Superproteção: ajuda ou atrapalha?

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

A superproteção existe quando o pai, a mãe ou ambos limitam muito a liberdade da criança querendo protegê-la de danos ou riscos que podem acontecer. Você pode praticar isto ao ir além do que é necessário para proteger seu filho, confortando e mostrando preocupação com o estado emocional dele onde isso não é necessário porque a criança está mostrando pouca ou nenhuma angústia.

Não fique fazendo por seus filhos o que eles podem fazer. Você arruma a cama deles, limpa o quarto deles, guarda todas as roupas deles, cuida do cachorro deles. E talvez faça isso porque pensa que é mais rápido você fazendo. Mas ensinar os filhos a assumirem responsabilidades é muito importante para a vida deles. E crianças pequenas já podem ajudar em algo.

Seria bom se pudéssemos escolher os amigos de nossos filhos. Não podemos forçá-los a uma amizade só porque os filhos da sua melhor amiga são boas crianças. Claro, as amizades que são prejudiciais como outra criança fisicamente ou mentalmente prejudicando seu filho precisam ser evitadas.

Vamos supor que seu filho quer experimentar o voleibol este ano, mas você sabe que ele é bom no futebol. Ou sua filha quer estar na equipe de matemática com sua melhor amiga, mas você sabe que ela é boa em geografia. Ele ou ela quer ir para um acampamento diferente, em vez do mesmo acampamento dos últimos três anos.

Às vezes, sem pensar, impedimos que nossos filhos se ramifiquem por conta própria. Tudo bem se eles não forem tão bons no voleibol, mas podem tentar. Não importa se o principal motivo para entrar para a equipe de matemática é porque a amiga preferida será companheira de equipe. E se seu filho ou filha quiser ir para um acampamento de verão diferente para explorar algo novo, tudo bem também. Ou seja, deixe que seu filho tome algumas de suas próprias decisões em relação aos seus interesses e atividades. Isso o ajudará a desfrutar da liberdade e se tornar uma pessoa mais independente, que é o que todos desejamos para nossos filhos.

Se você pensa e sente que se não for superprotegida significa que não é amada, corrija este pensamento distorcido. Ser superprotegida não significa ser melhor amada. Se você superprotege, talvez queira ser superprotegida e pode agredir quem não te superprotege por confundir amor maduro com excesso de cuidado.

A superproteção dos pais tem ligação com o desenvolvimento e manutenção de transtornos de ansiedade na infância. Um estudo feito pelos psicólogos Kiri Clarke, Peter Cooper e Cathy Creswella, da Escola de Psicologia e Ciências da Linguagem Clínica, Universidade de Reading, no Reino Unido avaliou mães de 90 crianças, 51 meninos, 39 meninas e sendo 60 clinicamente ansiosas e 30 não ansiosas com idades entre 7 e 12 anos. O objetivo do estudo foi avaliar a superproteção destas mães, suas causas e consequências sobre os filhos. Interessante que o que eles acharam foi que os resultados do estudo sugerem que as respostas ou comportamentos dos pais podem estar mais intimamente relacionadas ao grau de ansiedade dos pais do que da criança.

A superproteção praticada pelos pais, e especificamente a falta de dar autonomia, é a atitude dos pais mais associada aos sintomas e transtornos de ansiedade infantil. Por isso, não adianta levar seu filho num psicólogo para tratar a ansiedade dele, se você é uma pessoa muito ansiosa e não trata este problema em seu próprio comportamento.

Acredite em seu filho ou filha. Dê espaço para ele ou ela se desenvolver. Não cultive a ideia de que superproteção é amar melhor. E vença o pensamento de que se você é superprotegida, então isso significa que é mais amada.

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