Recuperação emocional e espiritualidade

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Quando queremos a recuperação de vícios, impulsos destrutivos, hábitos não saudáveis, compulsões, precisamos evitar tudo o que facilita ou estimula estes comportamentos ruins para nossa saúde física, mental, espiritual e social. Devemos cortar pela raiz tudo o que conduz ao erro, sejam amizades destrutivas, substâncias ligadas ao nosso vício, fantasmas mentais, pensamento e atos corruptos. Estando impregnados quanto ao nosso objeto de dependência ou compulsão, nossas motivações se tornam tão mescladas entre o bom e o mau, entre o saudável e o insalubre, que a liberdade para escolher fica seriamente comprometida. Na hora da tentação nosso sim ou não, ou seja nossa escolha pode fazer toda a diferença.

Mas se realmente pretendemos ter uma capacidade livre para escolher a favor ou contra a verdade, a justiça, contra Deus, as escolhas que fazemos devem ser respostas amáveis ao chamado de Deus em amor, e não porque ele exige de forma ditatorial.

A parte mais dura da recuperação de qualquer compulsão ou vício é que ela requer de nós uma mudança. Podemos pensar na ideia de recuperação, podemos nos sentir inspirados ao ouvirmos ou ler histórias de recuperação, podemos estar convencidos de nossa necessidade de recuperação. Porém, estes e outros processos cognitivos são relativamente fáceis para nós. O desafio é que a prática da recuperação significa mudança, e mudar não é fácil. Tendemos a resistir à mudança. Podemos ficar com raiva e ter vergonha por ter que mudar. E podemos ter medo de não sermos capazes de mudar. Vivemos momentos em que dizemos a nós mesmos: “Não consigo! É difícil demais!”

Porém, mudar é também a parte mais estimulante da recuperação. Não necessitamos viver em escravidão à nossa dependência. Não precisamos fugir com medo nos relacionamentos, nem viver como se fossemos responsáveis pelo mundo. Podemos aprender a ter serenidade. Podemos encontrar liberdade. Podemos experienciar o amor. E pode aliviar se pensarmos que a recuperação não é uma competição.

A mudança é a parte mais difícil e maravilhosa do processo de recuperação. Ela nos coloca numa grande batalha interna a qual não é confortável. Porém, a capacidade de mudar é a chave para nossa esperança. Deus nos tem dado a habilidade para mudar e crescer. Ele nos chama para mudar, nos dá as perspectivas, disciplinas e o encorajamento que precisamos. Ele mesmo atua em nós, na medida em que permitimos e o convidamos, trabalha dentro de nós para nos fortalecer, curar e nos fazer novas criaturas.

Jesus foi tentado pelo diabo no deserto. Ele passou por três tipos de tentações que todos passamos na vida. O diabo esperava que Jesus cairia por se agarrar aos seus apegos ligados à satisfação de seus desejos. Esperava que ele iria se agarrar ao seu próprio poder como divindade, ou se apegaria às riquezas materiais do mundo. Assim como o diabo fez com Adão e Eva no Éden, passando a ideia de que eles poderiam vencer sem Deus, ele tentou Jesus com o mesmo engano.

É fácil pensar que Jesus venceu no deserto pelo que ele era, Deus encarnado. Pensar assim se torna difícil para nós nos identificarmos com ele. Mas ao pensarmos em sua humanidade, ao olharmos para ele como um homem real que tinha fome, sede, cansaço, então a maneira como ele respondeu ao diabo nos ensina muita coisa porque Jesus não usou sua natureza divina para vencer o maligno.

Primeiro, ele ficou firme, enfrentou a tentação. Segundo, ele agiu com força usando seu livre arbítrio com dignidade. Terceiro, ele não usou sua liberdade impulsivamente e nem respondeu ao diabo em seu conhecimento como divindade. Ele dependeu da palavra de Deus. Suas respostas foram citações da Bíblia daquela época, o Antigo Testamento.

Vícios, dependências, compulsões podem não ser vencidas pela vontade humana em si, nem por optar por entregar tudo à vontade divina. Ao invés disso, o poder da graça flui mais completamente quando a vontade humana escolhe agir em harmonia com a vontade divina. Isto significa estar disposto a confrontar a situação como ela é, permanecer responsável pelas escolhas que fazemos em resposta às tentações, mas ao mesmo tempo nos voltarmos à graça, proteção e guia de Deus como fundamento para nossas escolhas e comportamento.

Pode ocorrer que na medida em que as tentações antigas diminuem em nossa recuperação, podem existir a tendência de reconstruir nossa vontade própria e nossa centralização no eu, fazer do nosso jeito. Na oração do Pai Nosso há uma parte que diz: “Não nos deixe cair em tentação” justamente porque existe o perigo de escorregarmos e cair. Precisamos viver num mundo cheio de estresse, assim não devemos fugir ou nos esconder, mas procurar a ajuda que precisamos, pedindo a Deus para nos dar uma saída de circunstâncias as quais ainda não estamos hábeis para lidar com elas. Fonte: Recovery Devotional Bible, Zondervan, 1993.

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