O que conseguimos perceber nas relações familiares

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Às vezes as crianças em casa têm um comportamento que irrita os pais. Pode ser demorar a comer, deixar brinquedos desarrumados na sala ou no quarto, demorar a ir tomar banho mesmo depois de terem sido mandadas várias vezes tendo a criança idade suficiente para entender a ordem e obedecer. Isso é normal até certo ponto e acontece nas melhores famílias.

As crianças não nascem disciplinadas. É papel dos pais ensiná-las a desenvolverem ao longo da infância o autocontrole emocional. Não disciplinar adequadamente um filho pode significar negligência, ou seja, deixá-lo de lado. Crianças deixadas de lado, assim como as que são criadas por cuidadores controladores, sofrem e podem vir a ter transtornos mentais posteriormente ou mesmo na infância.

Vivemos no dia a dia mergulhados em nossas atividades familiares e de trabalho de uma forma que, em geral, não temos percepção de nosso próprio comportamento. Vamos vivendo no automático, sem parar aqui e ali para uma auto-observação. Parar para dar uma olhada e refletir sobre nosso comportamento na família exige tempo, paciência, honestidade e desejo de amadurecer para melhorar nossos relacionamentos. Isto é diferente de achar que já sabemos de tudo e que não temos nenhuma área de nosso comportamento que precisa aprimoramento. Não existem pessoas sem necessidade de melhorar seu comportamento. Sempre existe um ou outro aspecto de como funcionamos como pessoa que precisa ajuste, cura.

A falta de observação de como agimos com nossos familiares, especialmente em nossa família nuclear atual (pai, mãe e filhos), pode produzir uma série de distúrbios e sofrimentos neste relacionamento tão importante. Podemos praticar atitudes incoerentes, podemos cobrar do outro aquilo que não fazemos, ou podemos fazer o que insistimos que os outros não façam, sejam cônjuge ou filhos.

A coerência em nossas atitudes ajuda o bem-estar familiar. Mas para ter coerência precisamos desta auto observação para entender por que, onde, como, quando e de que maneira manifestamos incoerência. Sem isso, não podemos contribuir para a saúde mental da família do que depende de nós.

Por exemplo, vamos supor que você, pai ou mãe, seja uma pessoa não pontual e com isso costuma chegar atrasado em seus compromissos. Apesar dessa dificuldade sua, você pode se irritar com frequência com seu filho porque ele pode demorar a se preparar para ir à escola e chegar atrasado. Neste exemplo, você cobra com impaciência a pontualidade do filho, mas não considera sua tendência de ser impontual. Este é um exemplo de falta de autopercepção.

Outro exemplo, aliás muito comum nas famílias com acesso à tecnologia, é o uso do celular. Como pai e mãe você pode estar viciado no uso de celular e reclama que o filho quer ficar com este aparelho muito tempo. Importante lembrarmos que os filhos copiam os papéis dos pais, bons e ruins. Portanto, é incoerente cobrar de um filho um comportamento que nós mesmos não o praticamos bem.

Se como pai ou mãe exijo de meu filho uma atitude que eu mesmo não faço, isso é injusto, pode criar revolta na criança ou no jovem, ou pode gerar confusão na cabecinha dele.

Se lutarmos, como pai e mãe para melhorar nossa autoconsciência, se formos honestos ao observar que podemos dar exemplos ruins e ter atitudes contraditórias com nossos filhos e outras pessoas, isso facilitará a melhora dos relacionamentos. Poderemos amadurecer como indivíduos o que irá favorecer a qualidade de nossa vida, dentro e fora de nós.

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Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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