Pensamentos intrusivos

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Pensamentos intrusivos são os que surgem em sua mente sem você decidir pensar neles. Eles aparecem espontaneamente em sua consciência, inundando sua mente com conteúdo ou imagens perturbadoras. Ocorre com todos nós em alguns momentos da vida. Eles surgem meio que do nada. Algumas vezes podem ser ligados a fazermos algo perigoso, ou socialmente impróprio. Podem surgir alguns pensamentos muito estranhos, como beijar um estranho na rua, ou falar um palavrão dentro de uma igreja, ou ainda bater com seu carro no carro da frente parado no semáforo.

Muitos podem se sentir inferiorizados por terem estes pensamentos intrusivos que geram culpa, vergonha e ansiedade. Eles ficam confusos e se preocupam sobre se são o que estes pensamentos revelam e sentem que se familiares ou amigos souberem o que se passa na cabeça deles ao surgirem estes pensamentos indesejados, eles os rejeitarão.

Nos casos em que as pessoas têm pensamentos intrusos frequentes e duradouros, surge ansiedade e dúvida, porque elas pensam: “Será que isso sou eu mesmo?” Se angustiam, sentem vergonha e podem se isolar socialmente, tendo constrangimento de tocar no assunto.

Não se sabe exatamente o que produz os pensamentos intrusivos. Alguns estudos mostram que parece haver uma menor produção de um neurotransmissor chamado Gaba, ácido gama amino butírico, que ajudam a suprimir pensamentos indesejados.

Se você tem tido pensamentos intrusivos é importante pensar que você não precisa ver cada pensamento intrusivo como um sinal ou aviso de algo. Eles podem ser um defeito de circuitos cerebrais semelhante ao seu computador que começa a apresentar problemas, por exemplo, não funcionando alguma tecla de alguma letra.

Existem transtornos mentais que possuem pensamentos intrusivos no quadro clínico, como o TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo). Alguns indivíduos com este sofrimento mental têm a predominância de pensamentos obsessivos, que são os pensamentos intrusivos, ou seja, eles vêm à mente de forma involuntária, tipo “estou com as mãos sujas”, e isto fica repetindo tanto na mente, criando incômodo que a pessoa sente que precisa lavar as mãos várias vezes por causa deste pensamento que continua perturbando. Então, este pensamento obsessivo, “estou com as mãos sujas” parece que só é aliviado quando a pessoa faz o que ele manda. Por isso, ela lava as mãos várias vezes ao dia, de forma exagerada, justamente porque quando faz isso, parece que a ansiedade diminui. Então, a obsessão é o pensamento intrusivo, e a compulsão é o ato repetitivo.

Outras doenças que podem ter pensamentos intrusivos são: ansiedade generalizada, estresse pós-traumático, fobias, depressão pós-parto, transtorno bipolar, distúrbios alimentares como a anorexia nervosa, entre outros. Uma coisa que ajuda a pessoa com pensamentos intrusivos é pensar que eles não têm valor moral. Por isso, o mais importante para obter alívio não é tentar eliminar estes pensamentos, mas começar a considerar que eles não são a pessoa, não são o que você é, não indicam que você seja uma pessoa má. Então, você pode mudar sua maneira de avaliar como pensa sobre seus pensamentos intrusivos. Ao invés de fugir deles, encare-os e diga para si: “Estes pensamentos não são o que eu sou, não refletem meu comportamento moral, religioso, eles são resultado de circuitos defeituosos em meu cérebro. Portanto, não vou dar bola para eles.” Ter esta atitude mental significa exercer autocompaixão em vez de auto-recriminação.

Mas se ter pensamentos intrusivos tem feito com que você, ou alguém que você conheça, se torne muito ansioso, com muitos sentimentos de culpa e vergonha que leva ao afastamento social, procure ajuda psicológica com um psicólogo e um  psiquiatra, pois eles o ajudarão, com psicoterapia e possivelmente com medicação para uso temporário.

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