Masculinidade Tóxica

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Talita Castelão é uma psicóloga doutora em ciências, conhecida minha e publicou um artigo com este título “Masculinidade Tóxica”. Vou compartilhar com você algumas ideias dela e as que tenho também sobre este assunto.

Quando você pensa em características comportamentais de um homem, o que lhe vem à mente? O mais comum é pensar que homem é forte sempre, nunca chora, não mostra sentimentos, só pensa em sexo, trabalho e futebol. Este perfil masculino não indica a normalidade, e faz parte do conceito de masculinidade tóxica. Em muitas culturas é passada essa ideia de homem para crianças e os meninos podem crescer com estas crenças, e que tem que transar na adolescência, não levar desaforo para casa, tudo uma bobagem sem fundamento científico.

A mídia divulga muitas notícias sobre machismo e seus efeitos negativos, especialmente tendo mulheres como vítimas. Mas vamos pensar no outro lado da questão que é o fato de homens sofrerem também, tanto por serem pressionados a terem um padrão de comportamento macho pré-determinado, quanto pela dificuldade que podem ter de expressar seu sofrimento e receberem apoio por pessoas e entidades que reconhecem os sofrimentos masculinos.

Já comentei em outro artigo que não conheço nenhum lugar onde exista uma Delegacia dos Homens. Você conhece? A verdade é que, mesmo sendo em número muito menor, existem mulheres agressivas que ferem fisicamente, agridem gravemente e matam homens. Afinal, por que existem penitenciárias femininas?

Também é mais comum a mulher buscar ajuda médica para questões clínicas, do que o homem. E é mais fácil a mulher procurar ajuda psicológica para problemas de casamento do que o homem. As causas destas diferenças não estão baseadas no fato de homens não terem sofrimentos, mas porque eles se sentem fracos em admitir que têm dores emocionais porque a cultura criou este conceito de homem forte não chorar, não ter medo, e por aí vai. Isto se torna um peso para o homem e prejudica a busca de ajuda que ele precisa e que está disponível.

Ainda se valoriza a masculinidade baseada na violência, na brutalidade, e a feminilidade na expressão de sentimentos, empatia, sensibilidade. Entretanto, existe violência praticada por mulheres e homens normais, sensíveis afetivamente. É lamentável que homens e mulheres ainda pensem assim, que homem tem que ser bruto e mulher tem que ser frágil.

Homens querendo viver a masculinidade tóxica acabam perdendo a vida porque entram em brigas para provar que são machos, não procuram médicos e acabam tendo câncer de próstata, causam acidentes graves de trânsito por exibição orgulhosa no dirigir, talvez para impressionar as garotas e/ou competir com colegas, entram nas drogas para se enturmarem etc.

O relatório “Masculinidades e saúde na região das Américas”, divulgado pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde no fim de 2019, revelou coisas assustadoras como, nas Américas, um em cada cinco homens morre antes dos 50 anos de idade por causas ligadas à masculinidade tóxica. 

Faz parte deste conceito de masculinidade tóxica a ideia de que se o homem divide tarefas domésticas, faz compras de supermercado, ajuda a cuidar do bebê, ele é tido como um bobo e dominado pela esposa, como se fosse algo depreciativo ele praticar estas ajudas em sua família.

A verdade na vida é que homens e mulheres têm pontos fortes e pontos fracos em sua personalidade, ambos precisam de ajuda em alguns momentos de sofrimentos e isto não é fraqueza, é humanidade. Homem também precisa de apoio, acolhimento, suporte emocional. Isto é o normal. Não existem super-homens.

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