22 de maio de 2024

Recentemente, na estrada, ultrapassei um caminhão reboque que tinha uma frase no para-choque traseiro que dizia assim: “Ainda vou te rebocar!”. O que você pensaria ao ler isso num para-choque de caminhão guincho?

O que pensei foi sobre a realidade de que não sabemos o que ocorrerá amanhã em nossa vida. Hoje passei por aquele reboque porque meu carro estava funcionando bem e podia seguir minha viagem. Amanhã, posso estar sendo rebocado por um caminhão-guincho.

Hoje você tem conforto, amanhã pode perder tudo. Hoje você pode estar com um bom emprego e amanhã pode ser demitido. Hoje sua empresa vai bem, amanhã ela pode falir. Hoje você está em casa ou no trabalho, amanhã pode estar internado num hospital. Hoje você está vivo, amanhã pode estar morto.

A vida é frágil, embora nosso corpo tenha uma resistência incrível contra doenças. É preciso muito tempo de transgressão de leis da saúde física e mental para surgir uma doença especialmente grave. De repente uma bala perdida, um motorista bêbado, uma enchente, um assalto... e se perde muita coisa, talvez a própria vida.

Não somos deuses imortais, apesar de que algumas pessoas vivem como se fossem. E isso talvez pelo poder econômico que possuem, ou por causa do poder social ou político que detêm no momento. Mas tudo vai acabar. Vai mudar. Como você enfrentará a mudança? Nem tudo é para sempre. O que vai sobrando precisa ser o mais valioso, que é nosso caráter. Não é o dinheiro no banco, os carros na garagem, os imóveis do seu patrimônio, ou mesmo seu poder social ou político.

Li essa semana um texto que falava sobre a luz da vida. Luz da vida. Num tratamento psicoterápico a meta é ajudar a pessoa a melhorar a luz da percepção de si mesmo, de como ela pensa, sente e se comporta e da fonte de seus conflitos. Assim, obtendo maior visão de si, ela pode tomar decisões mais saudáveis para si e seus relacionamentos. Mas a luz da vida vai além da melhora da autopercepção. Ela caminha para entender o significado da existência pessoal.

Às vezes num rápido momento passa uma iluminação em nossa consciência nos mostrando a necessidade de mudança de rumo. São momentos importantes em que a luz chega. É valioso aproveitar esta iluminação gratuita para corrigirmos erros de conduta, de interpretação da realidade, e talvez de alvo na vida. Esta luz felizmente surge não necessariamente num processo psicoterapêutico profissional porque a vida é terapêutica. A chance de cura é para todos. Quando a luz vem e ilumina nossa consciência, ali está a oportunidade. O que você faz com ela?

Podemos seguir sendo rebocados ou sermos consertados e não mais necessitarmos ser guinchados. Essa luz que ilumina nossa mente, vai e volta, vai e volta, muitas vezes, com muitas chances e através de instrumentos variados. Mas se ela é rejeitada, a luz se torna menor, e a mudança para melhor fica mais limitada.

Seu amanhã poderá melhor não porque chegará mais luz, mas porque a luz de hoje está sendo aproveitada. Muitas vezes eu dizia para meus clientes, apontando a porta de entrada do meu consultório: “O que você vai fazer daquela porta para fora com o que tem aprendido aqui, é o mais importante para sua cura.” Não espere mais informação. Use a que já tem desde que, claro, não seja falsa. Não peça mais luz se a que você já possui precisa ser praticada e ainda não está sendo. A gente muda quando a gente muda. Você não precisa ser rebocado.

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Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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